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Ilustração: Riça
Publicado a: 02/01/2019

O hip hop nacional está cada vez mais saudável, mais presente nos circuitos comerciais e mais diversificado.

43 músicas portuguesas que marcaram 2018

Ilustração: Riça
Publicado a: 02/01/2019

De ano para ano, os números alimentam a teoria: o hip hop nacional está cada vez mais saudável, mais presente nos circuitos comerciais e mais diversificado.

Todos têm voz: nomes como Sam The Kid, Boss AC ou Valete continuam a ter o seu espaço na era digital; newcomers como Sippinpurpp, Yuri NR5 ou Pedro Mafama mostram que se pode conquistar a Internet antes de levar as músicas para a rua; Wet Bed Gang e Blaya atingem novos patamares em termos de visualizações; Pika, Apollo G, Rafa G e Vado Más Ki Ás reforçam a vitalidade do rap crioulo e Conan Osiris prova que a música não precisa de videoclipe para chegar a todo o lado.

A diversidade é maior do que nunca nesta selecção ReB: de ProfJam a Stereossauro até Holly Hood e Cálculo, passando por Dillaz e Dino D’Santiago, a lista é feita de canções que, de formas diferentes, ficam no imaginário nacional deste ano que passou. E, mais importante, apontam (ou abrem o apetite) para o que vamos ouvir nos próximos tempos.


[Stereossauro] “Flor de Maracujá” 

Voz de Camané, samples do arquivo amaliano da Valentim de Carvalho, palavras de Capicua e, claro, batuta de mestre Stereossauro. Isto nunca se fez por cá: ter assim acesso amplo – e legal!!! – a arquivos históricos e ter o hip hop a escrever para o fado. Aconteça o que acontecer, já se fez história.


[Cálculo] “Iguais” feat. Harold

Parte do recomendável Tourquesa, “Iguais” foi uma das mais bonitas canções de amor (ou desamor) a sair em 2018. Harold e Cálculo (que assina o instrumental, o primeiro verso e o refrão) encaixam perfeitamente e, numa leitura mais ambiciosa, exibem as qualidades necessárias para assumirem a linha da frente portuguesa do rap com infiltrações r&b que está cada vez mais em voga nos Estados Unidos da América.

 


[Dengaz] “Só Uma Vibe” feat. Carla Prata

A música “pertencia” a Dengaz mas Carla Prata roubou o protagonismo e, a partir do momento em que a canção foi disponibilizada, assumiu-se como uma das grandes promessas da música lusófona.

 


[Virtus] “Trapézio” feat. SP Deville

O trapézio de Virtus cruza o espaço em câmara lenta, perfeição absoluta, com as palavras a parecerem que nascem do beat que as suporta ou então o inverso, tal o poder de encaixe. Quanto mais ouvimos, mais sentimos. E SP Deville não perde uma oportunidade de nos dizer a todos que é um dos grandes. Nós sabemos.

 


[Mishlawi x Richie Campbell x Plutonio] “Rain”

O trio maravilha uniu esforços para uma chuva quente que aqueceu o território nacional e demonstrou que a fábrica de hits da Bridgetown não pára de produzir pérolas. E ainda temos Richie Campbell em modo rapper a mostrar que Lisboa não foi um engano…

 


[Pedro Mafama] “Jazigo”

O barco negro em que Pedro Mafama navega tem um destino incerto: viaja para novas águas, aquelas que agitam o futuro e onde se cruzam várias correntes. Ele tem razão: “não fechem essa porta, um gajo está a precisar de se arejar”. Em 2019, na verdade, esperamos mais brisas frescas destas.

 


[Conan Osiris] “Adoro Bolos”

Verdadeiro OVNI, este “Adoro Bolos”, uma canção com tanto – mas mesmo tanto – dentro que poderá gerar carreiras inteiras, assim a saibam descodificar devidamente: tem por lá ideias para o fado, para a pista de dança, para a feira da terrinha e para o salão nobre da capital. Não é fácil…

 


[NGA] “Tatuagens Cicatrizes & Diamantes”

“A tinta no corpo não esconde a dor/ Só disfarça”. NGA faz em “Tatuagens Cicatrizes e Diamantes” aquilo que sempre fez melhor: põe pedaços de vida em barras, memórias em flows, põe sentimento profundo na voz e por isso tanta gente agarra nestes temas como se fossem espelhos da sua própria vida.

