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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 23/02/2021

A tape é a prova do crime.

Barba Negra: “Gosto muito da magia dos loops. Pegar neles e transformá-los num pequeno mantra”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 23/02/2021

Barba Negra, o Terrível Ladrão de Loops, aka MC Ralph, afiliado da Colméia Golden Era, Sociedade dos Poetas Livres, Sete Montanhas, acaba de lançar LOOPTAPE vol. 1, trabalho de corte e colagem de sólida inspiração que resulta como a banda sonora de um delirante e imaginário filme, uma ode à cultura sampladélica que busca inspiração nos caminhos musicais que colectivos como a Griselda ou MCs como Roc Marciano vão trilhando.

O produtor, que está sediado em São Paulo, contribuiu para o mais recente trabalho de Marcelo D2, Assim Tocam Meus Tambores, com o beat da faixa “Magrela87”. Essa mesma faixa surge na sua versão instrumental, reintitulada “Um Sonho”, como um dos momentos desta beat tape agora lançada, com vozes adicionais da lenda Raúl Seixas, “o grande maluco beleza da música brasileira”, como Barba Negra o descreve. O próprio Marcelo D2 tem um cameo em LOOPTAPE vol. 1: é a sua voz que se escuta em “Griselda Merrmo”, expressão de que o MC carioca se socorreu para reagir ao beat que Barba Negra lhe propôs para o seu mais recente trabalho.

Em conversa mantida através de DMs no Instagram e por e-mail, o produtor e MC brasileiro antecipa novos trabalhos, fala da sua passagem por Portugal e analisa com detalhe esta sua mais recente proposta, criada durante o isolamento pandémico e por isso mesmo altamente fantasiosa e lúdica.



Pode começar por explicar o conceito desta Looptape Vol.1?

A ideia foi compartilhar os vários recortes que tenho feito nos discos que ouço (grande parte durante o momento mais intenso da quarentena). Gosto muito dessa magia dos loops. Pegar um pequeno trecho e transformar aquilo num pequeno mantra. E gosto muito dessa linguagem das mixtapes. Ouço muito as paradas ali dos anos 90 do Stretch Armstrong com o Bobbito. Sou fanático por aqueles lançamentos Medicine Show do Madlib. Aqui no Brasil temos mixtapes excelentes de música brasileira do DJ Nuts, do DJ Sleep, etc. Então eu busquei compartilhar os instrumentais que faço… dentro dessa atmosfera da tape. Faixas curtas, com bastante colagem, uma faixa conversando com a outra. 

Já há mais volumes planeados? Igualmente temáticos? 

Primeiro pretendo lançar alguns raps de MCs que admiro em cima dos loops que tenho “roubado”. Esse primeiro semestre deve sair alguns raps que produzi com o Mahal, Aori, Mistah Jordan, AXL, Sociedade dos Poetas Livres… mas paralelo a isso já estou recortando e guardando coisas para um Vol.2 da LOOPTAPE

Passou algum tempo em Portugal: algum dos loops usados neste projecto resulta de alguma compra ou descoberta feita em Portugal?

Estive em Portugal em Maio de 2019. Foi uma experiência incrível. Mas atuei mais como selectah (tocando discos brasileiros e rap underground em algumas casas de Lisboa e Guimarães) e como MC. Gravei uma com a Muleca XIII em uma batida do Gomz. Gravei e lancei um clipe com o meu grande amigo Dirty Bungalow. Garimpei o que pude pelas lojas e feiras de discos; mas a diferença entre euro e real (moeda brasileira) infelizmente não me incentivou a comprar muita coisa em Portugal. Nessa LOOPTAPE grande parte dos loops vieram de discos e compactos que peguei em um malote durante a pandemia.

A Griselda é uma inspiração, como se percebe. Que acredita que esse colectivo trouxe ou devolveu ao hip hop no presente?

Eu gosto muito das paradas da Griselda, principalmente quando eles usam estes instrumentais com o sample em destaque. Essa linguagem mais “drumless”. Sem muito drum kit. Sem muita presença dos kicks, hi hats, snare… Gosto de sentir o flow do MC em cima dessas batidas. Então, meus momentos preferidos da Griselda é quando eles vêm com a produção do Alchemist, do DJ Muggs, etc. Também gosto muito das bases do Conductor Williams. No disco do Westside Gunn a minha favorita é aquela “Frank Murphy”. Aquele beat torto. Aquele mantra esquisito. Acho aquilo genial. Uma faixa enorme. Mais de oito minutos. Com vários MCs de qualidade lírica versando em cima de um instrumental sujo. Isso eu acho foda na Griselda. Essa coragem de fazer rap sujo! Meio que um foda-se pra indústria.

Como se encontra a cena em São Paulo nesta altura, tendo em conta toda a questão da pandemia?

A pandemia abalou muito quem trabalha com música, arte… cultura em geral. Tá tudo muito virtual. Muitas lives. Pouca vida. Mas é o que o momento do planeta pede. É preciso respeitar. Pelo bem estar. Pela saúde pública. Infelizmente, não é o momento de estarmos na rua. E estar na rua sempre foi o que fez sentido para nós da cultura hip hop. O lado bom disso tudo, pelo menos para mim, é que acabei mergulhando forte nas audições de música. Os discos salvaram o meu dia a dia. E esse tempo “dentro da caverna” deu um novo despertar pra muita criação boa.

Esta Looptape tem uma duração muito curta, mas soa quase como a banda sonora de uma curta-metragem. Que “filme” é esse que projectou na sua imaginação?

Que legal que você teve essa sacada! É bem isso. É como se fosse uma trilha sonora para um filme/seriado. É o filme do Barba Negra, né !?! rsrsrsrs O Terrível Ladrão de Loops! É um episódio da saga desse pirata. Atrás dos tesouros musicais, roubando as jóias da coroa, lapidando os diamantes sonoros. Mas é um pirata dos mares intergaláticos também. Tem um pouco de Star Trek nessa viagem. 

Para lá da Griselda, quem tem feito música actualmente que o inspire e desafie?

Madlib sempre. Alchemist sempre. Ouço muito Roc Marciano (meu MC favorito), Evidence, Planet Asia! Aquele disco do Planet Asia com o Apollo Brown, por exemplo, é uma masterpiece do rap pra mim. E fora do RAP, muita música brasileira. Rock psicodélico, grooves, samba-jazz…

Da sua passagem por Portugal resultaram mais projectos que possamos ouvir no futuro?

Está para sair um som meu com Bdjoy e Freddy Locks. Eu como MC! (minha função primordial na cultura). E fora isso, pretendo fazer algo novo com Dirty Bungalow. Muita saudade desse amigo! E gostaria de trabalhar com o Bambino! (Adoro as batidas e o estilo sujo daquele cara).


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