Joe McPhee (saxofone tenor), Susanna Gartmayer (clarinete baixo), John Edwards (contrabaixo) e Mariá Portugal (bateria) são os Monster, um colectivo de virtuosos do jazz que junta diferentes sensibilidades, experiências e nações. Embora não exista ainda um grande espólio palpável deste quarteto — só existe um disco ao vivo, lançado em Abril —, certo é que se regem pelos moldes maleáveis e normas livres do free jazz.
Os Monster passam nos próximos dias por Portugal com dois concertos. Tocam no gnration, em Braga, este domingo, 25 de Maio, pelas 18 horas; e no dia seguinte, às 21 horas, é a vez da Galeria Zé dos Bois, em Lisboa. Os bilhetes estão disponíveis online, tanto para Braga como para a capital portuguesa.
Lendário multi-instrumentista e improvisador, aos 85 anos Joe McPhee permanece mais do que activo, com uma forma que poderia deixar muitos jovens a invejá-lo. Além deste quarteto, o músico também lançou recentemente o álbum I’m Just Say’n, em colaboração com o sueco Mats Gustafsson. Tudo isto foram motivos para que dirigíssemos uma mão cheia de perguntas ao norte-americano.
O quarteto Monster é uma formação curiosa, com a Mariá Portugal, o John Edwards e a Susanna Gartmayer. Como é que se juntaram e o que é que acha único sobre este projecto?
É curioso até porque não tínhamos tocado assim tanto. Mas tocámos juntos, gostámos uns dos outros e pensámos: “Porque não fazermos algo e prolongarmos isto?” É tudo sobre a descoberta, estamos a descobrir-nos uns aos outros. Claro que nos conhecemos e tocamos juntos, foi como se fosse família desde o momento em que nos conhecemos, mas é um novo capítulo para nós e decidimos continuá-lo e ver quão longe conseguimos ir.
Acabámos de encomendar Straight Up, Without Wings, o seu livro de memórias editado em 2024. Como foi colocar a sua vida e carreira nas páginas?
Foi interessante, porque há aqui um escritor onde eu vivo. E, durante a pandemia, encontrávamo-nos, com uma máscara posta, sentávamo-nos a quase dois metros um do outro e tínhamos estas conversas. Foi durante o Verão, foi um grande Verão, e foi estar com outra pessoa a contar histórias, que é algo que faço muito. Foi uma grande experiência. Quer dizer, a pandemia foi terrível, mas esta foi uma boa experiência que saiu da pandemia.
Recentemente lançou I’m Just Say’n na Smalltown Supersound, um projecto colaborativo com o grande Mats Gustafsson, no qual deixou de lado o seu instrumento para usar a sua voz para recitar poemas. E há algo sobre a sua voz, que já tínhamos reparado ao ouvir entrevistas suas, e de certeza que não somos os primeiros a dizê-lo, mas soa como um homem de 35 ou 40 anos…
[Risos] Isso é muito simpático, só que tenho mais do dobro dessa idade. Mas acho que é importante as pessoas ouvirem a minha voz, porque me conhecem da música e dos instrumentos, mas acho que também é importante ouvirem a minha voz. Dá outra perspectiva, outra camada.
Obviamente, viajar pelo mundo a fazer concertos deve ser desafiante. O que é que o mantém tão activo na sua idade?
Bem, qual é a alternativa? [Risos] Só tenho de continuar. Quando parar, será o fim. E vou continuar o máximo que puder, enquanto puder. Já não gosto assim tanto de andar de um lado para outro, viajar tornou-se muito diferente ao longo dos anos e agora há coisas como códigos QR que tens de ler com o teu telemóvel e todas essas coisas, não gosto muito disso. Mas aquilo de que realmente gosto é encontrar-me com amigos que conheci ao longo dos anos: podemos ter conversas, estar juntos e simplesmente explorar a vida.
Fez três álbuns com o Rodrigo Amado, o Kent Kessler e o Chris Corsano. Vai haver mais discos com esta formação?
Espero que sim, espero que nos encontremos e se a oportunidade surgir, claro que sim. Adoraria fazê-lo. Gosto muito de todos eles e fico entusiasmado com essa possibilidade.
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