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Fotografia: Hugo Amaral
Publicado a: 14/10/2020

Um luxuoso complexo de estúdios para elevar o nível da produção nacional.

A música agora nasce em Campanhã e a culpa é da Arda Recorders

Fotografia: Hugo Amaral
Publicado a: 14/10/2020

Estava tudo pronto desde Janeiro, mas a pandemia fez das suas e atrasou, até Junho, o arranque daquele que se tornou o novo estúdio de eleição da cidade do Porto. A Arda Recorders veio substituir, ou melhor, expandir, o icónico estúdio Sá da Bandeira. Situado numa artéria da Rua de Pinto Bessa, em Campanhã, transformou-se o espaço de um antigo armazém num estúdio de ponta, totalmente pronto para servir o mundo da música.

Pensado por João Brandão, com quem o Rimas e Batidas esteve à conversa, os estúdios da Arda Recorders vieram ocupar um importante lugar na criação nacional, em especial no capítulo da gravação. A mudança para este complexo tornou-se inevitável após se ter percebido no final de 2016 que os estúdios Sá da Bandeira já não apresentavam capacidade de crescimento, muito pelas suas limitações físicas, mas também pelas dificuldades operacionais que o centro do Porto começava a impor. No entanto, sair do Porto nunca foi uma opção, assegurou o fundador enquanto contava a história por detrás do nascimento desta nova “maternidade” da música portuense.

A nova morada apresenta a facilidade de mobilidade pretendida, tanto a nível de transportes pessoais como públicos, uma vez que a estação de Campanhã se encontra a uma distância de uns meros cinco minutos, mas sobretudo permitiu que fosse um edifício de raiz, pensado e desenhado do zero como um estúdio e não a adaptação de um espaço, algo que permitiu abrir uma panóplia de opções e criar um upgrade gigante em termos sonoros. “São paredes de betão, com salas dentro de salas, e com muito cuidado acústico. Acho que é um dos estúdios com melhor acústica em que já estive”, revelou com orgulho enquanto esclarecia que essa era a grande diferença e identidade deste estúdio, uma vez que tanto a arrumação dos espaços como a própria estética vão ser reconhecíveis a clientes antigos. É na qualidade do som e dos equipamentos que se encontra a grande chave desta Arda Recorders: “Aqui encontras um espaço diferente, com um foco no analógico, em equipamentos com um som que apresenta mais carácter, mais cor e algo mais específico. Quero que seja um espaço clássico e intemporal”. Com um design e uma estrutura moderna, ampla e extremamente capaz, os cinco estúdios construídos apresentam todas as características necessárias para um ótimo resultado, sendo que todos, à sua maneira, têm as suas vantagens e a sua identidade própria. Desses cinco espaços, três são salas de gravação, e existem ainda estúdios dedicadas a masterização e a mistura, também perfeitamente equipados tanto analógica como digitalmente.



O grande destaque é o maior estúdio de gravação, denominado Estúdio A. A “Big Bomb”, como foi descrita na visita guiada, é uma sala ampla, capaz de oferecer um leque variado de possibilidades sonoras, sobretudo através da sua capacidade de maleabilidade. O facto de permitir ter uma Echo Chamber, de apresentar vários booth interiores ou ter a presença de um belíssimo Fazioli F278 ou da consola Rupert Neve 8068, faz com que esta seja uma sala que chama logo a atenção.

É no tamanho que João Brandão apresenta a distinção entre o Estúdio A dos outros dois estúdios: “O equipamento de gravação tem a mesma qualidade, a amplificação é igual, os microfones são os mesmos, em termos de qualidade não se perde nada de estúdio para estúdio, o que muda é o tamanho. Se queres gravar um saxofone, não faz sentido o estúdio A, podes usar o B que se ajusta muito mais”. Essa capacidade de moldagem do estúdio para com os projetos é uma das qualidades apresentadas pela Arda Recorders. Ao contrário do estúdio maior, o Estúdio B, que possui uma Rupert Neve 5088, apresenta uma dimensão média e é o espaço indicado para gravar todo o tipo de instrumentos, enquanto o C (o mais pequeno) é sobretudo orientado para gravar vocalizações, podendo, inclusive, ser utilizado para a vertente audiovisual, um mercado que não procuram explorar mas que conseguem receber.

Outra opção disponível na Arda Recorders é a de gravar em fita magnética, sendo, muito possivelmente, um dos poucos espaços em Portugal capaz de gravar nesse suporte. Segundo nos foi confidenciado, a procura tem sido muita, algo que se tem sentido em relação a todos os cinco estúdios. Desde que iniciou as suas operações, a Arda Recorders obteve uma procura muito alta e diversificada, mesmo que para já isso ainda pareça impercetível, uma vez que muitas gravações ainda não foram editadas. No entanto, brevemente vamos observar que os estúdios já marcam uma posição e uma dinâmica interessantes na música nacional, até porque é um espaço capaz de gravar todos os tipos de som: “Hoje à tarde gravamos rock, à noite podemos gravar hip hop, e amanhã até podemos estar a gravar canto lírico”. Foi este o exemplo que permitiu perceber o dinamismo que se tem sentido nos estúdios e que se espalha por outros espaços de apoio do complexo, como por exemplo a cafetaria, o jardim ou a Fonoteca Municipal do Porto, um abrigo de mais de 35 mil vinis que a Câmara do Porto encontrou nas salas da Arda. São tudo espaços abertos ao público e que ajudam a construir uma sinergia e um ambiente agregador, algo que João Brandão considera importante e, desde sempre, um dos focos e necessidades do projeto.



Junto com os estúdios, este hub, como foi várias vezes referido, alberga um núcleo interessante de empresas ligadas ao mundo da música, como a Lovers & Lollypops ou a Sessiondesk, empresa alemã de construção de mobiliário para música, ou os espaços de trabalho de gente como André Tentugal (We Trust) ou de João Vieira (X-Wife, White Haus, DJ Kitten). Para isso muito contribuem estes pequenos locais, uma vez que são esses que permitem o contacto entre todos os membros até com quem visita o espaço, o que se espera que aumente agora com a abertura da Fonoteca. É de realçar, que a ocupação deste espaço é a única ligação estabelecida entre a Câmara Municipal do Porto e a Arda Recorders, contrariamente a uma ideia criada de que os estúdios teriam tido apoios financeiros.

Um último destaque importante é que a Arda Recorders apresenta-se como um espaço diferente, capaz de se ajustar a todos os tipos de som, não só pelas suas características técnicas e acústicas mas também pela capacidade e variedade no staff: “Não foi algo propositado, mas a verdade é que cada um dos produtores e técnicos tem características distintas e com isso podemos também propor qual produtor achamos mais indicado para cada projeto ”. Ao próprio João Brandão, que ocupa posições produtivas e técnicas, ainda se juntam outros nomes como Zé Nando Pimenta, que já trabalhou, por exemplo, com Arto Lindsay, ou projetos tão distintos como os Black Bombaim, o Sam The Kid ou a Orquestra Jazz de Matosinhos. Na equipa encontramos, também, Carlos Fuchs, o brasileiro que tem no seu currículo nomeações para Grammys e uma experiência enorme em gravações de jazz ou samba.

São tudo elementos que fazem deste Arda Recorders, um espaço muito dinâmico, agregador e potenciador, que se antevê como importante na criação nacional, mas também como espaço cultural do Porto.


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