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Texto: Paulo Pena
Fotografia: Tory
Publicado a: 27/10/2020

Demonstração de força antes do longa-duração.

9 Miller: “Carne de Cão é uma expressão que faz sentido não só no rap como na minha vida pessoal”

Texto: Paulo Pena
Fotografia: Tory
Publicado a: 27/10/2020

De caninos afiados, e com a mesma fome de sempre, 9 Miller serviu-nos Carne de Cão, um EP composto por sete faixas que antecede o seu primeiro álbum, previsto para 2021. Reflexo das suas origens, assumidas sem complexos em cada faixa, este é um osso duro de roer e carne cheia de nervo que serve de carapaça para o rapper da Linha da Azambuja.

Auxiliado desta vez por benji price, Mizzy Miles, Beatoven, Agir, DJ Big e James Gold, Mauro Passinhas continua a caminhar com um pé de cada vez, assentando-os devidamente no chão, ciente dos buracos que a estrada pode ter. É a história do gato escaldado; mas aqui a carne é de cão, e não se recomenda a ouvintes com dentes de leite. 



Com o álbum já anunciado para o próximo ano, este EP é uma entrada para esse prato principal, ou são dois projectos completamente distintos?

O álbum em si vai ter um pouco de Carne de Cão, mas no geral vai ser uma proposta diferente. Fico contente por imensas pessoas terem elogiado a diversidade do Carne de Cão, até porque no álbum a diversidade também lá vai estar.

O título Carne de Cão tem algum significado em particular?

Carne de Cão é uma expressão antiga, bairrista, que significa resistência, força. A primeira vez que ouvi essa expressão foi quando um senhor, de mais idade, caiu e, quando o fui tentar ajudar, a resposta dele foi logo, “’tá tudo bem, rapaz, isto é carne de cão”. Desde esse momento que fixei a expressão e quando fechei o EP achei que fazia sentido utilizá-la. Para mim é uma expressão que faz sentido não só no rap como na minha vida pessoal.

Neste projecto, o que te aliciou mais: apurar a escrita ou explorar sonoridades?

Um pouco de ambas, mas talvez mais as sonoridades. Até porque a nível de escrita tenho imenso conteúdo no EP que já tinha escrito há algum tempo. É um verdadeiro desafio explorar outras sonoridades sem perder a minha identidade, mas é um processo que gosto muito de fazer.



A “Só Eu Sei” é talvez a faixa em que te abres mais neste EP, e, por outro lado, é a única com participações. O que te levou a incluir o Tóy Tóy T-Rex e o Phoenix RDC nesta em especial?

Quando a ideia do “Só Eu Sei” foi fechada, pensei automaticamente em convidar o T-Rex e Phoenix RDC para entrarem. Acabou por ser uma escolha óbvia.

Na verdade, o “Só Eu Sei” era para estar presente no álbum, assim como o “De Volta” e o “Sangue” mas, sendo que o álbum foi adiado, para mim fez todo o sentido adicionar esta faixa ao EP, pois ia ao encontro do conceito.

 “O cuspir é que é importante”. O teu processo criativo em cada canção tem sempre início, necessariamente, na punchline?

Nem sempre. Se for algo mais melódico ou um tema específico esse factor punchline deixa de ser prioridade. Embora tente sempre colocar algo, porque isso já é natural em mim e faz parte do meu processo criativo. Mas quando é egotrip o caso muda de figura. É um “Segura-te, Lurdes”. [Risos]

Começas a “UAU” com “agora anda tudo preocupado com o que é hip hop ou não”.  A versatilidade deste projecto contribui para desmistificar essa separação?

Sim, sem dúvida. Sou totalmente contra do que se diz “o verdadeiro hip hop”. Não é por gostares mais de um tipo de rap, ou por ser mais antigo que é o “real” ou que é bom, isso é uma estupidez… Eu gosto de vários tipos de rap, e gosto de explorar todas as vertentes e, desde que me sinta capaz de executar, vou sempre fazê-lo.



Ao longo do EP referencias rappers como Xeg, Valete, Regula, Sam The Kid ou Plutónio. Quando dizes, na “Wappa / Frozen”, “rappers todos no jogo da cadeira”, sentes que o facto desse tipo de menções honrosas não ser habitual no rap português revela uma competição contraproducente?

É um bocado relativo, mas de certa forma sim. Há muitos artistas novos que se esquecem que correm o risco de serem apenas uma moda e nunca chegar ao ponto de marcar realmente a história do rap. E depois agem como se fossem lendas vivas por milhões de views, ouros e platinas.

Por outro lado existem alguns OGs que desvalorizam totalmente a new school. Acham impossível alguém novo poder vir a chegar aos seus calcanhares e são ainda confrontados com o facto desses artistas fazerem muito dinheiro com a música e a terem reconhecimento, tudo num curto espaço de tempo. Acabam por se comparar com eles que estão aqui há anos e anos e nada. Acredito que seja frustrante, mas acho que esse tipo pensamentos só cria inveja, ódio e desorganização mental e que no final acaba por te fazer dizer coisas sem sentido e desviar-te do teu foco principal.

Para mim a dica é fazeres a tua música e saberes lidar com o sucesso e com a rocha, ponto final. É uma pena existirem este tipo de guerras até porque na verdade saíam todos a ganhar, principalmente o hip hop.

Houve algum tema que ficou de fora para ser incluído no próximo álbum?

Sim, claro. Tenho temas que não faziam sentido dentro do próprio conceito do EP. Mas o meu álbum está a levar um grande refresh. Existem muitos temas que decidi deixar de lado. Com o passar do tempo, existem sons que gostas mais ou menos e que acabam por perder o sentido.

Há mais algum vídeo a caminho? Ou alguma forma de apresentação do EP, já que as medidas de segurança em espaços públicos estão a voltar a apertar?

Sim, quero lançar mais um vídeo, ou talvez vídeos, mas ainda estou a explorar essa hipótese. A nível de apresentação do EP ao vivo, dada a situação actual, neste momento não é uma prioridade. Mas assim que tiver novidades, ponho-vos a par!


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