 


[Allen Halloween] “Crescer”

“O tempo é passado presente futuro/ Há tempo pa rodar correr no mundo/ Há tempo pa voar e bater no fundo/ Mas o tempo tá a andar e o tempo é curto/ Já é tempo pa ser adulto”. Allen Halloween é único no panorama nacional e demonstra-o novamente em “Crescer”, uma das canções que lançou em 2018. Estamos ansiosamente à espera de Unplugueto

 


[Landim] “Real Dimás”

Só para os reais. Em “Real Dimás”, a primeira faixa de HollyLandz, Landim desliza sem dificuldades em cima de um beat de Holly, produtor das Caldas da Rainha que assumiu a parte instrumental do projecto.

 


[Yuri NR5 x Mishlawi] “Eu Tou Fixe (Remix)”

Sem ter o estatuto de veterano, a relevância actual de Mishlawi no panorama nacional permitiu-lhe fazer algo bastante incomum por cá: colocar um holofote num newcomer através de uma remistura. Yuri NR5 já tinha amealhado alguns milhares de plays no SoundCloud, mas agora tem o YouTube e a rádio à sua mercê. Para 2019, a bola está do lado do artista da Margem Sul.

 


[Dino D’Santiago] “Nova Lisboa”

Deixa tarraxar e sente esta nova Lisboa que está quente. Sobretudo quando é inundada pela voz funda, doce e perfeita de Dino D’Santiago, que entre as curvas do português e do crioulo das suas ilhas, desenha uma nova forma de exprimir o que já há tempos sentimos: há um novo balanço nas ruas.

 


[Slow J] “Teu Eternamente”

A ficha técnica impressiona – Slow J, DJ Ride, Holly, Fumaxa e Papillon – mas é a entrega de João Lento que nos arrebata. Ele pode dizer que não quer falar com ninguém, mas a verdade é que parece segredar-nos, a cada um de nós, ao ouvido, e depois as palavras ficam a circular na nossa cabeça. Não encontram a saída. Ainda bem, queremo-las eternamente.

 


[Estraca] “Suicídio Político”

Goste-se ou não do estilo, Estraca representa uma vertente interventiva do rap que, neste momento, quase não tem representação no hip hop nacional que chega ao grande público. Em “Suicídio Político”, o rapper do Lumiar atira-se à batida de Charlie Beats e não tem medo de apontar nomes.

 


[NTS] “#COMO TODOS FAZEM”

Não deixa de ser irónico: uma canção a criticar o lado mais materialista e menos lírico do rap, replicando a fórmula visada, acaba por ser uma das poucas faixas de NTS a chegar aos milhões de visualizações — é o segundo vídeo mais visto de sempre no seu canal de YouTube. No fim, deu, mais uma vez, discussão entre as facções boom bap e trap e obrigou o hip hop português a olhar para si mesmo.

 


[Boss AC] “Queque Foi”

“Cada vez que me matas eu regresso”. Verdade. Boss AC é uma das mais sólidas certezas do nosso rap, do nosso hip hop, da nossa música, da nossa cultura. Podemos sempre contar com ele para meter o dedo na ferida e, ao mesmo tempo, perguntar: “onde é que dói?”

 


[Pika] “Firma 2”

Mesmo que não receba a mesma atenção nos meios tradicionais que as rimas escritas e cantadas em português, o rap crioulo continua a dar cartas ano após ano com algumas faixas que saltam à vista pela frescura irresistível que apresentam. Em “Firma 2”, a violência da letra contrasta com a toada dançável do beat, criando um banger para se sentir com cara feia e ginga na anca.

 


[Kappa Jotta] “Tribo”

“Caminho sozinho, outro tipo de tribo, vim buscar tudo e elevo o lucro aos poucos”. Cada vez mais um nome de primeira linha do hip hop nacional, Kappa Jotta encerrou as contas de 2018 com mais uma faixa ao seu estilo, ensaiando fast flows com a sua característica voz rouca.

 


[Papillon] “Iminente”

Com produção de Slow J e Plutónio por wing man, Papillon fez deste “Iminente” um festival para os nossos ouvidos, para as nossas ancas, oferecendo mais uma tradução do momento doce que atravessamos e, ao mesmo tempo, empurrando-nos a todos para cima. Bem precisamos de dançar com a alma.

