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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/08/2023

De Afrika Bambaataa a Wu-Tang Clan.

A história do hip hop contada em 50 discos

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 11/08/2023

Há precisamente 50 anos, neste mesmo 11 de Agosto, o espírito do hip hop manifestava-se através de uma festa apelidada Back To School Jam, curada por DJ Kool Herc, jamaicano-americano residente do Bronx, bairro nova-iorquino que ficaria também umbilicalmente ligado ao nascimento desta cultura de rua, que se manifestava através do som, das artes visuais ou da dança.

Em meio século de vida, muitos artistas surgiram, outros partiram, uns deixaram marca e há quem nunca tenha ido além de um pequeno culto de fãs. Entre os incontáveis discos criados dentro da grande “caixa” do hip hop, uns tornaram-se clássicos e são auxiliares perfeitos para nos re-contar uma história que é bem vibrante e plural. Em 2006, Rui Miguel Abreu curou um possível roteiro para esse longo passeio, publicado numa edição especial da revista Dance Club, que hoje recuperamos para contribuir para a celebração dos 50º aniversário de uma cultura que trouxe o género musical que hoje é um dos eixos de referência na cultura pop.


[Afrika Bambaataa] Looking for the perfect beat 1980-1985 (2001)

Afrika Bambaataa é uma peça chave na história do hip hop: formou a Zulu Nation e lançou os principais pilares musicais de toda uma cultura. E este é o álbum que reúne os seus maiores clássicos.


[Aceyalone] A Book Of Human Language (1998)

Neste álbum clássico produzido por Mumbles, Aceyalone refinou a fórmula de All Balls Don’t Bounce e honrou a linhagem de hip hop consciente que representava desde os dias dos Freestyle Fellowship.


[A Tribe Called Quest] The Low End Theory (1991)

O refinamento entre hip hop e jazz, rimas e ritmos é tão perfeito neste disco que muitos dizem mesmo ser inigualável. E os clássicos são mais que muitos: “Check The Rhyme”, “Scenario”, “Jazz (We’ve Got)”…


[Beastie Boys] Paul’s Boutique (1989)

Os Dust Brothers levaram aqui até ao limite as suas experiências de colagem de samples e criaram um disco verdadeiramente psicadélico. E os Beasties corresponderam, deixando para trás os agitados dias do 1º disco.


[Black Moon] Enta da Stage (1993)

Buckshot e Evil Dee continuaram a fazer discos e até se reuniram para mais dois álbuns, mas Enta da Stage captou de forma singular o espírito de um tempo: é um disco negro, denso e pesado como poucos.


[Big Daddy Kane] Long Live The Kane (1987)

Kane, juntamente com Rakim, é um dos responsáveis por elevar a arte da rima até aos patamares que hoje conhecemos. E neste seu álbum de 87 exibe a classe dos seus flows por cima dos beats do enorme Marley Marl.


[Boogie Down Productions] Criminal Minded (1987)

KRS-One e Scott la Rock criaram aqui um verdadeiro monumento à força de toda uma cultura: palavras como armas de arremesso e beats como banda sonora da revolução. O mundo nunca mais foi o mesmo.


[Common Sense] Ressurection (1994)

Antes de passar a chamar-se apenas Common, este homem aliou-se à música de No I.D. para debitar rimas que elevaram a arte definida por Rakim quase uma década antes. “I Used to Love H.E.R.” é um dos expoentes.


[Company Flow] Funcrusherplus (1997)

O grupo de El-P, Mr Len e Big Jus definiu a sonoridade da explosão indie de finais dos anos 90. Com edição na mítica Rawkus, este álbum colava beats de densidade elevada a rimas abstractas.


[Cypress Hill] Cypress Hill (1991)

De Los Angeles, certo, mas com uma sonoridade que era Nova Iorque puro. Hip hop arrastado e pesado, com rimas alimentadas a fumo e pressão urbana: “How I Could Just Kill a Man” ou “Hand on the Pump” são clássicos.


[De La Soul] 3 Feet High And Rising (1989)

Prince Paul, Posdnuous, Trugoy e Maseo estavam em fogo neste álbum feito de mil e um samples, refinado humor e uma estética radicalmente nova, com menos “macho bullshit” e mais arte, balanço e positivismo. Todos os temas são clássicos e este é um álbum perfeito.


[Diamond D & The Psychotic Neurotics] Stunts, Blunts & Hip Hop (1992)

Quando os samplers invadiram o hip hop o diggin’ tornou-se numa religião e Diamond D passou, claramente, a ser um dos seus profetas. Este álbum permitiu a Diamond tornar-se num requisitado produtor que assinou beats para gente como os Fugees ou House of Pain.


[Digable Planets] Reachin’ (A New Refutation of Time and Space) (1993)

Todos os membros tinham nomes de insectos (Butterfly, Doodlebug, Ladybug), mas a música que criaram era enorme. Fusão inteligente de jazz e hip hop, Reachin’ definiu uma época e ficou para a história.


