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Fotografia: Ana Viotti
Publicado a: 26/04/2019

O encontro musical de Prétu e Norberto Lobo aconteceu na véspera do Dia da Liberdade.

A construção de uma união feliz nas Carpintarias de São Lázaro

Fotografia: Ana Viotti
Publicado a: 26/04/2019

A 24 de Abril de 1974, Portugal preparava-se para uma mudança radical; em 2019, 45 anos depois, dois artistas encontraram-se nas Carpintarias de São Lázaro, em Lisboa, para celebrar e devolver algum poder à palavra “liberdade”, num evento que antecipava a edição deste ano do IndieLisboa e que está inserido na iniciativa Casório, ideia sustentada pelas marcas Musa e Jameson.

Depois da estreia destes “matrimónios improváveis” com Moullinex e Quim Albergaria, Prétu, mais conhecido como Chullage, e Norberto Lobo foram os protagonistas do “casamento” artístico que, para muitos, terá sido como a concretização de um sonho distante: estamos a falar de dois nomes de primeira linha da música portuguesa que, por norma, não se cruzam nos mesmos círculos.

Sentada à mesa como se estivesse a experimentar todas as possibilidades desses tais cruzamentos de linguagens musicais, a dupla explorou a “maquinaria” (e nesse arsenal podemos também incluir as vozes) e as folhas à sua mercê: o autor de Rapresálias, a recuperar a sua identidade mais vincada em AKapella47, disparou versos ardilosamente montados que giraram à volta de uma visão crítica sobre a sociedade actual; o virtuoso guitarrista (que é muito mais do que isso) tratou de pintar os contornos, e um pouco mais, com riffs de guitarra e apontamentos vocais que estarão mais perto daquilo que fez recentemente com Montanhas Azuis (Bruno Pernadas, outra das três partes do grupo, marcou presença na audiência) do que propriamente dos seus trabalhos a solo.

Há, neste encontro de grandes mentes, outro ponto importante a considerar. Apesar de serem amplamente valorizados pelas particularidades que os introduziram ao grande público, Prétu e Norberto Lobo têm outras camadas que importam tanto como aquilo que os impôs inicialmente: o primeiro andou na estrada com Scúru Fitchádu e parece que vai levar isso para o seu próximo projecto, que terá “samples de música cabo-verdiana e angolana (maioritariamente de intervenção) sequenciados com electrónica negra e percussão”; o segundo, para além dos já mencionados Montanhas Azuis, afastou-se nos últimos anos de uma abordagem mais convencional à guitarra e começou a experimentar o instrumento ao mesmo tempo que descobriu outros.

No meio disto tudo, o espaço entre os dois desvaneceu-se nessa vontade de se encontrarem num terreno neutro em que não era suposto tirar-se o melhor de cada um, mas sim aquilo que resulta do inesperado. E não existe maior “livreza” do que não nos preocuparmos com o final…

O público (que se dividiu entre os atentos e o já comum burburinho de fundo a poluir a actuação) preencheu a renovada sala e não saiu até ao último segundo do DJ set de Rui Miguel Abreu, que tocou antes e depois do Casório, e viajou de Zeca Afonso a ProfJam, passando por Batida ou Travis Scott, entrando pela madrugada fora a fazer uso daquilo que tanto prezamos: a liberdade de escolha.


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