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Fotografia: Maria Bicker
Publicado a: 22/10/2025

Três grupos de jovens em Lisboa, Braga e Viseu participam nesta iniciativa colaborativa.

Beatriz Pessoa sobre o programa Três Tempos com Xullaji: “Temos ambos uma paixão e um interesse pela língua”

Fotografia: Maria Bicker
Publicado a: 22/10/2025

Depois de uma edição com Capicua e Luís Montenegro, o programa Três Tempos, da Culturgest (Lisboa) em co-produção com o Teatro Viriato (Viseu) e o Theatro Circo (Braga), está de volta com uma dupla inédita formada por Xullaji e Beatriz Pessoa.

Os dois músicos vão acompanhar grupos de jovens em cada cidade, com e sem experiência nesta área, entre os 15 e os 18 anos, para um projecto de criação colaborativa, de espírito participativo e fora do ambiente escolar. O objectivo passa por promover a escrita e a reflexão, debater ideias, pesquisar referências, transformar visões em textos de cariz intervencionista e tornar poemas em canções, mantendo a preponderância da palavra. Nestas sessões intensivas, espera-se que se utilizem instrumentos acústicos e ferramentas de música electrónica, cruzando o rap, a spoken-word e o desenho de som.

A actividade prolonga-se entre Novembro de 2025 e Maio de 2026, com encontros semanais ou quinzenais, sendo que irá culminar com um espectáculo na Culturgest. As inscrições estão disponíveis online até 27 de Outubro.

Em declarações ao Rimas e Batidas, Beatriz Pessoa mostra-se profundamente “contente” com o convite da Culturgest e de Xullaji. “Eu já conhecia o projecto, lembro-me de que no ano passado foi com a Capicua, vi alguns posts e interessou-me. Também gosto de trabalhar na área de serviço educativo, portanto fiquei super entusiasmada. Ainda por cima tenho um parceiro super fixe, ainda não o conheci pessoalmente mas é uma pessoa marcante na nossa música e cultura, por isso estou muito entusiasmada para iniciar o trabalho e conhecer os miúdos.”

Apesar de ser autora de uma música bastante diferente daquela que Xullaji faz, acredita que têm em comum o trabalho com a língua. “Acho que temos os dois essa paixão e esse interesse pela língua, pela fonética, pela construção frásica, pela poesia.”

Beatriz Pessoa conta que o objectivo é não haver um programa totalmente fechado e pré-estabelecido, para que o Três Tempos possa adaptar-se às características dos participantes. “Acho que a própria estruturação do projecto vai depender muito do que eles procuram, que instrumentos tocam… É para chegarmos e começarmos a trabalhar com o que temos e irmos atrás do trabalho do Xullaji, que é um pouco a premissa do projecto, mas também como é que podemos trazer algo desta nova geração ao trabalho e à música dele. O meu trabalho é de uma presença mais estável e depois o Xullaji estará com eles em determinadas sessões, que serão mais longas. E vamos apresentando coisas e ele vai dando feedback. Ainda está tudo numa fase embrionária. Mas é um espaço que lhes dá acesso a trabalharem com artistas e esperemos que gostem do nosso trabalho. É muito difícil, em geral, terem um espaço totalmente livre para criar e um palco, sobretudo o da Culturgest, que é incrível, por onde circulam muitas coisas interessantes e que se calhar estão mais fora do circuito a que um miúdo entre os 15 e os 18 anos tem acesso. É muito difícil terem esta experiência e espero poder ajudá-los a navegar o melhor possível por ela.”

Beatriz Pessoa, que dá aulas de música desde os 17 anos, argumenta que estes projectos formativos de maior longevidade e com outro tipo de ambições acabam por se tornar mais estimulantes. “Continuo a gostar de dar aulas e torna-se importante, mesmo financeiramente, para complementar a minha vida artística enquanto performer. Mas estes projectos, claro, são muito mais interessantes. Primeiro, porque há um produto que é apresentado, ou seja, culmina num espectáculo e eu acho que isso traz sempre muito mais entusiasmo a um grupo de miúdos. Dá mais peso e responsabilidade, mas também mais entusiasmo. E serão sempre projectos que também me entusiasmam a mim, especialmente se couberem entre lançamentos, porque a minha prioridade continua a ser a minha carreira e os meus concertos, mas sempre que der para articular, tenho todo o interesse.”

A artista conta que a participação nestes projectos também inspira as suas próprias criações como autora. “Acabo sempre por sentir que retiro imensas coisas deles, ou seja, também aprendo imenso. Porque é um privilégio quando trabalhamos com malta destas idades, em que tudo é tão novo e há um entusiasmo característico, e também uma revolta que por vezes sinto que se desvanece a idade também nos tira um bocado a esperança e a vontade de lutar e de fazer diferente. Por isso acho sempre inspirador estar perto dessa fase da vida em que os horizontes parecem infinitos e em que não há responsabilidades, isso tem uma crueza que acho super bonito e inspirador”, explica. “Mesmo para o meu trabalho enquanto compositora para o meu projecto artístico, gosto sempre de ir beber a estas ideias e a estes projectos. Então também há um lado meu que está muito entusiasmado por causa disso, porque vou passar imenso tempo com miúdos que vão ter, certamente, imensas coisas novas que eu não vou saber e que também me poderão ensinar.”


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