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Publicado a: 27/09/2018

Alcool Club sobre a mini-digressão: “Vamos recuperar algum material antigo e também vamos prestar um tributo ao rap tuga”

Publicado a: 27/09/2018

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Sebastião Santana

Se há dez anos o grupo liderado pelos irmãos Praso e Montana podia passar despercebido, o mesmo já não acontece nos dias que correm, com rappers e beatmakers a tomarem conta do mainstream e a gozarem de uma posição privilegiada nas playlists das rádios e nos mais diversos canais dos media, também eles a crescer a olhos vistos à boleia dos versos e instrumentais.

Com dois álbuns nas ruas — Club 120° (2014) e Rap Proibido (2016) — ou nas malhas a Internet, se preferirem, os Alcool Club deixaram de fazer do estúdio um local apenas dedicado ao lazer, assumindo o compromisso de se estabelecerem como um grupo “Sério” e disposto assumir a música como profissão.

De grupo de culto até à posição de editora independente com selo de qualidade — e regularidade —, o ARTESANACTO vive hoje os seus melhores dias e até já serve de plataforma para a promoção de cada vez mais artistas. E se antes Praso e Montana não tinham noção do alcance que o seu grupo amealhava a partir de uma cabine de gravação caseira num quarto, em Sines, as plateias dos seus espectáculos ao vivo mostram que existe uma base de fãs bastante sólida a dar apoio às suas rimas boémias e batidas jazzy que tanto definem os Alcool Club.

O Rimas e Batidas esteve à conversa com Praso e Montana, que arrancam hoje, em Coimbra, com uma série de três concertos na companhia de Mass, Sangui Bom, DJ Tranquilo, Richard Beats e Johnny Drama. Seguem-se Porto e Lisboa nos dias 28 e 29, respectivamente, actuações que contam com alguns convidados como TOM ou Beware Jack e que servem de apresentação para um formato fora do habitual.

 


ReB Playlist: Na estrada com os Alcool Club


Já falámos dos Alcool Club por diversas vezes no Rimas e Batidas, mas nunca ouvimos a história contada por vocês próprios. Em que ano é que isto tudo começou?

[Montana] Nós não temos assim um ano certo em mente. Para aí 2004. A coisa foi tão espontânea…

[Praso] Nós lançámos a mixtape Artesanal em 2005.

[Montana] Foi por aí. 2004/2005.

Como acontece em muitos dos casos, se calhar até começou por ser uma “brincadeira”. Pensavam que a coisa se poderia tornar tão séria como está agora?

[Montana] Foi sempre uma brincadeira porque nós éramos novos. Eu comecei a escrever muito novo, com 13/14 anos. O meu irmão já tinha a cena dele a solo e eu tinha o meu grupo de amigos. Levava as coisas na brincadeira, até que fui evoluindo.

Que histórias guardam desses tempos? Houve algum momento que tenha sido crucial para tornarem o projecto mais “sério”?

[Praso] Acho que foi na altura em que decidimos fazer o primeiro disco, o Club 120°. Tínhamos uma boa base de malta que nos andava a ouvir e então tentámos fazer algo mais sério. Apostámos no formato físico para o pessoal ter outra perspectiva. Acho que foi a partir daí que as coisas começaram a ficar mais sérias.

[Montana] Até o próprio hip hop começou a subir um pouco. Aproveitámos. Temos talento e fazemos uma cena diferente. Trabalhamos e gostamos de fazer música. Isso é o principal.

Além desse Club 120°, lançaram o Rap Proibido. Que feedback é que foram recebendo das pessoas? Vocês sempre tiveram uma base de fãs bastante grande mas se calhar nem tinham a noção disso antes dos discos.

[Montana] É como dizes. Nós começámos a ver que muita gente nos seguia. Quando começámos, o YouTube ainda não existia. Tínhamos o MySpace, que era um bocado “fantasma”. Tu não sabias bem quantas pessoas te ouviam, não existiam comentários. Mas fomo-nos apercebendo de que tínhamos muita gente [a seguir-nos] e, depois desses álbuns, o feedback foi muito bom. Conseguimos puxar esses fãs mais antigos e captar também a atenção de mais alguns. No geral, o feedback foi bom, tanto do primeiro álbum como do segundo.

