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Fotografia: Adriana Roslin
Publicado a: 23/10/2019

Depois da passagem pela edição de 2018 do NOS Primavera Sound, no Porto, a cantora catalã regressa a Portugal para actuar no Jameson Urban Routes, em Lisboa.

Bad Gyal: “Este é o nosso momento para provar que qualquer pessoa pode gostar de música em espanhol”

Fotografia: Adriana Roslin
Publicado a: 23/10/2019

Quando Alba Farelo tinha 19 anos ouviu, pela primeira vez, “Work” de Rihanna e tudo começou a fazer sentido: as mesclas culturais, os saltos alternados entre o patoá jamaicano e o inglês, as revibrações cálidas e a nostalgia de uma época em que ainda não era nascida. Este momento foi crucial e desenhou o que iria fazer com a sua vida. Pouco tempo depois, lançou “Pai”, uma adaptação do tema da autora de ANTI, mas que mostra ao mesmo tempo a unicidade e a postura da catalã, tornando-a rapidamente numa das vozes mais promissoras que o continente europeu tem para oferecer em música latina.

O processo é fácil sempre que é posto em escrita, mas na realidade é moroso encontrar alguém com tanta determinação como Bad Gyal. A sua música segue então o mesmo caminho: a sua força advém da forma abrasiva como se expõe. Inicialmente refugiou-se em produções mais austeras e simplistas, mas que passavam a sua mensagem de maneira clara. Depois surgiu “Jacaranda”, e a ambição por algo maior e mais concreto levou-a a fazer algo mais conciso. E assim, depois da mixtape Slow Wine, lançada em 2016, nasceu Worldwide Angel, o primeiro disco a solo. Nas mãos de El Guincho, Farelo tornou-se “internacional” – apesar da mesma não se ver assim. Passou por festivais da América do Norte ao Japão, correndo ainda alguns recintos especiais na Europa. Nesta linhagem, músicas como “Candela”, “Yo Sigo Iual”, “Nicest Cocky” e “Blink” ganharam forma e conteúdo: passaram de pequenas melodias feitas no apertado município de Vilassar de Mar a êxitos de encher uma discoteca. Há aqui uma óbvia junção de culturas, de espíritos, de temáticas linguísticas, mas também de padrões geracionais; há sempre um pouco disto e daquilo quando se ouve Gyal e é esta imprevisibilidade e esta mania de adivinhar o que vem a seguir que a torna tão peculiar. Mas, tal como Rihanna, ela não é de meias medidas e, agora com 22 anos, está preparada para tomar a música latina de assalto. No dia 25 de Outubro, no Jameson Urban Routes, quando o relógio rondar a meia-noite, Portugal será o próximo alvo.
 

A tua música tem ganho atenção por parte de público dos quatro cantos do mundo. No entanto, cada vez que actuas na Catalunha, é sempre um grande evento. Vês-te já como uma artista internacional?

Ainda não me vejo como uma artista internacional. Sinto que ainda tenho muito trabalho pela frente e muita coisa para provar se quero chegar a essa posição. Mas tenho esperança. Se continuar a trabalhar como faço, penso que poderei chegar lá, mas há tempo. Eu adoro actuar na minha cidade e no meu país, porque eu sei que eles gostam de me receber e de me ouvir. Quererei actuar lá sempre que tiver oportunidade. A minha música está a tornar-se mais internacional a cada dia, e espero que continue assim.

Com nomes como o teu a surgirem cada vez mais associados a um estilo como o reggaeton, estará na altura das mulheres tomarem conta do género?

Não diria propriamente que nós, mulheres, estamos a tomar conta do género; diria antes que está a ser mais justo. Todos fazemos música, por isso devemos ter o mesmo número de mulheres e o mesmo número de homens. Somos todos sujeitos para o mesmo tipo de mercado. Há mais mulheres agora a pegarem no reggaeton, o que faz com que se torne mais justo.

Mas tendo mais mulheres ou homens, a música latina tem recebido imensa mediatização, quebrando barreiras linguísticas. Que tipo de visibilidade dá a estes artistas que cantam espanhol em países de língua inglesa?

Estamos, sem dúvida, num momento especial para artistas latinos fazerem concertos em todas as partes do mundo, não estando limitados a países cuja língua principal é a inglesa. Lembro-me da minha tournée pela Ásia, foi um momento muito especial para mim: tinha pessoas que não sabiam falar espanhol, que não percebiam as minhas letras, mas que tinham apanhado a melodia e acompanhavam-na. Acima de tudo, estavam a divertir-se e penso que isso é o mais importante. Penso que nós, artistas latinos, temos de tirar o máximo proveito disso. Este é o nosso momento para provar que qualquer pessoa pode gostar de música em espanhol.

Ainda assim, misturas inglês e espanhol nas tuas letras. “Nicest Cocky”, por exemplo, tem uma sonoridade internacional e mais mainstream. É importante para ti cantar em espanhol, mas ao mesmo tempo atraíres uma audiência de vários sítios?

Eu gosto de escrever e cantar em inglês e penso que é algo que não posso muito evitar: eu oiço imensa música em inglês e alguns dos meus artistas favoritos cantam em inglês. Não é uma questão de soar mainstream; é mais porque este tipo de música continua a influenciar-me e é por isso que escolho cantar em inglês e espanhol.

Numa entrevista que deste à revista FADER, disseste que a tua música “não é algo político”. No entanto, grande parte das tuas letras referem-se a cenários político-sociais e falam sobre empoderamento feminino. Achas que inevitavelmente os dois aspectos acabam por se juntar?

É uma coisa natural. Eu sou uma mulher e faço questão de me sentir poderosa e emancipada com tudo o que faço. Fico contente se conseguir projectar isso em alguém, mas não o faço de propósito, daí ter dito que a minha música não era algo político.

Se olharmos para o estado actual da Catalunha e toda a instabilidade política vivida este ano, achas que tal situação influenciou a arte e a cultura da região – especialmente nesta geração mais jovem?

Sinto que cada artista toma isso como algo único e cada um está a fazer algo diferente. Mas tenho de dizer que o centro urbanístico e cultural em Barcelona não é assim muito político; é mais sobre uma certa noção de lifestyle e partilhares as tuas próprias experiências. É verdade que a situação está a afectar as nossas vidas independentemente dos ideais políticos de cada um, mas, a nível da arte, tentamos afastarmo-nos o máximo que conseguimos dessa realidade.

Lançaste Worldwide Angel o ano passado, que acabou por te levar a vários sítios. Tendo em consideração essa tua experiência, o que pode Portugal esperar de um típico concerto da Bad Gyal?

O que se pode esperar de um concerto meu? Fácil, muita diversão, muita dança. Gosto de fazer com que as pessoas pensem que estão numa discoteca, especialmente com este novo espectáculo que vou trazer a Portugal. Quero trazer essas vibes ao público. Basicamente, é uma grande festa.

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