 


 [Cypher] “Língua dos Campeões”

Ver Papillon, Sir Scratch, Rashid, Kamau, Holly Hood, Gson, Drik Barbosa e Rincon Sapiência na mesma música é uma benção e mais uma ponte importante que se estabelece entre talentos de diferentes gerações do rap feito em Brasil e Portugal.

 


[Richie Campbell] “Slowly”

São quase 14 milhões de views num clip tão simples, mas tão incrível ao mesmo tempo. Sobre o tema de cadência afrobeats, Richie Campbell dispõe mais uma canção que pede graves para nos tocar dentro e que puxa os nossos ossos e músculos, a nossa pele e as nossas cartilagens para o centro da pista. E nem vale a pena resistir…

 


[Domi] “Pensamento Leve”

A promessa está cada vez mais perto de ser certeza. Domi assinou pela Universal Music Portugal e começou a delinear uma nova fase do seu percurso com a ajuda preciosa de Charlie Beats. “Pensamento Leve”, que tem um instrumental com pinceladas reggae, é a sua canção mais bem-conseguida até agora, aliando a destreza lírica a um refrão catchy.

 


[NERVE] “Chibo”

NERVE é um artista tão singular que joga no seu próprio campeonato, uma liga fantástica que decorre na sua própria cabeça e em que o principal adversário que tem que derrubar é o seu próprio ego. Isso dá-lhe palavras fundas sempre (mal) dispostas em cima de beats sem luz, mas com alma dorida. Doce pesadelo.

 


[Deau] “Ponto de Partida” feat. KESO

“Fazer desses putos os homens de amanhã/ E ser fonte de luz para essas miúdas, como o nascer da manhã/ E nas rondas noturnas/ Impedir que as sombras lhes toquem os contornos das curvas como/ Um dos quadros de Rembrandt”. Em 2018, o rapper nortenho lançou quatro singles novos, mas “Ponto de Partida” é aquele que tem tudo para perdurar durante mais tempo na nossa memória. KESO e DJ Player deixam o seu precioso contributo no refrão e no beat, respectivamente.

 


[Apollo G] “Tempo Antigo” feat. Garry

É um dos grandes nomes da actualidade do rap crioulo e subiu a fasquia no ano passado: cerca de 10 milhões de visualizações ancorados num dos refrões mais memoráveis de 2018. “No days off” para Apollo G.

 


[Jimmy P] “Ano Novo” feat. Deejay Telio

Hit instantâneo que saiu na primeira metade de Dezembro. Não admira: Jimmy P, Deejay Telio e Suaveyouknow sabem fazer canções que obrigam a várias repetições e já o demonstraram nas mais diferentes ocasiões.

 


[Lon3r Johny] “Trapstar”

Um dos novos membros da Think Music trouxe o emo trap para a luz em território nacional, contando com a infalível contribuição de benji price no instrumental. Apesar de “Crystal Castle” ter inaugurado a parceria entre a editora e o artista, “Trapstar” chegou mais longe: 800 mil visualizações em menos de dois meses…

 


[Piruka] “Já Se Passou Tudo” feat. 1Kilo

Um flip à letra de “Não Se Passa Nada” valeu 11 milhões de visualizações a Piruka, que se juntou ao colectivo brasileiro 1Kilo para estabelecer mais uma ponte entre dois países que, musicalmente falando, já estiveram mais afastados…

 


[Gson] “Voar”

É natural que alguém queira viver a voar. É a única maneira de se elevar acima do bairro, da cidade, das limitações, de quem, como as âncoras, nos prende ao chão. Gerson, homem dos Wet Bed Gang, voa aqui a solo com palavras de motivação feitas de força e determinação e com Charlie Beats a fazer a magia do costume. Forte.

 


[Zara G] “Chaminé”

O “mais novo sem juízo” dos Wet Bed Gang continua a mostrar que existe um espaço para a sua emancipação: acumulou cerca de oito milhões de visualizações num dos maiores bangers do ano e até apareceu num dos vídeos da plataforma Genius.

