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Fotografia: Joanna Correia
Publicado a: 31/12/2021

Na última sexta-feira de cada mês, Miguel Santos escreve sobre artistas emergentes que têm tudo para tomar conta do mundo da música.

Abram alas para… Constança Quinteiro

Fotografia: Joanna Correia
Publicado a: 31/12/2021

Como Caronte na fronteira entre o mundo dos vivos e o mundo de Hades, Dezembro separa o ano que passa do ano que irá passar. É altura de celebração, de aproximação familiar metafórica pelo convívio e física pelas lustrosas barrigas que teimam em aparecer por esta altura. Há um calor muito próprio neste mês, antitético ao Solstício que inicia a estação mais fria do ano. Mas hoje o calor de que vamos falar é outro: as labaredas sonoras de Constança Quinteiro.

Nascida em Cascais, Constança cresceu em Sesimbra, e a sua curiosidade musical traduziu-se num cortejar intermitente. Antes dos 10 anos de idade começou a ter aulas de guitarra e piano, algo que acabou por abandonar. Mas a semente estava lançada, e foi no final do ensino secundário que os primeiros rebentos musicais começaram a surgir. Voltou a pegar na guitarra e, depois de uns tempos como autodidacta, retomou as aulas. Como ouvinte, Constança Quinteiro começou a sua viagem musical ao sabor das tonalidades quentes da música soul, descobrindo mais tarde o r&b alternativo e a música brasileira, e músicos como Dino D’Santiago e Mayra Andrade, algo que transparece na sua obra. É certo que o fascínio pela música sempre existiu, seja qual for a sua relação com a música.

Em 2017, depois de alguma experiência de palco na zona onde cresceu e com algumas canções escritas, formou a banda Medvsa com um amigo. com quem lançou um EP e foi finalista do EDP Live Bands em 2018. Infelizmente o projecto não continuou e Quinteiro mudou-se para Londres para aprimorar a sua formação musical. Foi lá que se reencontrou com Miguel Ferrador, que produziu o EP dos Medvsa, e onde começou a gravar o seu primeiro álbum. A pandemia trouxe-a de volta a Portugal e 2021 foi o ano em que a vimos estrear-se definitivamente em nome próprio com “Miúda”, um resoluto abraço sonoro com uma batida de bossa nova eficazmente adaptada para o mundo pop, um tema que pretende tanto reconfortar como puxar para a dança. 

Este single integra o projecto de estreia de Constança Quinteiro, o EP Aventurina. É uma introspecção sobre os últimos quatro anos da artista, comunicados através de um timbre quente e convidativo. Os espaços sonoros por onde navega não escondem o seu talento vocal, abraçam-no e envolvem-no com afinco, seja de que estilo forem: tanto nos incitam ao movimento, como no tango moderno e transfigurado de “Dança”, empoderam-nos de uma forma muito cool a mandar à fava as pessoas que não interessam, como no pop rock suave de “Mil Maneiras”, ou deambulam por vários ambientes com um charme cativante, como demonstrado pela potente abertura do EP, “Aquária”. A palavra-chave aqui é familiaridade, são fórmulas que conhecemos. Mas como em tudo na vida, o familiar por vezes arranja maneira de nos surpreender. 

Na recta final do ano, o frio por terras portuguesas faz-se sentir, e à falta de lareira há que ser inventivo. Aqui, neste espaço, propomos este fogo musical, que nos tem acalentado o corpo e a alma enquanto contamos as horas para o final do ano. Do topo do Gerês aos sopés da Serra de Monchique, abracemos todos este calor de Constança Quinteiro. 


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