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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 14/07/2021

A autora Jessica Lipsky assina a obra que conta uma brilhante história que se estende por duas décadas.

20 anos da Daptone de Sharon Jones, Charles Bradley ou Dap-Kings celebrados em livro

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 14/07/2021

It Ain’ Retro – Daptone Records & The 21st-Century Soul Revolution é o título do livro da jornalista norte-americana Jessica Lipsky que a Jawbone Press edita já no próximo mês de Agosto. Actualmente a assinalar 20 anos de existência, a Daptone Records, selo criado por Gabriel Roth (aka Bosco Mann), tornou-se uma incontornável referência ao construir um vasto catálogo em que se encontram importantes trabalhos de artistas como Sharon Jones e Charles Bradley, mas também como Menahan Street Band, The Budos Band ou Antibalas, entre tantos outros.

Com a banda residente The Dap-Kings, a Daptone tornou-se igualmente numa espécie de ingrediente secreto nas produções de alguns nomes de peso na indústria pop, como Mark Ronson, por exemplo, que recorreu a vários talentos da editora nas sessões que dariam origem ao hoje clássico Back To Black de Amy Winehouse.



Jessica Lipsky, jornalista americana freelancer que já assinou trabalhos em publicações de referência como o New York Times, Billboard ou NPR, explicou ao Rimas e Batidas como descobriu o som da etiqueta Nova Iorquina quando ainda vivia e trabalhava na Califórnia: “Apanhei pela primeira vez um disco de Sharon Jones e dos Dap-Kings no meu programa na KUSF (90.3FM) de São Francisco que ia para o ar a horas impróprias. Esse álbum era 100 Days, 100 Nights – e quando eu percebi que a Daptone já tinha um catálogo com anos e anos antes de lançar esse álbum tive que mergulhar fundo nas minhas pesquisas”, explica a autora, por e-mail.

“Tive a ideia para um mais amplo estudo das cenas funk e soul há uns anos quando me encontrava no Funky Sole Weekender em Los Angeles”, revela Jessica Lipsky, antes de nos explicar como esse impulso inicial se aprimorou no livro que está prestes a ser lançado: “Comecei a tentar vender essa ideia do estudo da cena a editores e a entrevistar gente da comunidade – incluindo algumas das cabeças da Daptone. Os editores achavam que esse retrato de uma cena era, ao mesmo tempo, um assunto demasiado vasto e demasiado de nicho, por isso, em 2019, comecei a focar a ideia mais na história da Daptone, explorando as suas contribuições para a comunidade soul”.

Em relação ao seu método de trabalho, a experiente autora e jornalista clarifica que muito do material foi recolhido em entrevistas: “Boa parte da base do meu livro vem de seguir certas bandas e DJs há anos e de absorver histórias que fui apanhando em livros ou na rádio. Também me apoiei bastante em histórias que eu mesma reportei (ou que queria reportar). Entrevistei mais de três dezenas de pessoas para It Ain’t Retro  ao longo de dois anos”.

Claro que toda a pesquisa efectuada permitiu a Lipsky encontrar material a que muito provavelmente o fã comum da Daptone nunca terá tido acesso. “O meu arquivo favorito foi o que encontrei do fotógrafo Jacob Blickenstaff”, adianta-nos. “Ele fotografou a Sharon regularmente a partir de 2009 em diante. Uma foto inédita da Sharon com uma faca enorme na mão, tirada durante as gravações do vídeo “I Learned the Hard Way”, é agora o inspiracional papel de parede no meu telemóvel”.



A contribuição da Daptone para a relevância da soul de recorte mais clássico no presente não pode ser escamoteada, mas através do sampling no hip hop (a Menahan Street Band, por exemplo, foi samplada por Jay-Z…) e do recurso de várias estrelas pop a talento da casa nas suas próprias sessões, o alcance do selo criado há duas décadas por Gabriel Roth é muito mais vasto. “Algumas pessoas na Daptone não gostam de enquadrar o seu trabalho no mais amplo terreno da pop, mas eu penso que a editora é uma das mais influentes casas de gravação de uma geração”, concorda Jessica Lipsky. “Eles estabeleceram um standard para a produção analógica, reuniram alguns dos mais viscerais artistas e os músicos mais rigorosos, tornaram-se profissionais muito requisitados para sessões de gravação e influenciaram a cena internacional – e tudo isto mantendo-se ferozmente independentes e punk rock. Penso que a Daptone já se estabeleceu sem precisar da minha ajuda, mas espero que o livro possa ser o relato definitivo do incrível trabalho que eles fizeram”.

A própria autora não esconde que aprendeu coisas no processo de escrita e enumera-nos algumas das suas passagens favoritas das páginas de It Ain’t Retro: “Algumas das minhas partes favoritas do livro são apenas pequenas cenas”, começa por dizer. “Gabe Roth e Neal Sugarman a irem ver o Charles Bradley ao vivo pela primeira vez num bar de Brooklyn, enquanto o Gabe estava acidentalmente vestido como um chulo; Sharon Jones a dar um rebuçado de erva ao Charles antes de um concerto, episódio que inspirou a canção “Where Do We Go From Here”; como foi para os adolescentes Mighty Imperials ligarem-se à etiqueta proto-Daptone Desco Records”.



“Vinte anos depois, a Daptone está bem centrada na história da música soul e é adorada em todo o mundo”, afiança a autora. “Penso que esse amor se vai aprofundar e continuar a espalhar, mesmo que a editora já não ponha cá fora os mesmos álbuns de big band soul e funk que lançavam no seu auge, por volta de 2014. Mas, ainda assim, estou mesmo ansiosa para que saia o álbum ao vivo que eles gravaram no Apollo Theatre. Há toda uma nova geração de bandas e de artistas que apontam a Daptone como uma inspiração”, sublinha Jessica Lipsky quando questionada sobre o que espera do futuro da editora.

Quanto a projectos para lá do livro, a jornalista explica que ctualmente está a trabalhar em artigos para uma variedade de publicações, incluindo para a Dust & Grooves e para a revista Wax Poetics e “provavelmente mais alguns lugares, porque uma freelancer está sempre a tentar vender ideias. Também tenho alguns gigs como DJ em Nova Iorque e na Califórnia”.

O livro It Ain’ Retro – Daptone Records & The 21st-Century Soul Revolution pode já ser encomendado aqui


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