 


[Vado Más Ki Ás] “Fora d’Órbita”

Nome em clara ascensão no rap nacional, Vado Más Ki Ás junta um talento natural para a rima com uma atitude e raça que não deixa ninguém indiferente. Um dos rappers a acompanhar de perto em 2019.

 


[Bispo] “NÓS2” feat. Deezy

Em 2018, o rapper de Algueirão, Mem Martins, juntou-se à Sony Music Portugal e, de repente, abriram-se outras portas. Músicas em novelas, uma banda acompanhá-lo em palco e novas fasquias: “NÓS2” já angariou mais de 10 milhões de visualizações. E a participação de Deezy é memorável…


[Mike El Nite] “Dr. Bayard” feat. Fínix MG e Sippinpurpp

O sabor do sauce é bom para a tosse. Mike El Nite conseguiu com este tema, em que recebe amparo de Fínix MG e Sippinpurpp, elevar as suas visualizações até aos milhões e, sobretudo, traduzir aquele momento na pista às 3 e meia da manhã, quando as luzes se desfocam e o chão parece uma montanha russa.


[Valete] “Samuel Mira”

Uma carta de amor para um dos melhores MCs e produtores nacionais de sempre. E quem a escreve é Valete, outro nome incontornável da história do hip hop português.


[Blaya] “Faz Gostoso”

Depois dos Buraka Som Sistema, Blaya soube-se reinventar e “Faz Gostoso” é o seu esforço mais bem-conseguido até agora, acumulando mais de 25 milhões de visualizações no YouTube. Um número monstruoso, se considerarmos apenas o panorama nacional.


[Rafa G] “Correria”

O produtor norte-americano Sango apresentou-se no NOS Alive’18 e, a meio do seu set, soltou “Correria”, canção que não passa na tua rádio preferida, mas que mesmo assim acumula mais de três milhões de visualizações no YouTube e atravessa o Oceano Atlântico.


[DJ Dadda] “Cafeína” feat. Plutonio

Lembram-se da fábrica de hits? Plutonio rima em qualquer beat e DJ Dadda, que também faz parte da Bridgetown, deu-lhe uma nova cama para se deitar no club. Massivo.


[Holly Hood] “Miúda”

Sem data de lançamento para o próximo disco, Holly Hood soltou um novo single em 2018: “Miúda” é mais uma amostra da capacidade do rapper da Superbad para, mais do que rimar, criar canções, aproveitando também para lançar um dos melhores videoclipes do ano.


[ProfJam] “Água de Coco”

Lhast na batida, Prof no microfone. O equilíbrio e a perfeição existem mesmo. Os berros de um louco que ProfJam vai soltando têm muita mais sabedoria do que os arautos da “mensagem” conseguem reconhecer. As palavras que solta com voz de missa são intrincadas, verdadeira filigrana que merece ser apreciada.


[Dillaz] “1100 Cegonhas”

Queres saber o que é um banger? Põe-te a contar estas 1100 cegonhas e se sonhas que rimas com verdade são apenas aquelas que tu entendes então é porque não lidas com Dillaz, um MC de corpo inteiro que em cima do colchão de penas de Here’s Johnny voa mais alto do que quase todos os outros.


[Sippinpurpp] “Sauce”

É, muito provavelmente, o nome mais controverso do rap nacional. Sippinpurpp juntou-se à Think Music em 2018 e acertou em cheio à primeira tentativa com “Sauce”, uma das faixas mais ouvidas do ano e a prova definitiva que rkeat tem dedo para criar hits das mais variadas formas.


[Wet Bed Gang] “Devia Ir”

Charlie Beats sabe pintar estas incríveis paisagens como ninguém, verdadeiro alfaiate dos cortes por medida que os Wet Bed Gang vestem com classe superior. Os 25 milhões de views no YouTube são a prova do alcance destas histórias que só crescem porque há ouvidos que as escutam, que vivem dentro delas. Às 4 da manhã ou a qualquer outra hora.


[Sam The Kid] “Sendo Assim”

A primeira canção a solo de Sam The Kid em mais de 10 anos não deixou ninguém indiferente e serviu para relembrar o posicionamento do rapper e produtor de Chelas no hip hop português e na música nacional, mobilizando gente de todos os lados possíveis e imaginários. Samuel Úria, um dos nossos grandes cantautores modernos, escreveu um belíssimo texto sobre a canção, por exemplo.

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