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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 30/09/2022

Na última sexta-feira de cada mês, Miguel Santos escreve sobre artistas emergentes que têm tudo para tomar conta do mundo da música.

Abram alas para… quinn

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 30/09/2022

Em entrevista à Pitchfork, Quinn Dupree diz que gosta de confundir os fãs. A artista norte-americana refere-se ao seu trabalho em nome próprio ou sob outro dos seus nomes artísticos e como gosta da reacção de surpresa dos seus admiradores quando descobrem que é a mesma pessoa. Sejam fãs da electrónica de cat mother, das mixes da DJ weird bitch ou dos temas de quinn, o output musical de Dupree é variado e em constante transformação.

A história musical de Dupree começa aos nove anos com um iPad e o GarageBand. Os seus primeiros capítulos foram aventuras pelo cloud rap e trap metal, até que em 2019 a sua experimentação musical levou-a ao hyperpop de melodias transfiguradas e barras monocórdicas. Por esta altura, a artista assinava como osquinn, e singles como “i dont want that many friends in the first place” e “ok im cool” e um shoutout do influente duo hyperpop 100 Gecs catapultaram-na para um modesto estrelato. 

Este foi um importante capítulo para Dupree. Aos 16 anos de idade foi apresentada como uma das novas caras do hyperpop, mas a sua evolução musical estava longe de terminar. A exploração musical continuou mas os fãs não responderam da melhor forma. Estava na altura de um hiato calculado em que quinn desapareceu durante pouco mais de meio ano para lançar música como cat mother. Em 2021, voltou de ânimo renovado e estreia debaixo do braço: Drive-by lullabies trouxe a voz escondida atrás de luzentes notas robóticas acompanhadas por vibrantes cavalgadas electrónicas, mas também músicas mais contidas e íntimas. Há sons do mundo real espalhados por este seu universo digital, e o primeiro álbum de quinn é um projecto disperso mas nunca distante.



E nem um ano tivemos de esperar pela sequela, o que nos diz muito sobre a ambição da artista: quinn deixa para trás uma parte da abrasividade que caracteriza a música de Dupree, mostrando uma abordagem não tão frenética e explosiva. Ouvimos mais vezes a sua voz despida de efeitos e modificações, talvez simbolizando uma paz interior da artista com o seu timbre natural, e o som da guitarra torna-se uma potente adição ao arsenal de quinn, como ouvimos em “warm and fuzzy”, na amorosa “two door tiffany” ou na gingada “I’ve heard that song before”. Mas, acima de tudo, transparece que Dupree irá continuar a fazer as coisas à sua maneira: “please don’t waste my time” recebe-nos com um sample ensurdecedor de cordas antes de deslizar para um dos refrões com mais groove deste ano. quinn faz tudo bem e fá-lo como lhe dá na real gana, ou como refere no potente tema “I stay clean, stay freezed, and stay raw/I stay me, I stay me”.

À semelhança do seu antecessor, quinn é um projecto fragmentado. Mas ouvimos maturidade, mais foco e menos dispersão com temas que são terapêuticos para quem os ouve e para quem os mostra ao mundo. Bastam estes dois álbuns para sermos surpreendidos e confundidos pela capacidade que quinn tem de se reinventar. Estaremos por aqui para o próximo capítulo, de cabeça a andar à roda e a boca aberta de espanto.


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