Era digital, informação à velocidade da luz. Vídeos e músicas a soçobrar pelas plataformas virtuais. Novidades emaranhadas entre si, confusão sónica, sentidos desorientados. Quem nos guia? Por onde vamos? Para onde vamos?
7 Dias, 7 Vídeos é o resgate audiovisual semanal nos terrenos do hip hop e electrónica. Filtragem de qualidade, barreira contra a poeira que nos cega com tanto de novo, com tanto para espreitar e escutar.
[South Strip] “WODDSTOCK ’99”
“I do what I want, what I want type shit.” Os South Strip estão na deles e é assim que os devem deixar ficar, até porque é desse modo que encontram o à-vontade necessário para armar uma tamanha confusão sónica, de magnitude semelhante à que se fez notar durante os motins na edição de 1999 do Woodstock. “WODDSTOCK ’99” é, por isso, uma escolha certeira para o título da nova faixa protagonizada pelo quarteto formado por Constant, Coolboifresh, Shogee2k e Shwinn, promessas do trap hardcore que se encontram afiliadas à All But 6 Records. Batida acelerada com um baixo tão pujante quanto corrosivo e uma descarga lírica digna de terapia de choque geram a algazarra entre os phones e fazem qualquer um querer provocar a desordem. Só não virámos a secretária e mandámos a cadeira ao ar porque não calhou.
[Skepta] “Can’t Play Myself (A Tribute To Amy)”
Sair da zona de conforto não é tarefa fácil — isto se não se chamarem Skepta, pois claro. O pioneiro MC e produtor de grime trocou de pele e atirou-se à house music para homenagear Amy Winehouse, num tema que recupera os eternos versos de “Tears Dry On Their Own” e que se mostra pronto a tomar de assalto qualquer discoteca do globo. Está encontrado o terceiro lançamento com o carimbo da Más Tiempo, editora focada na música electrónica de dança que foi fundada este ano por Skepta e Jammer.
[Black Josh & Wino Willy] “Doolally”
Tivemos Black Josh como vizinho por uns tempos e nem sequer notámos. O rapper londrino andou a vaguear por Lisboa e Sintra para a rodagem do seu mais recente videoclipe, “Doolally”, dado a conhecer na passada sexta-feira em conjunto com o disco onde reside. Today’s The Day é o título do EP que cozinhou a meias com Wino Willy e foi selado pela Blah Records, contendo um total de 7 faixas nas quais surgem, como convidados, Lee Scott, Sonnyjim e até mesmo Da$h.
https://youtu.be/XjdSSMBm0Oc
[Yussef Dayes] “Tioga Pass” feat. Rocco Palladino (Ao Vivo @ Malibu)
Yussef Dayes é uma autêntica fábrica de grooves, um baterista de sonho que qualquer produtor gostaria de ter ao seu lado no estúdio enquanto músico de sessão. Essa é uma função que dificilmente o apanharão a ocupar neste momento, até porque 2023 está a ser um ano muito importante no que toca à sua afirmação enquanto artista em nome próprio, ele que há um mês nos deu a sua visão daquilo que é a Black Classical Music, um poderoso manifesto sonoro com mais de uma hora de duração que foi editado pela Brownswood Recordings. Figura crucial para este novo jazz que tem vindo a despontar a partir do Reino Unido, o baterista e compositor liderou um quarteto formado por Rocco Palladino, Venna, Elijah Fox e Alexander Bourt para interpretar um dos temas desse disco, “Tioga Pass”, à medida que o Sol se punha por entre as colinas de Malibu.
[MIKE] “What U Say U Are”
Na sexta-feira passada, o nome de MIKE foi sinónimo de muito boas surpresas. Além deste videoclipe para um novo single, “What U Say U Are”, editou também o disco que o contém, Burning Desire, sem qualquer aviso prévio, onde volta a assumir um papel decisivo ao nível da produção e reúne aquele que será, muito provavelmente, o mais ambicioso elenco de todos os seus discos, que vai de Earl Sweatshirt e Larry June a Liv.e e Venna. Ainda mais surpresos ficámos quando, no mesmo dia, soltou o cartaz da sua próxima grande digressão, que contempla uma dupla passagem por Portugal — dias 28 e 29 de Fevereiro do próximo ano, em Lisboa e Braga, respectivamente.
[Unusual Demont] “NIGHTTIME”
A espera foi longa, mas valeu bem a pena. Desde HUES., em 2021, que Unusual Demont apenas tinha dado a conhecer mais um par de novos temas, “Maybe Not” e “Sugar”, sendo que as suas contas no presente ano estavam ainda a zeros. Tudo mudou a meio da semana transacta, quando o cantor voltou a expor as fragilidades através da sua doce voz em “NIGHTTIME”. A faixa que funde as estéticas do r&b e da hyperpop vai integrar o alinhamento de CHRYSALIS, álbum de estreia que Demont promete fazer ver a luz do dia dentro de pouco tempo.
[Jim Legxacy] “block hug”
Quem diz que as gentes dos bairros não choram? James Olaloye tem estado a representar os subúrbios londrinos através de músicas que têm tanto de sentimental quanto de espírito de pertença às ruas, mostrando que até os homens mais fortes — aqueles que constantemente se deparam com grandes obstáculos nas suas vidas — têm direito a verter lágrimas. E “block Hug” é um óptimo exemplo disso mesmo, uma canção que se inicia em jeito de balada folktronica e a meio troca para um drill com contornos de banger, elevando todas as qualidades de Jim Legxacy em menos de 3 minutos de duração. Antes de ascender ao formato de videoclipe, a trilha já integrava homeless n*gga pop music, álbum editado em Abril deste ano e que motivou um destaque por entre estas páginas na rubrica Abram alas para…, de Miguel Santos.