[DJ Shadow] Endtroducing….. (1996)

Endtroducing representa o ponto máximo do refinamento da arte de fazer música com base no sampling. Shadow elevou tanto a fasquia que ainda hoje este disco — que criou escola — é uma referência incontornável.


[Double Dee & Steinski] Lessons 1-3 (1985)

Antes dos samplers, as colagens faziam-se com fita analógica, tesoura e cola. E Double D aproveitou o ritmo do hip hop para fazer discos que eram autênticos tratados estéticos da cultura. We interrupt this broadcast…


[Dr. Dre] The Chronic (1992)

Depois dos N.W.A. o gangsta rap precisava de uma obra-prima e foi isso mesmo que Dr. Dre fez com The Chronic, disco com imparáveis grooves de funk, linhas de baixo dilatadas e rimas arrastadas pelo fumo. Classe.


[Dream Warriors] And Now The Legacy Begins (1991)

Jamaica, jazz e hip hop pela via de Toronto, no Canadá. Legacy samplou o Quincy Jones de Big Band Bossa Nova em “My Definition Of A Boombastic Jazz Style” e pôs o mundo inteiro a dançar um mesmo ritmo. Utopia.


[Dr. Octagon] Dr. Octagonecologyst (1996)

Kool Keith é tanto deste planeta como Sun Ra. Visionário louco do hip hop que já nos Ultramagnetic MCs se distinguia, aqui Keith trabalhou com Automator para nos dar um álbum feito de ficção científica e delírios médicos. Um clássico.


[Edan] Primitive Plus (2002)

Edan é um nerd do hip hop que condensa em cada beat um pedaço da história desta cultura. Edan é um estudioso, da velha escola sobretudo, e a sua música reflecte isso mesmo, tanto nos beats fantásticos como nas rimas sui generis.


[Eric B & Rakim] Paid In Full (1987) 

A arte da rima foi aqui revirada e apontada directamente ao futuro. Rakim trouxe uma série de inovações, mas colocou-as em música acessível que traduziu o espírito de uma época. “I Know You Got Soul” é insuperável.


[Fugees] The Score (1996)

Lauryn Hill, Pras e Wyclef assinaram, ao segundo álbum, uma obra maior em que o hip hop servia para elevar os espíritos. Clássicos? Mais que muitos: “Fu-Gee-La”, “Ready Or Not”, “Killing Me Softly”… 


[Gang Starr] Daily Operation (1992)

Cada álbum dos Gang Starr é um clássico e cada um tem argumentos que parecem insuperáveis, mas a escolha aqui recai sobre o disco que trouxe “Ex-Girl To Next Girl”, “Soliloquy Of Chaos” e “No Shame In My Game”. Muito bom.


[Grandmaster Flash & The Furious Five] The Message (1982)

Bastaria o tema “The Message”, a primeira vez que o hip hop foi além do “yes yes y’all” que caracteriza a velha escola, para imortalizar este álbum, mas há outros grandes grooves: “She’s Fresh” ou “Scorpio”.


[GZA] Liquid Swords (1995)

Directamente do campo dos Wu-Tang chegou GZA com um álbum onde os combates de rimas são alvos de metáforas que metem artes marciais e intrincada construção. GZA é um MC guerreiro de excepção.


[Ice Cube] Death Certificate (1991)

Depois dos N.W.A., Ice Cube cresceu e mostrou-nos o lado negro da vida violenta dos ghettos de Los Angeles. Death Certificate é um disco hardcore que no entanto reflecte uma realidade ainda mais hardcore.


[Jay-Z] Reasonable Doubt (1996)

Jay-Z é hoje uma mega-estrela e patrão da Def Jam, mas há uma década era um hustler que vinha das ruas e queria provar o seu valor. E conseguiu-o com um clássico que o afirmou como grande MC.


[Jungle Brothers] Done By the Forces of Nature (1989)

Mais hip hop das Native Tongues apostado em reinventar o funk e injectar positivismo numa realidade por vezes pouco positiva. “Tribe Vibes” é um dos clássicos.


[Jurassic 5] Quality Control (2000)

Los Angeles, Cut Chemist, funk, diggin’, grandes grooves, velha escola… tudo ingredientes que passaram no controle de qualidade e deram origem a este potente cozinhado dos J5!


[Kanye West] The College Dropout (2004)

Depois de produzir para Jay-Z, Kanye quis afirmar-se também como MC e estreou-se à sombra do patrão da Def Jam. E o resultado foi um estrondo feito de samples de soul clássica.


[KRS-One] Return of The Boom Bap (1993)

Uma das vias do hip hop foi sempre o combate: de ideias e rimas, mas também de ideologias e políticas. E KRS-One é um soldado incansável na defesa desta cultura. Este álbum é a prova.


