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Publicado a: 27/11/2016

2º dia do Vodafone Mexefest: a festa unida do hip hop tuga na Ciência Rítmica Avançada

Publicado a: 27/11/2016

[TEXTO] Ricardo Farinha [FOTOS] Sebastião Santana

O segundo e derradeiro dia de Vodafone Mexefest ficou marcado pelos espectáculos de Gallant, Digable Planets e PZ, mas também pela curadoria Ciência Rítmica Avançada de Rui Miguel Abreu, director do Rimas e Batidas, pelo segundo ano consecutivo. A noite era de celebração da cultura hip hop unida na sua diversidade.

 


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Landim foi o primeiro ao subir ao palco da Garagem da EPAL, quando a chuva forte já se sentia lá fora, mas também com a “Tempestade” musical que decorria no interior. O rapper de Mem-Martins foi o embaixador do rap crioulo da noite, saltando entre o boom-bap e o trap.

“Há alguém aqui que não saiba nem uma palavra de crioulo? Olhem para as pessoas à vossa direita e esquerda, não interessa se somos brancos, pretos ou o que for. Isso não interessa nada. O que nos une aqui é a música”, rematou, antes de fechar a actuação com um freestyle e recolher uma “chuva” (essa sim, abençoada) de aplausos.

 


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Beware Jack e Blasph foram os senhores que se seguiram. A dupla apresentou, para uma casa cada vez mais cheia, alguns temas d’O Processo, como “Johnny Crime” ou “Cantinho do Mal”, mas também faixas dos seus outros projectos – “Rap d1 Gajo”; “Engana”, dos Classe Crua de Sam The Kid e Beware Jack; ou “Neguinho Afavelado”, do álbum deste último com Bling Projekt.

São velhos conhecidos nossos: o forte do duo da Mano a Mano é a química visceral que possui, o carisma e a diferença de estilos existente entre Frankie Diluvio e Beware Jack, que esteve depois na linha da frente a ouvir e a sentir de perto os concertos seguintes.

 


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A melhor experiência da curadoria aconteceria na estreia de Keso com o Oliveira Trio e DJ Spot. Este não é o mesmo original marginal que vimos no Lisboa Dance Festival onde também actuou com músicos. Este é um Keso feliz e vibrante, a soltar a energia punk rock do seu âmago para tornar os seus temas brutalmente poderosos ao vivo.

“Isto é esquisito, não é? Esteve aqui o pessoal a rimar e agora vêm para aqui estes gajos fazer barulho”, disse em tom de ironia para a plateia de hip hop heads – mas com um som a atrair cada vez mais curiosos – onde se encontravam muitos rappers e produtores (como poderão ver na imagem em baixo).

Os instrumentais ganharam peso e volume, o scratch e os samples continuaram presentes e ingredientes vitais da receita. É como se os Orelha Negra estivessem a tocar ao vivo com Keso. Mas era o fantástico Oliveira Trio, com o seu groove funky que também foi notoriamente apreciado quando tocaram os seus próprios temas e os apresentaram a um público diferente daquele a que estão habituados. Provavelmente, por esta hora, já terão recebido mensagens de outros rappers e produtores que estiveram na sala…

“Já estamos a pensar no que vamos fazer depois de desistirmos do rap”, disse Nerve, ao lado de Beware Jack, sobre a excelência da prestação de Keso, quando foram chamados ao palco por Rui Miguel Abreu num curto intervalo animado entre actuações.

 


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Fusão, Fusível, Inspector Mórbido, o Quinto Anjo do colectivo Dealemático também tinha um dos mais esperados concertos da curadoria. E partilha com Keso a sensação de felicidade que transmite.

Ao abrir a ponta da Caixa de Pandora – primeiro disco a solo em 13 anos – Fuse mostrou temas positivos e uma mensagem optimista, contrastando com a sua negridão característica, ou as punchlines nos temas que já tinha vindo a mostrar do álbum duplo que deverá sair nos próximos meses. Mas, afinal, já conhecíamos a Alvorada da Alma dos Dealema após a sua Grande Tribulação. “As trevas antecedem a alvorada da alma”. Só faz sentido que o mesmo aconteça no trabalho em nome próprio de um dos seus membros.

“Não acho que seja demasiado purista quando digo que nos anos 90 isto era melhor. Cada um tinha um ingrediente diferente que o tornava especial. Hoje em dia vejo mais réplicas do que outra coisa. Eu não faço músicas para o Verão de 2016, faço músicas para que o meu filho tenha orgulho quando as escutar daqui a 20 anos”, parafraseando o que disse Fuse, antes de dar espaço a Relax, MC dos Quartel469 de Barcelos (também representados na actuação por DJ Flip, várias vezes homenageado pelo anfitrião de palco) que apresentou um single que será lançado em breve.

“Eterno no teu Ouvido” ou temas dos Dealema como “Família Malícia”, “Escola dos 90”, “Bom Dia” e “Sala 101” encheram a sala de um homem, que, após vários problemas na sua vida pessoal, se mantém feliz. “A música foi o que fez com que conhecesse a minha mulher e, depois, o meu filho. Nunca deixem que alguém vos impeça de serem felizes. É a prioridade número um da vida.”

A Ciência Rítmica Avançada no Vodafone Mexefest foi um sucesso marcado pela união de uma cultura que se celebra a si própria, nas suas várias línguas, regionalismos, estilos, gerações e sonoridades. Estamos aqui!

 


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