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Publicado a: 05/02/2018

7 Dias, 7 Vídeos

Publicado a: 05/02/2018

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Kevin Winter/Getty Images for NARAS

Era digital, informação à velocidade da luz. Vídeos e músicas a soçobrar pelas plataformas virtuais. Novidades emaranhadas entre si, confusão sónica, sentidos desorientados. Quem nos guia? Por onde vamos? Para onde vamos?

7 Dias, 7 Vídeos é o resgate audiovisual semanal no terreno do hip hop. Filtragem de qualidade, barreira contra a poeira que nos cega com tanto novo, com tanto para espreitar e escutar.

 


https://youtu.be/QeFwtA3p4Mw

[Kendrick Lamar] Live @ GRAMMYs feat. U2 & Dave Chappelle

Não quis o supremo tribunal dos GRAMMYs que DAMN. fosse considerado o melhor disco do ano. Why care? Desde 2004 que não assistimos a um artista de rap a sair da cerimónia com o máximo galardão dos prémios da música e, nestes 14 anos que passaram, há um sem número de álbuns do género que já nos trocaram as voltas vezes sem conta. Os GRAMMYs podem ainda não adorar o hip hop mas os números não mentem — a música urbana está viva e de boa saúde e nunca o rap, r&b e seus derivados viram tanto público à sua mercê como hoje.

Apesar de DAMN. ser um óptimo disco num espectro mainstream, a verdade é que a última grande obra de Kendrick veio dar inicio a um certo processo de separação das águas — os adeptos do mais aguerrido e puro hip hop são neste momento o espectro do seu público mais difícil de impressionar. Deste pequeno e insignificante canto do globo, DAMN. não foi o opus magnum de um 2017 que celebrou tantos outros lançamentos de qualidade. Há, no entanto, um factor que é neste momento inegável: K.Dot continua a crescer a olhos vistos e, enquanto artista e entertainer — no sentido mais literal da palavra –, não há muitos capazes de orquestrar as massas como Lamar o tem feito. Estes seis minutos e meio em palco na 60ª cerimónia dos GRAMMY foram dos mais bonitos e implacáveis que temos visto ultimamente e nada ficou esquecido neste belo pedaço de arte performativa — da nova roupagem musical às rimas inéditas, das coreografias à pirotecnia, juntando ainda convidados de luxo como são os U2 e Dave Chappelle. Mais um pequeno passo para Lamar que é, sem dúvida, um grande salto para o poderio mundial do hip hop.

 


[Evidence] Live @ Vevo

Não quis Evidence que tivéssemos de esperar muito tempo até podermos assistir a uma das grandes obras primas que 2018 nos tinha reservado. Weather Or Not será muito provavelmente um daqueles casos que vamos manter por perto durante todos os 12 meses que o ano tem — e, porque não, será certamente muito revisitado nos anos vindouros.

O senhor flow lento da Rhymasayers foi até aos estúdios da Vevo, em Nova Iorque, para cantar ao vivo dois dos temas do seu último disco. “Throw It All Away” e “Jim Dean” foram intercalados por uma breve conversa com Jayson Rodriguez, o host da rubrica. Evidence revela como foi o processo de criação do seu novo álbum, destacando o facto de se ter “fechado numa bolha” durante este período de concepção, deixando cada vez mais de lado o papel de “personagem do hip hop” para se focar no seu próprio “eu”. Será certamente daí que Weather Or Not ganhou o seu lado mais humano, tendo chegado aos nossos ouvidos com um cunho bastante singular — não será nada estranho que possamos estar até perante o álbum mais bem conseguido por parte do veterano Evidence.

 


[Trizz] “Myself” feat. Pomona Drey

Em Dezembro passado, Trizz assinou mais um marco importante na história do liricismo da costa oeste norte-americana. Foi através dos holandeses Below System Records que Ashes N Dust viu a luz do dia — um álbum bastante interessante face aos poucos números que Trizz ainda nos apresenta ao nível de views e seguidores, mesmo apesar dos quase 10 anos de militância que leva no hip hop.

Ashes N Dust é uma obra escura, conotada pela lírica violenta e explicita que a arma vocal do rapper californiano dispara. Nos 15 temas que compõem o seu alinhamento, há um nome que ajuda bastante a tingir de negro toda esta marcha musical — AC3 Beats, o seu habitual colaborador na produção, é quem assina as batidas do disco, carregadas de melodias aterrorizantes que se fundem com as linhas de sintetizador típicas da cena gangsta e g-funk do West Side.

 


[Erick The Architect] “Fruit Fruit Punch In Bora Bora”

O break de bateria em loop contracena com o piano e saxofone jazzy e uma linha de guitarra a lembrar o psicadélico. Poderia ser um tema de uma qualquer banda progressiva dos anos 60 ou 70, mas é Erick The Architect quem assina a produção deste “Fruit Fruit Punch In Bora Bora”. O beatmaker dos Flatbush Zombies conta aqui com a ajuda dos músicos Ruben Gallego, Jerome Alexandre, Bison e Jolin Ras num tema cujo vídeo animado sai das mãos de Alex Sarzosa e Jacob Towery.

 


[Coops] “That Jazz” (prod. Talos)

Haverá alguma coisa melhor do que uma estreia em grande? É disso que se trata com Coops e Talos, MC e produtor, colaboradores de longa data que esculpiram os seus nomes no prestigioso mural da High Focus. Os dois têm espalhado vários temas e projectos através do SoundCloud do rapper. No resumo biográfico em que se apresenta aos seus ouvintes na plataforma de stream, Coops destaca uma outra estreia de sonho, apenas ao alcance dos mais promissores artistas: foi na gigante O2 Arena que tocou os seus temas ao vivo pela primeira vez, tendo feito parte da abertura do concerto de uma lenda viva, o incontornável Nas.

Nesta ingressão na equipa da High Focus, Coops vê ainda o seu talento recompensado com a primeira edição física da sua carreira — “That Jazz” está disponível num vinil de 7”, servido em conjunto com a versão instrumental do tema, assinada por Talos.

 


[Victor Xamã] “Hey Joe” (prod. l v k s)

Victor Xamã é já um dos nomes mais cintiantes na crew Qua$imorto. Com um par de álbuns a solo lançados nos últimos dois anos, “Hey Joe” é um dos temas presentes no alinhamento do seu mais recente registo de longa duração. VE, CG — Verde Esmeralda, Cinza Granito — foi editado no decorrer de Dezembro passado com 13 faixas, quase todas elas também produzidas pelo próprio MC.

O vídeo que nos apresentou durante a semana passada é realizado por Isa Hansen e Joaquim Macruz. “Hey Joe” é um desabafo sincero numa poética referência a Jimi Hendrix. Victor Xamã abdicou de um amor que lhe era pequeno, em prol de um outro muito maior — tal como o malogrado guitarrista não vivia sem o seu instrumento, também o rapper brasileiro não se sente saciado sem uma vida regada de rimas e batidas.

 


https://youtu.be/s8B5Iiss1WQ

[7 Magos] “Reunião dos Magos” (prod. herick oLx)

Há uma nova seita a crescer na cidade de Manaus, no Brasil. São também os Qua$imorto os principais impulsionadores deste novo conceito, representados em 7 Magos por Luiz Caqui e Fernando Vários. As crews Arkaica e ZumbiStudio também se associam ao projecto e GregLocks, Ian’Lecter, Gordon e herick oLx — que também produz a batida — dão a cara pelos respectivos colectivos. Uma seita que explora o lado mais místico e oculto dentro do espectro do hip hop lusófono e que valerá a pena seguir à distância.

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