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Baco Exu do Blues

QVVJFA?

999 / 2022

Texto de Adailton Moura

Publicado a: 03/02/2022

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Baco Exu do Blues é imprevisível. Nunca se sabe o que ele vai entregar, e quando essa entrega será feita. As surpresas também refletem nas opiniões divididas sobre a qualidade do que é apresentado. Enquanto alguns o elevam ao status de génio, outros discordam da sua lírica. Com QVVJFA? não foi diferente. Porém, no primeiro momento, o que mais chamou a atenção da maioria não estava relacionado à música, e sim à forma física de Baco nas fotos que ilustram a capa do seu terceiro álbum. 

De fato, Diogo Moncorvo (o nome de batismo dele) está diferente. Exercitou o corpo, (provavelmente) a mente e aprimorou um pouco mais a sua arte. O intervalo de quatro anos que separa Bluesman do novo álbum parece ter sido essencial para essa evolução. No premiado disco de 2018, Exu do Blues demonstra ser forte. Assume o controle. Externa sua raiva. Demonstra estar com a autoestima em níveis altos, mesmo tratando de temas relacionados à depressão.  

No atual, o jogo muda. Apesar de ter uma sensibilidade admirável, a melancolia está presente em boa parte dos 39 minutos. Dessa vez, o jazz serve de guia, mas é abandonado pelo caminho. Propositadamente, tudo é muito denso, carregado. Mas os instrumentais não decepcionam. Das 12 músicas, a mais agressiva é “Inimigos”. Nela é possível observar com mais clareza uma melhora significativa na dicção de Baco. Está mais entendível, principalmente nos momentos efusivos.  “Samba in Paris” traz a tradicional, delicada e fora da convencional explicitação do amor “baconiano” — assim como as antecessoras “Te Amo Disgraça” e “Flamingos”. Com a presença de Gloria Groove, a canção ganha delicadeza, e uma certa sensualidade.   

Entre o amor, sexo e a raiva, Baco Exu do Blues expõe suas vulnerabilidades. Ao perguntar “quantas vezes você já foi amado?”, ele também levanta questões sobre o jeito que um homem negro no Brasil recebe afeto ou é hipersexualizado, sendo tratado apenas como um objeto de desejo. Os sentimentos que expressa trazem algumas respostas para suas próprias questões internas. De alguma maneira, serve também para curar feridas expostas por não ser correspondido. “Sei partir”, com Muse Maya, e “Autoestima” refletem muito bem essa posição defensiva. O f*da-se para tudo isso, Baco manda em “4 da Manhã em Salvador”. Ali, decreta sua libertação. 

Quem ouve QVVJFA? pode absorver todas as ideias que Diogo propõe, e também curtir sem se comprometer. Até em algumas viagens, a realidade dele pode se conectar com a vivência de alguém. Tem suas imperfeições, mas o salto que deu foi gigantesco. Traz algo que por um bom tempo continuará relevante – ou não, caso toda essa realidade triste mude. Se vai fazer sentido agora ou depois, só o tempo dirá.  


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