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Fotografia: Adriano Ferreira Borges / Semibreve 2022
Publicado a: 28/10/2022

Sons dispersos em Braga.

A leveza reverberante de Félicia Atkinson e Violeta Azevedo no Semibreve’22

Fotografia: Adriano Ferreira Borges / Semibreve 2022
Publicado a: 28/10/2022

Arrancou ontem com uma performance de Félicia Atkinson e Violeta Azevedo, no incrível espaço do Santuário do Bom Jesus do Monte, a edição 2022 do Festival Semibreve. Antes da música, uma palavra de apreço pelo trabalho que o Semibreve tem vindo a fazer de integrar propostas de programação em diferentes espaços históricos da cidade, mas, sobretudo, naqueles que estando sob a alçada da Igreja costumam ser arredados deste tipo de eventos – no caso, além do icónico Bom Jesus há ainda, como em anos anteriores, apresentações no Mosteiro de Tibães e na Capela Imaculada do Seminário Menor. Claro que há todo o cuidado na programação para esses espaços de culto, mas no nosso país a resistência de quem gere estes locais e instituições em disponibilizá-los para outras manifestações artísticas que não tenham um cariz litúrgico é evidente. Mas, como a apresentação de ontem deixou bem claro, a envolvência acústica e arquitectónica destes espaços torna-os mesmo ideais para estas programações mais, digamos, aventureiras.

Com Félicia Atkinson no piano e voz, Violeta Azevedo em flauta, o que à distância se assemelhava a um pífaro ou tin whistle e pedais de efeitos e ainda o próprio Bom Jesus em reverberante atmosfera, a apresentação que resulta de encomenda feita em parceria com o Maintenant Festival de Rennes, França, suspendeu-nos a todos e todas durante a melhor parte de uma hora. Juntas, as artistas assinaram uma viagem de deriva ambiental que foi assumindo uma condição progressivamente intrigante, como quem se vai embrenhando numa floresta (de sons, neste caso) frondosa, com a música a ecoar bastas vezes aquilo que sonhamos a que a natureza pode soar, quase como uma versão “exótica”, no sentido “hasselliano” do termo, da música ambiental. Drones espectrais com densidade orquestral e a quase imperceptível voz de Félicia a nascer do próprio silêncio marcaram o concerto, uma suite que parece ter-se estruturado em quatro momentos, sempre cada vez mais envolventes e luxuriantes em termos texturais e harmónicos, apesar da aparente escassez de recursos. Prova clara de que a imaginação é a mais forte das ferramentas.

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