Era digital, informação à velocidade da luz. Vídeos e músicas a soçobrar pelas plataformas virtuais. Novidades emaranhadas entre si, confusão sónica, sentidos desorientados. Quem nos guia? Por onde vamos? Para onde vamos?
7 Dias, 7 Vídeos é o resgate audiovisual semanal nos terrenos do hip hop e electrónica. Filtragem de qualidade, barreira contra a poeira que nos cega com tanto de novo, com tanto para espreitar e escutar.
[Jeshi] “Protein” feat. Obongjayar
Sonicamente, as vozes de Jeshi e Obongjayar encaixam tão bem como as de Snoop Dogg/Jay-Z e Pharrell Williams em “Let’s Get BLown” ou “Frontin’”. Os currículos não são os mesmos mas os tempos também mudaram e o encontro deste par não carece de significado: o primeiro está a manter a forma desde que alcançou milhares de novos ouvintes com “30,000 FEET“, já o segundo joga na antecipação e dá o braço a Jeshi, na expectativa que esta sua colaboração siga o mesmo legado do que já conseguiu alcançar ao lado de nomes como Little Simz, Danny Brown, Giggs, Moses Boyd, Pa Salieu, Joe Armon-Jones, Kojey Radical ou Take A Daytrip.
[Fousheé] “double standard” @ A COLORS SHOW
Em apenas dois anos, Fousheé passou de “vocalista de sessão” dos tempos modernos — na cada vez mais concorrida indústria dos packs de samples — a artista em nome próprio acompanhada de perto pelas grandes publicações do mundo da música. time machine, o seu álbum de estreia, saiu no ano passado e mereceu a atenção de Lil Yachty e Steve Lacy, que colaboraram com a cantora de Nova Jérsia na etapa mais importante do início do seu percurso. “double standard” é o primeiro novo single desde então e foi mostrado ao mundo há um par de semanas, tendo rapidamente caído nas graças do A COLORS SHOW, que junta mais uma voz dotada de grande potencial ao seu catálogo.
[Shakewell] “Take The Field”
O canal no YouTube da G59 Records, editora fundada pelos $UICIDEBOY$, passou a chamar-se ALL BUT 6 e há agora um endereço a apontar para esta nova marca que deixou de ter a dupla de Nova Orleães na montra. Entre o mistério que emana desta reformulação, Shakewell, Pouya e Fat Nick seguem como se nada fosse e alimentam-nos com mais um par de temas. O destaque vai para o do homem que está neste momento a dar as últimas estocadas em PRAY 4 SHAKEWELL, ele que se uniu ao produtor in house da ALL BUT 6, Mikey The Magician, para mais um avanço do disco que sai a 29 de Abril.
[ANAJU] “MANDA FOTO” feat. GE NUNES
A DK Produções mantém a tradição de lançar novos nomes no feminino para a praça do hip hop no Brasil e, no mês passado, apresentou GE NUNES com o seu “100K“. ANAJU, MC que vai bem encaminhada para seguir os mesmos passos de Azzy e Budah, recebeu a nova colega no seu seu ousado hino do “MANDA FOTO”.
[tobi lou] “The Last Dance” feat. CHIKA
Os versos de tobi lou e CHIKA entrelaçam-se num dos momentos mais etéreos de Non-Perishable. O último LP do rapper/cantor e Chicago continua a gerar conteúdo em movimento — sejam videoclipes, animações ou “screensavers” — e, na semana transacta, foi a vez da faixa que finda o seu alinhamento merecer o tratamento visual de Ronald Grandpey.
[Jam Baxter] “Cherry Red Paint Job”
Tem sido uma das nossas insistências dentro daquilo que se vai fazendo no Reino Unido e foi também um dos primeiros a dar-nos material para escutar em 2022. Fetch The Poison nasceu de um retiro no México por parte do MC britânico e saiu logo a 18 de Janeiro pela Blah Records, tendo-nos apanhado totalmente de surpresa com uma raríssima conexão entre Reino Unido e Brasil na luxuosa posse cut “Sundown Sundown”, lado a lado com Jehst, Black Josh, NOG, Black Alien e Xamã. Enquanto rezamos que o respectivo vídeo se materialize, é a peça realizada por Yahir Lobo para “Cherry Red Paint Job” que nos vai mantendo entretidos.
[Dizzee Rascal] “Hail Marry Freestyle”
Ao lado de Silencer, frisou que o “Grime Ain’t Dead” no arranque deste ano, antes de se juntar a P Money e Frisco na ameaça tripla que é “High Road“. Tudo parecia estar a correr bem a Dizzee Rascal, ele que em 2020 tinha editado um álbum recheado de colaborações sonantes, E3 AF. Se também esperavam que as novidades do veterano inglês se pudessem traduzir em avanços de um novo projecto, estes últimos dias não foram de sorte: a decisão do tribunal em condenar Dylan Mills ao uso de pulseira electrónica, depois de uma agressão à ex-mulher que ocorreu há um ano, é agora uma grande mancha no trajecto de um homem que fez muito não só pela música mas também pelas comunidades locais. O tom fúnebre que um dia envolveu 2Pac em “Hail Mary” é agora banda-sonora no “enterro” de alguém que se recusa a mostrar remorsos pelos actos que praticou.