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Texto: ReB Team
Fotografia: Lais Pereira
Publicado a: 18/05/2022

A banda sonora possível para as cidades que se esvaziaram.

Alex FX apresenta Vessels A/V no Passos Manuel

Texto: ReB Team
Fotografia: Lais Pereira
Publicado a: 18/05/2022

Este sábado, dia 21 de Maio, Alex FX leva uma apresentação única da versão integral de Vessels A/V até ao Passos Manuel, no Porto, a partir das 22h30.

Desde 1993 a criar ondas na música electrónica, Alex Fernandes reage à pandemia com este novo projecto que, este fim-de-semana, terá expansão fresca na sala portuense:

“Em termos técnicos/práticos, eu estarei em palco rodeado de teclados, controladores, pedais e processadores de efeitos, 1 guitarra preparada com e-bow e 1 baixo fretless. Irei também, entre temas, falando com o público, de forma a tornar aquilo o que de si é bastante íntimo (a nível pessoal) numa forma de os integrar de certa forma naquela narrativa.

É uma experiência algo nova para mim, mais porque avanço em nome individual para um tipo de registo ao vivo que não é de todo usual a maior parte do público conhecer/associar. Mas lá está; o catalisador de tudo isto foi o travão na nossa ‘normalidade’.”

Num texto publicado no seu Facebook pessoal, o músico explica, tintim por tintim, o que moveu esta sua mais recente criação:

“O confinamento global iniciado em 2020 colocou-nos todos perante novas realidades e perspectivas. Algumas das imagens que mais me marcaram foram as obtidas por drones a sobrevoarem grandes metrópoles, vazias, sem trânsito. Quase como se estivéssemos a assistir a um directo sobre uma realidade alternativa, talvez mesmo utópica.

O paradoxo da sociedade hiper-informada, enclausurada agora no seu próprio lar, sem informação precisa de absolutamente nada. A proximidade física de toda a família na mesma casa, com o fosso tecnológico a colocar cada qual isolado na sua bolha. Fortalezas construídas de solidão, mesmo quando todos estavam nas suas habitações. O silêncio ensurdecedor das ruas vazias. Ser-se forçado a parar de trabalhar por um bem maior, mesmo que isso implicasse deixar de poder receber para cumprir com os constantes compromissos que não cessaram por nada.

Reaprender o sentido de entre-ajuda num cenário de destruição da dignidade para uns, da condição psicológica para outros e um sem número de outros casos. Perceber que no meio do medo se instalam outros medos, propagados por quem julga ter todas as certezas, por mais absurdas que sejam. Perceber que somos estranhos às novas rotinas e que os pesos estavam todos apenas de um lado da balança, afectando o equilíbrio geral. O caos de dúvidas nunca antes previsto ia escancarando portas à nossa frente e rectaguarda, enquanto permanecíamos peões fixos num tabuleiro com todos os movimentos controlados, para um bem maior, assim sempre acreditamos ser.

Como fui sempre motivado a compor por impulsos visuais e/ou literários, estes cenários levaram-me a fazer uma série de temas mais ambientais, introspectivos e exploratórios, como que se tratasse de uma banda sonora para as cidades (agora) vazias. A par disso, ao rever alguma da filmografia do Peter Greenway, voltei a deparar-me com Prospero’s Books, o filme baseado na peça A Tempestade de William Shakespeare. Fiquei apaixonado pela singularidade típica do texto, mas uma das frases de Próspero elevou-se sobre todas as demais: ‘Hell is empty and all the devils are here’, o que me pareceu a mais perfeita metáfora para tudo o que estava acontecer e tudo aquilo que eu queria retratar musicalmente.

Surgiu então a ideia/vontade de avançar para um punhado de composições que viessem a integrar um EP específico, sob esse título/mote, todos eles totalmente fora da área a que habitualmente eu possa estar associado e que, mesmo parecendo ser um ‘sair da minha zona de conforto’, são em boa verdade um dos territórios em que me sinto mais à vontade, uma vez que já trabalhei para uma série de bandas sonoras.

A certa altura, e porque a intenção era que esse EP tivesse uma edição super limitada exclusivamente em vinil, comecei a aperceber-me do calvário que são os tempos de espera por uma edição nesse suporte (mínimo 4 a 6 meses, a correr bem). A perspectiva de Portugal voltar a ter uma fábrica exclusivamente dedicada a isso (Grama) acalentaram novamente a ideia.

Entretanto, o convite para abrir a 1a edição do Sonar Lisboa este ano contemplava inicialmente a honra de abrir para um dos compositores que mais admiro há mais de 30 anos (por respeito a ambas as partes escusar-me-ei revelar quem era). E foi nesse preciso momento que percebi que o material do EP faria todo o sentido de ser apresentado ao vivo com recurso a uma nova performance, a qual ficou imediatamente baptizada como Vessels.

Contudo, por motivos de saúde desse compositor tal tornou-se impraticável, independentemente da organização me ter permitido e encorajado seguir em frente com a apresentação simples dessa mesma performance, o que aconteceu no passado dia 7 de Abril no Hub Creativo do Beato.

Para esta versão integral de dia 21 de Maio no Passos Manuel foram compostos mais alguns temas novos e refeitos outros já existentes, de forma a criar um conjunto audiovisual consistente.

Aqui está reunido o mais pessoal de todos os projectos que fiz até hoje, até porque não obstante ser essencialmente um trabalho mais ambiental/exploratório, ele reune uma série de homenagens que quis prestar a pessoas que directa ou indirectamente foram basilares na minha vida (dita) artística e em alguns casos, mesmo pessoais. Entre os que já partiram e os que quero e continuo a homenagear em vida, Vessels carrega tanto de mim num exercício de auto-reflexão face a um período tão marcante como foi o do confinamento que chegam a haver momentos em que eu próprio me emociono com o que ali está a acontecer.

Espero que na medida do possível possam/consigam desfrutar desta experiência.”

Os bilhetes custam 10 euros e podem ser adquiridos através do e-mail geral.passosmanuel@gmail.com ou na bilheteira do Passos Manuel.


https://www.youtube.com/watch?v=q3mQVVZqBpM

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