A Orquestra de Jazz do Algarve junta-se ao pianista brasileiro Amaro Freitas para dois concertos especiais: este sábado, 2 de Maio, em Lagoa, no Auditório Carlos do Carmo, e no domingo, dia 3, no Teatro das Figuras, em Faro.
Nas redes sociais, o artista pernambucano explicou que está muito feliz com a oportunidade: “Estou muito feliz e honrado em tocar com a Orquestra de Jazz do Algarve e estamos todos muito animados para esses dois concertos”, declarou, sublinhando ainda o carácter “especial” de tal encontro. “Estaremos tocando músicas que atravessam toda minha obra com os arranjos do meu mago Henrique Albino”, esclareceu ainda.
O artista que o New York Times declarou estar a levar o jazz a um lugar novo editou em 2024 o aclamado Y’Y, álbum que é uma sentida homenagem ao Amazonas e à força da natureza em geral. O ano passado, antes da apresentação de Y’Y no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, Amaro Freitas clarificava ao Rimas e Batidas o impulso criativo que o conduziu até esse aclamado trabalho:
“Fui em busca de um outro roteiro brasileiro, investigar a cultura indígena e afro-brasileira. Porque todas as histórias sobre essas culturas indígena e afro-brasileira que eu escutei quando era um garoto sentado num banco de escola foram-me apresentadas a partir de uma perspectiva branca, passaram por um crivo branco”, sublinha Freitas. “Portanto, esse trabalho de resgate que eu procuro fazer na minha obra através das minhas músicas resulta de uma pesquisa de envolvimento, de visita aos lugares. E cada vez que eu visito esses lugares eu aprendo um pouco mais sobre a real cultura brasileira. Foi assim no Rasif, foi assim no Sankofa e é assim ainda no novo Y’Y. Quando eu chego ali em Manaus, me deparo com um Brasil totalmente diferente daquele que eu conhecia. É um lugar que não se parece nada com Pernambuco, talvez seja mais próximo dos bolivianos, dos peruanos. É um Brasil com uma natureza extremamente exuberante e onde sobrevivem fenómenos ancestrais incríveis. Vi uma árvore gigante em que os indígenas batiam para se comunicar com outras tribos no período da colonização. Cada toque significava uma coisa, havia um código, e a quilómetros de distância outros indígenas ficavam sabendo: ‘estão invadindo o nosso território’, e para isso dava três toques na árvore. A um quilómetro de distância outro indígena escutava e respondia com dois toques – ‘entendi, vou passar para a comunidade’”.
Nestes concertos algarvios, o aclamado pianista terá a oportunidade não apenas de exibir toda a amplitude do seu pianismo – tão inspirado pelas ideias de John Cage como pela música de Naná Vasconcelos – como de o enquadrar num contexto orquestral que beneficiará certamente da elevada qualidade da Orquestra de Jazz do Algarve.
Numa declaração pública, essa instituição algarvia afirmou ainda: “Um dos maiores pianistas brasileiros da actualidade traz a sua música original, com orquestrações originais de Henrique Albino, em estreia absoluta. A fusão do jazz brasileiro, da Amazónia, dos ritmos, uma profusão de música imensa”.