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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 18/06/2025

1996 reimaginado.

Bang on a Can All-Stars: “Queremos respeitar absolutamente o trabalho de Sakamoto, mas também trazer as nossas próprias ideias”

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 18/06/2025

Fundada em Nova Iorque nos anos ’80 por David Lang, Julia Wolfe e Michael Gordon, a organização Bang on a Can serviu de base para a criação do ensemble Bang on a Can All-Stars, que surgiu na década seguinte e que desde então tem funcionado como uma espécie de laboratório sónico ambulante, onde a música contemporânea ganha músculo eléctrico e pulmões de câmara.

Camaleónico por natureza — desafiando convenções sonoras ao atravessar com destreza os universos do rock, da música clássica ou da electrónica —, o grupo passa por Portugal para um par de datas em que recuperará a música de 1996, álbum icónico do malogrado teclista e compositor japonês Ryuichi Sakamoto. A interpretar temas como o eterno “Merry Christmas, Mr. Lawrence”, incluído na banda sonora do filme de 1983 com o mesmo título, vão estar cinco virtuosos músicos nos palcos do Theatro Circo (20 de Junho, em Braga) e do Centro Cultural Olga Cadaval (22 de Junho, em Sintra).

Vicky Chow (piano), David Cossin (percussão), Arlen Hlusko (violoncelo), Mark Stewart (guitarras) e Ken Thomson (clarinete) formam o quinteto Bang on a Can All-Stars nesta nova aventura por terras lusas. Thomson, que também é o responsável pelos novos arranjos aplicados às composições de Sakamoto, antecipou os concertos com a redacção do Rimas e Batidas.



Lembra-se de quando veio a Portugal em 2007 com um repertório duplo? “The New Yorkers”, que contou com nomes da vanguarda de Nova Iorque como Tan Dun, Michael Gordon, Julia Wolfe, Don Byron, David Lang e Thurston Moore, e ainda Music for Airports de Brian Eno. Não se consideram parte dessa mesma vanguarda?

Lembro-me muito bem de ter vindo ao Porto em 2007. Ainda não era membro da banda mas estava a tocar clarinete com o grupo para alguns concertos. O concerto foi memorável para nós. Desde então que estou à espera de voltar ao Porto! E bem, sim, esse programa continha compositores muito próximos de nós… desde os nossos diretores artísticos Michael Gordon, David Lang e Julia Wolfe a outros compositores com quem temos uma longa história. E penso que o projecto “Music for Airports” do Brian Eno é, em muitos aspectos, o precursor deste projeto do Ryuichi Sakamoto.

Agora está de volta com um programa em torno de um dos maiores ícones da música contemporânea — Ryuichi Sakamoto, justamente. Pode falar-nos da escolha deste programa? Todo o concerto é centrado no álbum 1996, certo? Como é que se sente em relação a esta música passados quase 30 anos? E em 1996, que música estava a tocar o Bang on a Can All Stars?

Em 1996 eu estava na universidade, por isso, embora conhecesse os Bang on a Can All-Stars, não estava envolvido nessa altura. Em 2025, somos uma banda multigeracional e alguns de nós mal tinham nascido em 1996. Eu próprio, nessa altura, estava completamente envolvido no jazz… Em muitos aspectos, 1996 é um disco de “grandes êxitos”, tal como determinado pelo próprio Sakamoto, ao decidir quais das suas obras importantes iria arranjar para trio de piano. E estas ainda são peças que muitos conhecem bem. Podemos dizer, nas nossas actuações deste programa, que a sua música continua a ter uma ressonância incrível — e também se pode ver isso na efusão mundial de homenagens após a sua morte em 2023. Sentimos que esta música é absolutamente fresca; e como estamos a executar novos arranjos, esta música é absolutamente actual para nós — escrita para nós, e trazendo uma perspectiva contemporânea.

1996 é um álbum que é o resultado de compilações de bandas sonoras como O Último Imperador, Babel ou Saltos Altos de Pedro Amodovar. Música com muitas imagens. Como será a parte visual do vosso concerto? Vamos criar imagens a partir da vossa música num ecrã imaginado?

Achamos que a música é suficiente. Após o lançamento de 1996, Sakamoto fez uma digressão com o seu trio de piano — tocando em locais muito grandes com um cenário muito despojado e sem vídeo. A sua mensagem era a mesma — que estas obras se mantêm por si só como música de câmara.

Há um excelente trabalho seu na assinatura de todos os arranjos da vossa versão dos temas de Sakamoto. Pode falar um pouco sobre o refinamento desses temas?

O meu objectivo era respeitar absolutamente o trabalho de Sakamoto — transcrevendo meticulosamente as suas harmonias e, muitas vezes, fazendo eco das suas ideias de arranjos em 1996 —, mas também trazer as nossas próprias ideias para a música.

Até que ponto aceitam a ideia de que estão para Nova Iorque e para a Costa Leste — neste campo dos grandes intérpretes de compositores contemporâneos — o mesmo que o Kronos Quartet está para São Francisco e para a Costa Oeste? São duas grandes referências que vão na mesma direção?

Temos uma óptima relação com o Kronos Quartet. Já colaborámos e actuámos juntos. Eles já actuaram muitas vezes no festival Bang on a Can. Quando actuámos perto de São Francisco, no Inverno, estava lá o David Harrington. Acho que se pode dizer que sim — não sei se estamos a ir na mesma direção, mas estamos ambos muito abertos à música de todo o mundo e de muitas tradições, e estamos empenhados em continuar a explorá-la.


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