7 Dias, 7 Vídeos

Era digital, informação à velocidade da luz. Vídeos e músicas a soçobrar pelas plataformas virtuais. Novidades emaranhadas entre si, confusão sónica, sentidos desorientados. Quem nos guia? Por onde vamos? Para onde vamos?

7 Dias, 7 Vídeos é o resgate audiovisual semanal nos terrenos do hip hop e electrónica. Filtragem de qualidade, barreira contra a poeira que nos cega com tanto de novo, com tanto para espreitar e escutar.

[Ino Casablanca] “Dima Rave”

Para os mais atentos, o nome de Ino Casablanca é já sinónimo de rapper diferenciado pelos flows e sonoridades refrescantes que tem trazido para cena hip hop francesa. Ao crescer entre França, Marrocos e Espanha, a sua arte adquiriu uma identidade muito própria com referências em diferentes coordenadas do globo, fundindo muitas vezes a modernidade da cena urbana ocidental, presente em géneros como o drill ou o footwork, com tradições musicais árabes. O seu álbum de estreia, TAMARA, editado logo em Janeiro, já tinha dado excelentes indícios o seu cunho bem autoral, mas Casablanca ainda não fechou as contas para 2025 e vai aumentar o seu catálogo já em Outubro com EXTASIA, um trabalho que tem este vibrante “Dima Rave” como avanço inaugural.

[HUMAN ERROR CLUB & Kenny Segal] “Night Time” feat. E L U C I D

Os HUMAN ERROR CLUB são formados por dois teclistas e um baterista, tendo-se estreado em 2020 com um LP homónimo que os colocou na rota do novo jazz criado na era do beat. Entre 2021 e 2024, o trio conduziu alguns experimentos no laboratório de Kenny Segal, um beatmaker de referência para o hip hop alternativo que tem somado elogios acima de tudo pela parceria que tem mantido com billy woods. HUMAN ERROR CLUB AT KENNY’S HOUSE é o título mais apropriado possível para o resultado deste esforço conjunto, um disco que prima pela inovação estética e que conta ainda com vários convidados bem interessantes, como são os casos de Moor Mother, Pink Siifu ou E L U C I D, que surge ao microfone neste single “Night Time”.

[Mirai] “Sou”

Dono de 1001 flows e temas para canções, é com frequência que Mirai pára para pôr a mão no peito e auscultar o que pede a alma. É nesses momentos que escutamos os seus versos mais cristalinos e “Sou” é a mais recente inscrição num capítulo mais confessional que já fez nascer temas marcantes como “Iris” ou “Metamorfose”. O rapper apresenta a faixa como uma “representação do que é partilhar o corpo com uma persona. O ego contra o alter ego.”

[Theo Croker] “sound(e)scape” feat. Theophilus London, Nosaj Thing

Após a edição original em Junho, Dream Manifest vai contar com uma versão deluxe apetrechada com mais uma mão-cheia de faixas, cujo lançamento está apontado para 24 de Outubro. O jazz de Theo Croker continua a ganhar interessantes ramificações e o seu estilo vai-se destacando pelas nuances soul e R&B presentes nas suas composições, algo que podemos sentir bem neste “sound(e)scape”, a segunda amostra dessa reedição de Dream Manifest que se avizinha.

[Nenny] “Sdds”

“Normal”, “Quase” e “Ficar Por Cima” foram as canções que nos deram a conhecer a versão amadurecida de Nenny — mais segura, ciente do estatuto que já alcançou, mas com redobrada fome para alcançar patamares ainda mais elevados. Começa a cheirar a novo disco para os lados da jovem artista de Vialonga, mas enquanto as confirmações não chegam é hora de mudar a cassete para debater outros assuntos. Em “Sdds”, as cordas vocais de Nenny estão directamente ligadas ao coração e o resultado é um single solar que ajuda a prolongar as vibes dos romances de Verão, esculpido ao lado de uma equipa de luxo formada por Luar, Bluay,  LEFT. e Gui Salgueiro.

[DUPLA 02] “Salem Al-Dawsari”

A peça visual que acompanha “Salem Al-Dawsari” saiu há duas semanas e, após ter passado despercebida no radar do anteior 7 Dias, 7 Vídeos, passa à frente na fila para se incluir por entre esta mais recente ronda de selecções. A inventividade de Thalin e ENOW enquanto DUPLA 02 está bem patente nesta malha que integrou a sua mais recente Eterna Promessa Mixtape, já que em menos de cinco minutos o par nos massaja os ouvidos com uma proposta versátil que vai do rap experimental ao rock.

[Pecaos] “Chucro” (prod. Cassol)

É também do Brasil que nos chega a mais recente proposta de Pecaos, MC do sul de Curitiba que nos acenou com um hip hop de recorte clássico, mas sem replicar fórmulas, no álbum Bandido Com Toc, onde compilou 12 temas. Com uma película thriller sob a forma de beat, Cassol é quem dita o clima gélido deste “Chucro” ao assinar a produção que carrega com os açoites verbais que Pecaos reservou para esta que é uma das entradas mais bravas do alinhamento do longa-duração.