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Publicado a: 24/12/2017

7 rappers escandinavos que vão aquecer o vosso Inverno

Publicado a: 24/12/2017

[TEXTO] Hugo Jorge [ILUSTRAÇÃO] Bruno Lisboa

Antes de fazerem scroll down lista abaixo, recomendamos que vistam o sobretudo e preparem-se para ajustar as vossas percepções sobre o rap nórdico (se é que as tinham). Talvez o clima ajude a explicar a qualidade do hip hop que se faz a norte da Europa. Afinal, quando a temperatura bate nos zero, quem se atreve a sair de casa?

Mas mais do que um bom produto de estúdio, o hip hop escandinavo vale como expressão cultural. O facto de a maioria dos rappers que aqui estão rimar na sua língua materna e abordar o seu próprio contexto empresta a este movimento uma dose de genuinidade louvável. Aqui fala-se de política, sexismo, doenças e sentimento. Claro que há sempre espaço para as referências ao estilo de vida dos rich and famous mas, mesmo aí, estas são apresentadas de uma forma original e descomplexada.

Para começar, aqui ficam sete rappers nórdicos escolhidos pelo Rimas e Batidas.

P.S. Estendemos a região da Escandinávia, habitualmente associada a Suécia, Noruega e Dinamarca, à Finlândia.

 


[Cledos] (Finlândia)

A democratização do hip hop é uma coisa bonita de se ver: tornou-se num trampolim gigante para um sem número de talentosos anónimos que um dia acorda e decide começar a fazer música. Para o finlandês Cledos, que há um ano não sonhava com uma carreira e ainda vivia em casa dos pais, o salto para o reconhecimento foi quase instantâneo. Talvez por isso o próprio diga que não é bem um rapper, mas uma espécie de outsider à procura de uma forma de expressão. O resultado de tudo isto? Uma combinação entre as sonoridades do trap norte-americano e a coreografia desenvolta de uma personagem que não se leva demasiado a sério (nos seus vídeos, Cledos tem como trademark lavar os dentes). A explosão no Youtube culminou recentemente com um EP de estreia, ALO. Rimando quase exclusivamente em finlandês, Cledos é ainda um fenómeno local.

 


[Mwuana] (Suécia)

A melodia caribenha de “Allting” transporta-nos até uma praia paradisíaca de águas quentes e cristalinas situada algures na América Central. De volta à realidade, o mais provável é que Mwuana (que se traduz por “filho primogénito”) esteja no areal gélido da costa sueca onde, em três minutos, entrega-nos uma catadupa de rimas tão carregadas de ritmo e cadencia que nos esquecemos que estamos a ouvir sueco. A sua música desdobra-se com facilidade entre o afrobeat e produções trap, versatilidade que lhe vale repetidas comparações com Drake. Com um álbum acabado de sair (Thriller) nada como ouvi-lo para tirar as dúvidas a limpo.

 


[View] (Finlândia)

View não hesita em mostrar-nos o seu lado sombrio, abordando numa linguagem crua todo um espectro de estados de alma. É precisamente aí que encontramos o seu apelo enquanto artista e, sobretudo, contador de histórias. Um bom exemplo desse processo é “Lace”, faixa onde recupera o seu passado depressivo. Nascido Juuso Ruohonen, View rima em inglês, com uma fluência perfeita, guiado por uma paleta de sonoridades que variam entre grime, dubstep ou r&b. A rampa de lançamento foi em 2017, ano em que apresentou o álbum de estreia Leave a Comment e, antes, o EP Avalon.

 


[Yung Lean] (Suécia)

Provavelmente a cara mais conhecida do hip hop que se faz no frio, Yung Lean e a sua turma de Sad Boys (onde também vale a pena espreitar o trabalho de Bladee) são creditados como os embaixadores suecos do cloud rap. Com um registo monocórdico, mas inebriante, Lean criou uma atmosfera única na sua música, onde as letras, sem particular complexidade, falam directamente para uma audiência de post-millennials desiludidos com a vida real e à procura de alguém que dê voz à sua angústia. Stranger, álbum de 2017 de onde sai este “Metallic Intuition”, é mais uma viagem ao universo melancólico do rapaz triste e um marco no seu processo de maturação enquanto rapper e artista.

 


[Ivan Ave] (Noruega)

A companhia habitual de um produtor como MNDSGN é um belo cartão de visita para Ivan Ave, que este ano apresentou o seu segundo disco de originais: Every Eye. Sóbrio, ágil de rima e com um inglês perfeito, o rapper saído de Oslo encontra numa electrónica reminiscente da década de 80 o seu habitat natural. Em “Bike Lock” fala de um cadeado de bicicleta e voltas a dois, analogia à dificuldade de compatibilizar relações e carreira. Pode não ter o mesmo número de views de alguns nomes desta lista, mas é sem dúvida um dos rappers mais exportáveis que podemos encontrar a norte da Europa.

 


[Silvana Imam] (Suécia)

Este mundo não presta e Silvana Imam está cá para dizer-nos porquê. Filha de mãe lituana e pai sírio, Imam lidera uma revolução ruidosa contra a ideia utópica de uma Suécia perfeita. Cada rima é um golpe desferido contra um sistema que descreve como anti-democrático, patriarca e racista. Não se trata de um discurso político, diz, mas da sua própria história de sobrevivência. Para conhecê-la um pouco melhor vale a pena espreitar o documentário Naturkraft, do qual é extraído este “Helt Fucked”, bem como o álbum homónimo, cá fora desde 2016.

 


[Kesi] (Dinamarca)

Acabamos este pequeno périplo escandinavo na Dinamarca onde encontramos Kesi, mais um filho da Internet nascido num canal de Youtube e alimentado a views. O talento está lá, claro, e prova disso é este “Consiglieri”. Dizem-nos os códigos da máfia que o termo designa o braço direito do chefe, referência que Kesi apropria-se para falar de lealdade e de família, aquela que vem sempre primeiro do que os negócios. A mensagem encontra um equilíbrio perfeito na batida carregada e produção minimalista de “Consiglieri”.

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