Era digital, informação à velocidade da luz. Vídeos e músicas a soçobrar pelas plataformas virtuais. Novidades emaranhadas entre si, confusão sónica, sentidos desorientados. Quem nos guia? Por onde vamos? Para onde vamos?
7 Dias, 7 Vídeos é o resgate audiovisual semanal nos terrenos do hip hop e electrónica. Filtragem de qualidade, barreira contra a poeira que nos cega com tanto de novo, com tanto para espreitar e escutar.
[Branko] “N’Essa Rua” feat. Tainá
A Internet pediu e Branko deu. Depois de uma remistura rudimentar da canção tradicional “Se Essa Rua Fosse Minha”, as reacções vindas dos dois lados do Atlântico — de Portugal e do Brasil — motivaram o produtor a edificar uma versão de estúdio para o tema, lançando o convite a Tainá para dar voz a esta sua nova (re)criação. De cantiga de embalar a música de baile, “N’Essa Rua” peca apenas por não nos ter chegado a tempo de aquecer ainda mais as noites do último Verão, mas tem tudo para se eternizar no novo cancioneiro lusófono que atravessa um período bem interessante da sua evolução.
[monte booker] “defense” feat. Nami
Os percursos de monte booker e de Nami têm algo em comum: ambos são artistas que se habituaram a trabalhar com alguns dos maiores nomes da indústria musical e que escolheram 2025 para se lançarem de forma mais afincada em carreiras a solo. O primeiro vai lançar dentro de um par de semanas o seu muito aguardado registo de estreia Noise (Meaning) e convidou o segundo, um alquimista cabo-verdiano sediado em Los Angeles que lançou WARM em Maio, para ingressar numa das faixas que foram servidas antecipadamente. O toque sedoso de ambos faz deste “defense” um rio de mel que transborda dos headphones — certamente um dos temas mais sonantes que vamos poder encontrar no primeiro LP de monte booker.
[Norman Sann] “UNANIMOUS”
Norman Sann tem a lição bem estudada e temas como “Dance at a Funeral”, “Schedule I” e “Ugh!” mostraram-no a ir ao encontro de diferentes “escolas” e a passar com distinção nos respectivos exames. Sem estar a criar uma sonoridade propriamente nova, o MC texano é exímio na versatilidade que ganhou ao inspirar-se naqueles que o antecederam ao microfone e um incansável praticante que está a lançar novo material a um ritmo alucinante. São dezenas de singles e projectos que colecciona desde 2019 numa discografia que vale muito a pena mergulhar para descobrir alguns dos melhores bangers que têm escapado aos radares do mainstream, como este feroz e jazzístico “UNANIMOUS”, um deep cut do seu último Abnormally Norman que ascendeu a single nos últimos dias.
[Monteiro] “Click”
Num mundo de loucos, saem a ganhar os mais espertos que, como Monteiro, sabem canalizar qualquer tipo de má energia para um microfone. É um “Click” que nem sempre está ao alcance de todos, mas quando acontece transforma vidas e faz brotar arte nova até dos locais mais sombrios. Sem filtros, o rapper de Mem Martins volta a embandeirar o flow corrido com que se lançou às feras em “Sintra Zoo” e chega aqui ao seu quarto single de 2025.
[Sessa] “Nome de Deus”
Mais groovado, mais quente e com arranjos ainda mais luxuosos, que remetem a um estética vintage de quando a música era criada em estúdios analógicos apenas com recurso a instrumentos reais. Depois de “Vale a Pena”, Sessa volta a encurtar o caminho rumo ao seu terceiro álbum com este “Nome de Deus”, um tema cheio de ginga onde a monotonia da voz do cantautor brasileiro dança alegremente sobre um festím de ritmos. Pequena Vertigem de Amor chega a 7 de Novembro pela norte-americana Mexican Summer e volta a ter a produção de Biel Basile, que tem trabalhado com alguns dos nomes mais entusiasmantes do Brasil e é também baterista da banda liderada por Tim Bernardes, o Terno.
[reggie] “NEW HEADSTONE need MIX”
Quem está vivo sempre aparece e reggie é mais do que bem-vindo ao actual cenário da música global. Depois de conquistar a atenção de meio mundo com uma muito interessante sucessão de singles entre 2020 e 2021, o artista de Houston, Texas, eclipsou-se do mapa numa altura em que só faltava um disco para lhe coroar o auspicioso arranque de carreira, tendo apenas surgido muito a espaços em algumas colaborações. Em Setembro voltou finalmente a dar sinais de vida com “congrats!” e confirma que veio para ficar com este assombroso misto entre soul e folk que é “NEW HEADSTONE need MIX”, deixando desde logo antever que pode muito bem ser desta vez que regista o seu nome numa obra mais extensa pela primeira vez.
[BLK ODYSSY] “HEARTBREAK”
O que reggie fez com singles, BLK ODYSSY fez com discos, tendo angariado uma legião de fãs dedicados e cimentado um estatuto de culto com uma sonoridade de banda estilo hip hop meets soul que deu imensos frutos em menos de meia década. Depois de BLK VINTAGE (2021), DIAMONDS & FREAKS (2023) e 1-800 FANTASY (2024), o projecto liderado por Sam Houston não dá sinais de abrandamento e abraça o lado mais funky do indie rock neste pulsante e viciante “HEARTBREAK”, a segunda faixa nova que assina no presente ano.