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Fotografia: Pål Mikael
Publicado a: 26/02/2021

Na última sexta-feira de cada mês, Miguel Santos escreve sobre artistas emergentes que têm tudo para tomar conta do mundo da música.

Abram alas para… JEZ_EBEL

Fotografia: Pål Mikael
Publicado a: 26/02/2021

Após ouvirmos a intimamente bela “In Her Eyes” e a sua sonoridade de bossa nova de veleiro, podemos pensar que a sua autora vem de um país quente — associamo-la a fogo e não a fiordes. Mas a cantautora norueguesa JEZ_EBEL tem um jeito de surpreender o ouvinte e aconchega sem nunca sair (e sairmos) do quarto. É pop convidativa, fácil ao ouvido e composta por canções que embalam sem nunca adormecerem: dão vontade de fechar os olhos e de imaginar uma viagem no tal veleiro. 

Como algumas das histórias de sucesso musical actual, esta começa no SoundCloud. É por lá que desde 2018 JEZ_EBEL lança temas soltos e alguns rascunhos, alguns em espanhol e a maioria em inglês, mostrando que se inspira por várias línguas para escrever. A sua sonoridade tem semelhanças com Clairo e o compatriota norueguês Nicolas Muñoz (mentor do projecto Boy Pablo). Mas há um nome que talvez não seja óbvio e cuja influência transparece na música que a artista faz: Kings of Convenience. O timbre inglês lembra o vocalista Erlend Øye, e os harmoniosos arranjos vocais que circundam a voz em temas como a saudosista “Caramel Lips” ou a já referida “In Her Eyes” remetem-nos para a discografia desse duo. Mas o trilho desta cantora é outro, e a sua valência reside na habilidade que tem em conjugar melodiosas composições vocais com uma mistura instrumental pessoal e intransmissível de lo-fi, pop e r&b.

Depois de apresentar uma doce valsa electrónica através de “Elskling”, a música que a destacou dos restantes foi “You’ll Get Over It”, uma canção leve e que tranquiliza corações partidos com a certeza de que a tristonha tempestade passará. É este tema que abre o seu EP lançado em Dezembro do ano passado, que aterrou nos serviços de streaming com a suavidade com que uma pétala cai no chão de uma floresta, e Blossom é uma curta mas eficaz amostra do potencial de JEZ_EBEL. As suas letras discutem sexualidade, vulnerabilidade e enaltecem as mulheres, associando mensagens importantes a batidas harmoniosas. Quem disse que a leveza não pode ser profunda?

Ao longo da história da Humanidade, o nome Jezebel esteve associado a estereótipos tóxicos e infundados e a falsos profetas. Correndo o risco de nos juntarmos a essa segunda categoria, postula-se que a música de JEZ_EBEL tem muito que se lhe diga. Só o futuro dirá se tem muito que lhe diga a muita gente. 


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