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Fotografia: Abrielle
Publicado a: 28/01/2022

Na última sexta-feira de cada mês, Miguel Santos escreve sobre artistas emergentes que têm tudo para tomar conta do mundo da música.

Abram alas para… Phabo

Fotografia: Abrielle
Publicado a: 28/01/2022

Agora que já passou o Dia de Reis, o próximo Dia no calendário é o Dia dos Namorados. Os presentes de ouro, incenso e mirra são substituídos por flores, chocolates e ursos de peluche. Para muitos, a resposta adequada é um revirar de olhos às exuberantes demonstrações de afecto consumista. Para outros, (mais) uma oportunidade para demonstrarem o seu amor de forma pessoal e intimista. Seja qual for o grupo de apaixonados que escolham, o que os categoriza é o seu coração ardente, algo que Phabo conhece melhor do que ninguém. 

Nascido em San Diego, a sua relação com a música foi dispersa e plural, tendo aulas de bateria, piano e guitarra. Mas foi no clarinete que encontrou o seu caminho, ao tocar na banda de jazz da sua escola em Long Beach, para onde se mudou aos 16 anos. A voz enquanto instrumento só surgiu mais tarde — na escola o que estava na berra era cuspir barras — e foram precisos alguns anos tímidos antes que um recatado Phabo começasse a desembaraçar-se.

Começou por escrever para outros artistas na editora Atlantic, mas a sua vontade de criar as suas composições musicais falou mais alto. Ao ouvirmos as suas canções, percebemos que foi uma decisão acertada: o seu timbre agudo e adocicado invoca nomes como Saba ou Frank Ocean, assente com segurança em batidas de r&b moderno. Mas há uma emoção própria, um clamor pessoal e intransmissível, veículo sonoro perfeito para as suas melodias de galã.



O seu álbum de estreia aposta forte no romance, em todas as suas formas. Soulquarius é um piscar de olho aos Soulquarians, sonante grupo musical activo durante o final dos anos 90 e o início do novo século que contava com membros como Erykah Badu, ?uestlove ou Q-Tip. Outro dos membros era D’Angelo, e ainda que a sonoridade de Phabo não esteja totalmente alinhada com a soul refinada deste artista, vemos parte do seu ímpeto e sensualidade musical. A resplandecente “Supermodel” é prova disso, e o funk destilado por cada um dos instrumentos é unido numa atmosfera quente de r&b. Já “LNF” põe as cartas todas na mesa e as roupas todas no chão, uma música para ser apreciada de luzes apagadas e velas acesas. A paixão é como os sonhos: todos os temos, mas cada um tem os seus. Os amores e desamores de Phabo são a sua inspiração, mas a sua destreza está em conseguir tornar as suas experiências pessoas em relatos empáticos e transversais a quem quer o oiça. 

Mas as virtudes da sua escrita não se cingem à sua capacidade para a empatia: Phabo demonstra um talento para escrever hooks memoráveis, uma das especialidades que está patente no seu álbum de estreia. Seja numa vertente mais “drum’n’bossa” como “Local” tão bem demonstra, apoiado por um beat saudosista em “S550” ou a deslizar com deleite em “Belly”, é garantido que momentos mais tarde iremos ouvir o artista sussurrar um dos vários hooks de calibre nos nossos ouvidos.

Earworms voluptuosos à parte, Soulquarius é uma prova do talento de Phabo, e ainda que haja espaço para crescimento — temas como “Polaris” ou “Palm Trees” precisavam de mais tempo de maturação — é um ponto de partida muito interessante para este Don Juan dos tempos modernos.

Portanto, e antes de serem bombardeados por inúmeros listicles e ideias fantásticas para prendas que certamente deixarão as caras-metade completamente rendidas, para este Dia dos Namorados sugerimos algo mais simples: Phabo e a sua obra quente e sedutora. Não descurem o poder de um pézinho de dança ao som das doces melodias deste artista doutorado em afecto: o simplismo tem um charme que nenhum colar de diamantes suplanta.


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