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Publicado a: 15/12/2015

5 coisas que aprendemos com o clássico dos A Tribe Called Quest nas palavras de Harry Allen

Publicado a: 15/12/2015

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

 

O 25º aniversário da edição de People’s Instinctive Travels & the Paths of Rhythm é o ponto de partida para uma cuidada análise no site Medium. O álbum tornou os A Tribe Called Quest num dos grupos mais emblemáticos do hip hop que se faz mais à esquerda e originou, lado a lado com De La Soul, Digable Planets, entre outros, um legado que tem ganho maior destaque desde que a internet deu espaço a qualquer miúdo num quarto com o seu home studio de se mostrar ao mundo. Harry Allen é o responsável pelo texto, um jornalista que manteve uma defesa activa da cultura hip hop, fundador do Rhythm Cultural Institute e afiliado dos Public Enemy – apareceu na faixa “Don’t Believe the Hype”. A sua visão do álbum seminal dos ATCQ traz novos assuntos para a mesa e o ReB definiu os cinco pontos mais importantes a reter.

 


[A TEMÁTICA DO ÁLBUM NÃO É TÃO ABSTRACTA COMO TEM SIDO FALADO DESDE O SEU LANÇAMENTO]

A temática do álbum sempre foi olhada como uma mescla de vários assuntos de um ponto-de-vista mais filosófico do que concreto e encontrava-se num plano diferente dos devaneios comuns que regiam os MCs da altura. Harry Allen diz: “Por um longo período, eu aceitei as descrições como truísmos. Então, quando Ali Shaheed, o DJ de serviço, me disse que People’s Instictive Travels, tal como ‘The Message’ ou Run-DMC, era sobre os ‘miúdos dos anos 70’ em Nova Iorque, isso começou a incomodar-me. Eu estava momentaneamente pasmado. A razão pela qual me incomodou, especialmente a parte de Nova Iorque, é que, para muitos, como resultado das associações acima referidas, People’s parecia habitar um tipo de hip hop underground idílico, muito distante de preocupações mundanas. Era como se o álbum existisse, sonicamente, num espaço Platónico, muito para lá de qualquer barreira ou local físico”.

 


 


[O OBJECTIVO FOI SEMPRE O DE CHEGAR AO NÍVEL DOS MELHORES MÚSICOS NEGROS]

O universo hip hop é bastante competitivo e as querelas são comuns. Quem é o melhor tecnicamente, com melhor produção ou com o melhor flow, são regras pelas quais se regem estas competições. Mas os ATCQ olharam para outros e Jarobi, um dos MCs do grupo, disse a Harry Allen: “No início não estávamos necessariamente atrás de outros rappers. Eu penso que estávamos atrás de gajos como Prince, Marvin Gaye, Earth, Wind & Fire. Nós estávamos a procurar uma estética musical, não uma estética de street life. Por isso, eu penso que deixámos a nossa música ser uma espécie de… simplesmente música”.

 

[OS TRIBE FORAM À PROCURA DE SAMPLES QUE NÃO ERAM HABITUALMENTE UTILIZADOS NO HIP HOP E ACABARAM POR ALTERAR O SOM DO PRÓPRIO GÉNERO]

A paleta sonora criada pelo grupo foi um dos motivos para se tornarem um marco e num ponto de evolução na criação de uma música de rap. Quando confrontado com as razões que levaram a uma entrada triunfante dos ATCQ no universo hip hop, Ali Shaheed Muhammad diz: “De maneira muito simples, o que A Tribe Called Quest fez pelo hip hop foi ajudar a alargar o vocabulário sónico: a instrumentação, timbres, ritmos e texturas raramente ouvidas quando dava música hip hop. Conseguimos isto pelo sampling digital, porque o hip hop é uma forma de arte baseada no sample. Isto significa que o que acontece lá dentro não é uma questão de palhetas e válvula. Não é o que interessa os artistas. Em vez disso, a questão – utilizando máquinas como Emu SP12 e SP1200 – é como sonicamente se reorganiza a informação das gravações analógicas, entrelaçando estas mechas díspares de som a fim de construir novas performances. É esse o desporto”.

 


 


[O GRUPO NÃO FOI BEM ACEITE NO INÍCIO DA SUA CARREIRA]

O período pré- People’s Instinctive Travels & the Paths of Rhythm não foi dos mais fáceis e as primeiras músicas não foram bem recebidas.  “Eles cagaram totalmente em nós,” admite Jarobi. “Tip ficou mal, Phife estava… alguma coisa, e eu era simplesmente horrível. Nós éramos todos os superlativos maus que tu possas pensar (risos). Eles odiavam-nos.”

Estavam na adolescência e o hip hop ainda não se encontrava preparado para as suas introduções inovadoras. Jarobi explica que “havia um som mais mecânico no hip hop; não tão melódico como a música que nós começámos a fazer. Os ritmos dominantes na altura eram todos 4/4, 808, e samples de James Brown, tudo junto, muito simples. Não existia outra via até os De La (Soul), Jungle Brothers, nós, e um conjunto de outros grupos entrarmos na música e criarmos um movimento”.

 

[OS ATCQ MUDARAM A IDEIA DE QUE O HIP HOP ERA SÓ FEITO POR DURÕES]

Uma das maiores mudanças foi o estilo com que se apresentaram ao público. A forma descontraída e arrojada de se vestirem não impunha respeito e distância, algo muito comum no hip hop da altura. Quando confrontado com essa ideia, Ali Shaheed Muhammad diz: “Tal como L.L., Kool Moe Dee, Big Daddy Kane – esses gajos eram gajos duros. KRS, Boogie Down Productions, também tinham uma imagem de durões. N.W.A., imagem de durões. Até os Public Enemy. Oh meu deus: muito fortes, sem merdas. Uma das coisas sobre a Def Jam – a editora de hip hop dominante na altura – era este ar desafiante que todos os artistas tinham. Até a Nikki D.”

People’s Instictive Travels não era nada nisso! Nós não estávamos a tentar ser gajos durões, nós não precisávamos de ser gajos durões, nós não andávamos a bater nos nossos peitos. Era sobre divertires-te, ser leve, ser espirituoso, ser poético. Apenas ser bom com o próximo. Era sobre chutar para a frente, aproveitar a vida. Não ser um fantoche. Eu acho que foi isso que apresentámos. Não sermos falsos. Não termos uma pose. Não fingir que somos durões quando não o somos. Apenas ser. Apenas existir. Estar confortável na tua própria pele. Eu penso que era disso que People’s Instinctive Travels & the Paths of Rhythm tratava: celebrar o teu Eu, fosses tu quem fosses”.

 

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