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Nuno Carneiro, mais conhecido como Ace no mundo da música, foi galardoado com a medalha de Mérito Cultural e Científico pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. O diploma entregue durante a cerimónia que aconteceu na passada quinta-feira, dia 28 de Junho, destaca a “forma como se notabilizou enquanto figura incontornável do hip hop português”.
O MC dos Mind da Gap é um dos nomes mais importantes da história do rap nacional, tendo registado obra a solo (IntensaMente ou, mais recentemente, Marlon Brando) e também com Presto e Serial enquanto integrante dos históricos Mind Da Gap (Sem Cerimónias, A Verdade ou Suspeitos do Costume).
Conversámos com Ace sobre a distinção e o significado que isso tem não só para si mas também para a arte das rimas e batidas feitas em Portugal:
O que é que representa esta medalha para ti, nesta fase da tua carreira?
Representa, sem dúvida, o reconhecimento tanto da minha carreira, como do género musical onde a construí. Em virtude do rap e da cultura hip hop em geral estarem mais difundidos que nunca, hoje em dia é possível acontecerem coisas que antes não se vislumbravam. Sempre sonhei com uma rua na minha cidade com o meu nome, talvez esta distinção seja um prenúncio de que isso possa um dia vir a acontecer.
Pensas que, além de, obviamente, te premiar a ti, representa uma distinção mais alargada, ao rap?
Acho que quando o documento que acompanha a medalha explica a mesma pelo facto de ser um nome incontornável na história do hip hop nacional, essa distinção, à partida já reconhece o hip hop como algo a ter em consideração, no mínimo. Sempre vesti ambas as camisolas — a da cidade e a do hip hop. Independentemente do que o futuro me possa trazer em termos de carreira como músico, sempre vestirei estas duas camisolas. Portanto, dar-me uma medalha de Mérito — mesmo que não fosse na e da minha cidade e mesmo que não fosse explicitamente pela minha carreira como mestre de cerimónias –, seria sempre uma medalha a um MC gaiense.
Alguma vez pensaste ser distinguido oficialmente pela tua cidade? Tendo em conta que, no contexto do hip hop, sempre representaste muito a zona onde cresceste e vives.
Como referi anteriormente, sempre sonhei com uma rua em Gaia com o meu nome. Continuo a alimentar essa esperança porque a história não se faz só do passado longínquo que se estuda na escola. A história faz-se todos os dias, ainda que possa ser relatada só mais à frente no tempo. Sem querer ser imodesto ou pouco humilde, sempre pensei que, a haver justiça, algum reconhecimento oficial de uma qualquer instância haveria ou deveria acontecer, honestamente. Sinto-me muito grato pelo facto desta distinção ter mesmo acontecido. A minha “propaganda” da cidade foi sempre tão vincada que chegou a ser publicado várias vezes que os Mind da Gap eram uma banda de Gaia, quando só eu o sou. Para além disso, o meu papel enquanto impulsionador de outras carreiras de nomes ilustres do hip hop nacional (não só no rap) oriundos de Gaia, razão pela qual tanta gente me chama “Padrinho”, sempre me fez pensar nisso — um dia, alguém devia reconhecer o meu papel na afirmação de Gaia como uma potência do Hip Hop nacional. É mesmo gratificante para mim perceber que alguém está atento à história que se faz todos os dias, à história da cidade onde nasci, onde cresci, onde dei os meus primeiros passos de breakdance, onde fiz os meus primeiros graffs, onde ouvi e escrevi os meus primeiros raps. A cidade onde vivo. É motivo de um orgulho enorme saber que a Câmara de Gaia se provou disposta a juntar o meu nome a outros, tão ilustres e tâo importantes, a todos os níveis. Numa altura em que para artistas com a minha veterania é bastante fácil ser-se levado a pensar que a ingratidão e a falta de memória (ou conhecimento) são características marcantes do “nosso” meio, receber esta medalha de Mérito Cultural e Científico, Classe Ouro, da parte da Câmara da minha cidade foi uma surpresa tão incrível quanto significativa. Só falta o nome de rua.
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