Estamos em 2018 e quase toda a música que é feita hoje nos remete para um universo mais electrónico e digital. Vocês continuam a apostar naquela sonoridade dos discos mais obscuros do jazz e dos blues.

[Praso] Nós vamos sempre actualizar-nos porque a única coisa que é constante é a mudança. Talvez venhamos a pegar naquilo que sempre fizemos mas dando-lhe uma roupagem nova. Uma cena mais electrónica mas com o sampling e as nossas ideias presentes.

Já se notou até em algumas produções tuas, Praso, em que abordaste uma sonoridade mais virada para o trap mas com aqueles elementos melódicos boémios há mistura.

[Praso] No fundo, estamos a utilizar os BPMs um pouco mais lentos mas aquilo não me puxa para “trappar”, digamos assim. Puxa-me mais para fazer rap mais lento ou cantado. Se calhar um rapper que esteja agora na casa dos 20/21 anos, que está habituado a utilizar aqueles tempos de outra forma, se calhar soltava um trap lá em cima.

Actualmente encontram-se a preparar algum trabalho em grupo?

[Praso] Não existe ainda uma data, mas no próximo ano devemos ter um novo disco.

Tu e o Montana têm estado também a lançar singles a solo. Os projectos em nome próprio já estão encaminhados?

[Montana] Eu estou a tentar criar a minha cena a solo, até porque eu sempre cantei com os Alcool Club. Acho que tenho só dois ou três sons sozinho. Este ano e no próximo vou tentar seguir a solo e com Alcool Club também, claro. Será sempre com singles, principalmente singles com vídeo, e depois compilar tudo e lançar em CD para os fãs mais próximos.

Ou seja, lanças um álbum single a single, é isso?

[Montana] Talvez. Não tenho nada estruturado, mas os novos tempos pedem isso. Acho que é preferível. Temos que acompanhar os novos tempos, mas mantendo sempre a nossa identidade.

E tu, Praso, em que ponto se encontra o teu álbum?

[Praso] Estou agora a desenvolver a segunda parte do disco. Delineei as primeiras ideias no ano passado mas, entretanto, tive um revés nas produções e nós também começámos a apostar mais nos concertos ao vivo. Adiei um pouco mas está quase, já tenho muito por onde mexer.

Em relação ao Artesanacto, no geral, tenho visto que têm apostado no Subtil. Há por aí alguma edição no horizonte da vossa label?

[Praso] Neste momento temos o SanguiBom, que vai projectar um EP a solo para estrear a sua própria discografia. Vamos também fazer um projecto novo com a Sara Francisco, que sairá pelo Artesanacto.

Têm agora três datas seguidas para se apresentarem em Lisboa, Porto e Coimbra. Lisboa e Porto sei que já conhecem. E Coimbra, é a vossa primeira vez?

[Montana] Não, também já tocámos em Coimbra.

Qual é que tem sido o feedback que trazem dessas cidades? E o que é que preparam de diferente neste regresso?

[Montana] Os últimos concertos têm corrido bem, com o público a aderir e a cantar, casas cheias. Para estas três apresentações preparámos algo diferente. Vamos recuperar algum material antigo e vamos também prestar um tributo ao rap tuga. Escolhemos alguns sons que ouvíamos antigamente e vamos passá-los em jeito de tributo ao pessoal que nós achamos que o merece. Temos umas brincadeiras novas para estes concertos. Vão ser diferentes, algo de novo.

Quais são os artistas que vos vão acompanhar?

[Praso] Vai ser o Mass, o Sangui Bom, o DJ Tranquilo, o Richard Beats e o Johnny Drama. Depois vão existir mais alguns convidados. Uns vão estar em Coimbra, outros no Porto e outros em Lisboa.

[Montana] O Beware Jack sobe ao palco em Lisboa.

[Praso] O TOM, da Margem Sul. O Subtil também toca connosco em Lisboa. O Drunk Nigga vai participar na data do Porto.

Vão ser três dias seguidos na estrada e depois? Continuam a estudar mais opções para tocar ao vivo ou regressam a estúdio para preparar os vossos projectos?

[Praso] É um misto das duas coisas. Vamos fazer estes três concertos e ver qual é o balanço e o feedback. A partir daí vai surgir de tudo um pouco. Desde novas datas a novos sons.

[Montana] Não temos mais datas certas, apenas conversações. Mas possivelmente ainda vamos dar mais um ou dois concertos, sim.

 


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