[TEXTO] Ricardo Miguel Vieira [ENTREVISTA] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados
Mr. Herbert Quain é Manuel Bogalheiro, um convertido à electrónica que começou por manipular as cordas de guitarra clássica e que hoje tem produções que misturam recortes de filmes, canções, entrevistas, discursos e vozes. Com dois discos editados na Zigur Artists, How I Learned To Stop Worrying and Start Loving the Waiting, 2012, e Forgetting is a Liability, 2014, já é um nome que salta de conversa em conversa quando se fala de electrónicas ambientais made in Portugal. Vai subir à cabine do Jardim Sonoro do Lisb-On, pela segunda vez, às 15 horas de 6 de Setembro. Antes desse regresso ao Parque Eduardo VII, partilha ideias soltas sobre a experiência no festival que este ano apresenta um cartaz com nomes como Todd Terje, Jazzanova ou Nicolas Jaar.
Estiveste presente na edição 2014 do Festival Lisb-On? Que impressões recolheste?
Adorei o festival! Os artistas escolhidos, o ser durante o dia, ter aquele enquadramento natural mas ser em pleno centro da cidade, ter chovido a meio do live-act do Isolée e ter-se gerado uma cena que hoje recordo como meio ritualista.
O Lisb-On afirma uma certa diferença como festival. Enquanto artista, o que acreditas que o diferencia?
É uma pergunta difícil porque estive lá como ouvinte e acho que ainda não me consegui bem pôr bem no papel de quem vai estar do outro lado. Mas acredito que este festival se possa diferenciar por apresentar alguns dos artistas internacionais que mais interessam, desde a electrónica ao jazz, sem perder um pouco daquele carácter inimista que tem uma festa de (muitos) amigos num jardim qualquer.
Podes destacar-nos três momentos que gostarias de presenciar no cartaz deste ano?
Não é fácil porque é um excelente cartaz e identifico-me muito com este leque de artistas. Alguns, aliás, tiveram uma boa influência na música que faço. De qualquer forma, a ter de destacar alguns, aponto os live-acts do Palms Trax e de Andras & Oscar, ambos por nunca ter visto e estar com muita curiosidade. E, já agora, o concerto dos Jazzanova, pela oportunidade rara que é poder (re)ver esta banda, já clássica, em Portugal.
Tens alguma coisa especial preparada para a tua passagem pelo Lisb-On?
Tento sempre que cada actuação seja especial. Ao fazer live-act e trabalhar com o conjunto (finito) dos meus temas, procuro sempre reiventá-los, para minha própria diversão, e para proporcionar a quem me ouve uma experiência diferente daquela que ficou gravada nos dois álbuns. Apesar deste “esforço” constante, não nego que os investimentos sejam reforçados dada a importância que tem para mim tocar num festival como este.
Tiveste um Verão agitado, com passagem por alguns eventos de grande impacto. Tocar num festival é diferente de tocar num clube? Abordas essas datas de forma diferente?
Sim, penso que são experiências diferentes. Talvez nos festivais haja mais predisposição do público para encarar o conceito de live-act como um formato próximo do de um concerto tradicional. Nos clubes é diferente e, sobretudo quando se toca a horas mais avançadas da noite, acabamos por estar um pouco mais condicionados ao efeito que a pista-de-dança tem. E esse aspecto, num caso como o meu em que apresento um live-act que geralmente tem batidas lentas, tem-me dado um gosto especial ao perceber como as pessoas reagem a isso em contexto de pista.
Forgetting is a Liability já conta um ano e meio de vida. Como vês esse álbum a esta distância?
É um álbum que, aos meus ouvidos, amadureceu. Na altura, disse-o nalguns sítios, percebi-o como um álbum de transição. Hoje já não o vejo tanto assim e consigo percebê-lo mais como o ponto a que, na verdade, queria chegar.
Enquanto produtor, em que é que tens andado a trabalhar desde o teu último álbum?
Trabalhei nalgumas remisturas que entretanto vão sair e fui esboçando novos temas que acabo por integrar nos lives; talvez venha a editar alguns deles mais para a frente. Mas, sobretudo, tenho procurado explorar e reinventar o meu live-act. Acabei por descobrir que a lógica criativa que aplicamos numa performance ao vivo, com todos os erros e as imprevisibilidades que implica, pode ser muito útil para a lógica de estúdio, mais pensada, mais faseada e, irredutivelmente, menos espontânea.
A música electrónica, dizem alguns, tornou-se omnipresente, as ferramentas nunca foram tão acessíveis. Não há o risco da sua vulgarização?
Penso que esse risco é inerente a qualquer “instrumento” de criação. Mas dependerá sempre dos usos que dele se extraírem. Acredito que mais do que preocupados com essa vulgarização, devemos estar excitados com todas as potencialidades criativas que efectivamente a tecnologia democratiza e oferece na actualidade.
Em termos de edições novas, podes levantar o véu ao que aí vem?
Tenho uma remistura nova a sair numa compilação intitulada Antologia, que a Zigur Artists lançou agora, e espero ter música nova para sair em 2016.
Uma música que de certeza vais tocar no Lisb-On e porquê?
Talvez a “After Waiting, You’ll Have It Twice“, porque acho que merece um jardim e uma boa tarde de sol.
O festival Lisb-On realiza-se a 5 e 6 de Setembro no Parque Eduardo VII. Bilhetes à venda a partir do site oficial do evento.
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