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Fotografia: Wallace Domingues
Publicado a: 24/09/2021

Na última sexta-feira de cada mês, Miguel Santos escreve sobre artistas emergentes que têm tudo para tomar conta do mundo da música.

Abram alas para… Bebé

Fotografia: Wallace Domingues
Publicado a: 24/09/2021

Em 2016, Bebé Salvego mostrava pela primeira vez os seus dotes musicais no programa The Voice Kids Brasil. Com apenas 12 anos, a cantora natural de Piracicaba, São Paulo, deslumbrou o júri com uma inspirada interpretação de “I Can’t Give You Anything But Love”, de Jimmy McHugh e Dorothy Fields. Em 2021, mais do que uma cantora, Bebé mostra-se como uma artista dos pés à cabeça. E ainda que ninguém resista a um standard de jazz interpretado com muito carisma, a sua evolução musical tem muito mais que se lhe diga. 

A arte de Salvego está-lhe no sangue: filha de uma produtora-executiva e de um guitarrista, foi aos oito anos que começou a compor canções. No entanto, foi apenas quando conheceu o colectivo de artistas do selo Bastet que a sua transformação realmente aconteceu. Orientada pelo baterista Sergio “Plim” Machado — que já trabalhou com artistas como Milton Nascimento e Liniker, e acompanhou artistas como Criolo ou Emicida –, Salvego floresceu junto desta colectiva, passando de intérprete a criadora completa, almejando sempre o progresso. Ao trabalhar com Plim, Bruno Rocha e o seu irmão Felipe Salvego, a artista foi encorajada a desbravar novos mundos musicais. 

O que nos prende ao seu trabalho é a sua diversidade. No seu projecto homónimo, Bebé serpenteia entre vários mundos sonoros com uma plasticidade única, mostrando uma grande capacidade para facilmente alternar entre estilos e abordagens sonoras. Ouvimos da sua parte uma aguçada sensibilidade pop mas também vemos uma crueza experimental, o que nos mostra alguém curioso e disposto a esticar a corda sem nunca alienar o ouvinte. Sente-se que a artista se está a descobrir, e é dessa descoberta que surge o seu álbum de estreia: Bebé é uma exploração sonora que tem tanto de eclético como de instantaneamente cativante.



Produzido por Plim, o trabalho está repleto de evidências do talento de Bebé, que se introduz ao mundo em nome próprio e consegue mostrar eficazmente o alcance da sua música. Tanto nos pode encantar desde a primeira audição com a descontração de “Saltos de Realidade” ou a ginga sedutora de “Tenta Me Entender”, como arrebatar com o brilhante experimentalismo de temas como “Nuclear” ou “Sinais Eléctricos na Carne”. A guitarra tem um lugar especial na sua música, e a artista inclina-se para o rock piscando o olho ao psicadélico com temas como “Sol” ou “Reflexão”. Mas tentar encaixá-la numa categoria é uma tarefa impossível. 

E se há uma sagacidade instrumental clara, a parte escrita também não lhe fica nada atrás. Há epifanias balizadas pelo trap e pelo rock em “Bipolada” e em “Saltos de Realidade”, em que questiona, de forma consciente, o mundo através de uma introspecção bem-conseguida. Em “00:01”, há um ressoar metálico e intrincado aparato rítmico que alimenta a triste verdade do fim de um amor em que se tinha fé. São letras que nos mostram uma maturidade incomum, frutos de uma mente que fervilha sem descanso. 

Custa a querer que Salvego tenha apenas 17 anos. Mas o engenho não escolhe idades, e a artista revela já muito tacto e um perfil inventivo. E se com 12 anos encantava o Brasil, agora está pronta para deslumbrar o mundo. Bebé está agora a dar os primeiros passos mais sérios da sua carreira musical. Mas o seu potencial augura um percurso imperdível.


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