[Kurtis Blow] Tough (1982)

Foi em Kurtis que o império de Russell Simmons, que era o seu manager, começou: Kurtis é um expoente da velha escola e foi o primeiro a ter contrato com uma major. E escreveu “The Breaks”!


[LL Cool J] Radio (1985)

LL era apenas um adolescente quando gravou com Rick Rubin este Radio. Mas ajudou a impor a marca Def Jam e a mudar a face do hip hop.


[Main Source] Breaking Atoms (1991)

Large Professor na produção e um jovem Nas a fazer a sua primeira aparição em disco fazem deste disco um clássico obrigatório. “Looking At The Front Door”, por exemplo, transpira groove e classe.


[Mantronix] The Album (1985)

Kurtis Mantronik, líder deste projecto, é um dos menos celebrados heróis da primeira metade dos anos 80. Colou electro e hip hop como poucos e ajudou a carreira de KRS-One e até EPMD.


[Missy Elliott] Under Construction (2002)

Missy é um verdadeiro ícone. E neste álbum de 2002 ela levou a sua visão pessoalíssima do hip hop – onde r&b e velha escola se misturam – até aos limites.


[Mos Def] Black On Both Sides (1999)

Liricista de primeira água, Mos Def conseguiu com este seu álbum de estreia a solo levar a Rawkus até ao seu ponto mais alto. “Umi Says” ou “Ms. Fat Booty” são impressionantes.


[Nas] Illmatic (1994)

Quando Nas se estreou com Illmatic a intenção era reclamar o trono de Nova Iorque. A excelência de “NY State of Mind” ou “It Ain’t Hard to Tell” diz-nos que conseguiu.


[The Notorious B.I.G.] Ready To Die (1994)

Carisma maior do que a vida, flow pessoalíssimo, rimas carregadas de imaginação e alma directamente roubada à rua é o que faz deste disco uma obra-prima!


[N.W.A.] Straight Outta Compton (1988)

A revolução do ghetto passou por aqui. A partir de Compton, os N.W.A. glorificaram a vida de crime dos ghettos e arranjaram público nos subúrbios brancos. As voltas que a vida dá…


[Outkast] Aquemini (1998)

Quase uma ópera hip hop, Aquemini é impossivelmente refinado e já dá uma ideia do que iria ser o futuro mega-platinado do duo. Ouça-se “Rosa Parks” ou “Liberation”.


[Pete Rock & CL Smooth] Mecca and The Soul Brother (1991)

Pete Rock com CL Smooth é uma daquelas combinações impossíveis de superar. Neste álbum deram-nos o monumental “T.R.O.Y.” e uma lição na arte das rimas e batidas.


[The Pharcyde] LabCabInCalifornia (1995)

Este álbum poderia ter apenas “Runnin’” e ainda assim reclamar o seu merecido estatuto de clássico. Mas tem muito mais: tem “Drop” e tem “She Said”, por exemplo.


[Public Enemy] Fear Of A Black Planet (1990) 

Chuck D e a Bomb Squad, que assegurou um nível elevadíssimo de experimentação com os Public Enemy, garantiram o estatuto eterno deste disco recheado de clássicos.


[Queen Latifah] All Hail The Queen (1989)

Hoje, Latifah é uma bem sucedida comediante, mas já chegou a ser uma das mais importantes sistas no mundo do hip hop. Porque rimava como poucos sobre assuntos cruciais.


[The Roots] Things Fall Apart (1999)

Neste álbum, os Roots de Questlove e Black Thought elevaram a fasquia do rap consciente com uma produção absolutamente impecável. “You Got me” é um dos pontos altos.


[Run-DMC] Raising Hell (1986) 

Adeus velha escola! Os Run DMC trouxeram para dentro do hip hop uma atitude mais ligada às ruas e um carisma que se traduziu nos primeiros galardões de platina desta cultura.


[Slum Village] Fantastic Vol. 2 (2000)

Jay Dee era um produtor de excepção e neste álbum mostrou isso mesmo integrado num espírito de grupo perfeito. A arte profunda dos seus beats e as rimas dos seus MCs estavam em estado de graça.


[Sugarhill Gang] Sugarhill Gang (1979)

Foi aqui que tudo começou. Este disco provou que o hip hop era uma cultura vibrante, capaz de gerar sucessos e de mexer com as pessoas nos clubes. Nunca mais se parou.


[2Pac] All Eyez On Me (1996)

Mais um ícone que foi igualmente um mártir. Em All Eyez On Me, 2Pac definiu a sonoridade gangsta e prestou homenagem ao p-funk em “Califórnia Love” ao lado de Roger Troutman.


[Wu-Tang Clan] Enter The Wu-Tang (36 Chambers) (1993)

Uma crew organizada como uma unidade de combate de elite, cada um com um skill muito próprio, beats duros e perfeitamente hardcore, aura de filme de artes marciais. Impressionante…

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