pub

Fotografia: Fabrice Bourgelle
Publicado a: 30/07/2021

Na última sexta-feira de cada mês, Miguel Santos escreve sobre artistas emergentes que têm tudo para tomar conta do mundo da música.

Abram alas para… ENNY

Fotografia: Fabrice Bourgelle
Publicado a: 30/07/2021

Há um segredo bem guardado entre os artistas de sucesso que está relacionado com a sua capacidade para apelar simultaneamente ao ouvido e à mente. É um trabalho difícil, e qual Philippe Petit das semibreves, é preciso saber caminhar sem perder o equilíbrio. Existem músicas que nos prendem pelo cérebro e músicas que nos prendem pelos pés. É nessa corda bamba que junta harmonia e ponderação que as canções de ENNY mostram o seu verdadeiro potencial.

O single que trouxe Enitan Adepitan à ribalta é o exemplo perfeito. “Peng Black Girls” é descontraída, o loop de teclado desliza sem preocupações acompanhado de pratos e tarola, enquanto a protagonista nos canta uma homenagem às mulheres negras, à sua perfeição natural, questionando a sua comunidade sobre união e sobre ser mais do que aquilo de que os rotulam. Não é por acaso que Jorja Smith se apressou a recrutar a artista para a sua editora FAMM — e a emprestar a sua voz ao remix de “Peng Black Girls”. Talento a reconhecer talento. 

Enquanto criança eram poucas as oportunidades que tinha para sair à rua, o que levou a que desenvolvesse uma paixão pelas teclas e pela experimentação com este instrumento. Com o passar dos anos, descobriu o hip hop e J. Cole, e desde 2018 que tem mostrado os seus freestyles. Aqui temos a receita do cocktail perfeito, basta abanar vigorosamente e temos prontas a servir músicas que nos deixam a cofiar o queixo de forma pensativa enquanto os pés fazem a sua festa. 



Ouvimos a confiança aguerrida de Little Simz nas suas letras, mas não é só de hip hop que é feita a música de Adepitan. Em Under Twenty Five, o seu EP de estreia lançado este ano, vemos a facilidade com que ENNY alterna entre cantorias: “Same Old” introduz-nos ao projecto com um malabarismo entre melodias cantadas e barras sentidas. O refrão funciona simultaneamente como um mantra contra trastes para Adepitan e uma metáfora apurada para os seus ouvintes, numa música sobre derrubar o status quo e insurgir-se contra a apatia. As suas canções revelam uma aleatoriedade controlada: tanto podemos estar num rooftop ao som de “I Want” como podemos estar numa espreguiçadeira a apreciar o final de um dia quente ao som da madura “Under 25” ou estar a torrar com o apogeu solar diário de “Malibu” e sua vibe à Tom Misch. Há algo que une todos os temas neste projecto: o seu tom veraniço.

Nota-se a ambição da artista através da sua abordagem e o calor das suas batidas, que nos remetem para uma estação infinita, incendiária, mas a sua leveza é apenas instrumental — são tão profundas como o oceano onde ansiamos mergulhar com o aumento da temperatura. ENNY está focada, pronta a mostrar que tem muito para dizer sem nunca deixar de soar apelativa. E vale muito a pena ouvir esta engenhosa dualidade.


pub

Últimos da categoria: Abram alas para...

RBTV

Últimos artigos