Actualmente, já se vende mais música impressa em vinil do que em CDs, notícia que o mundo da música recebeu sem grandes surpresas já que essa era uma tendência que se vinha a acentuar nos últimos anos. Eventos como o Record Store Day, que este ano adquiriu novos contornos devido à pandemia, plataformas como o Bandcamp e até um crescimento no número de lojas de discos, tornaram claro que o vinil possui uma capacidade de resistência à passagem do tempo muito singular, sendo claro que tem conquistado novos públicos. Hoje em dia, é frequente ouvir da boca de artistas, quando questionados sobre os formatos em que pretendem editar a sua música, frases como “ah, o normal, digital e vinil”.
Mas o facto de se venderem mais discos de vinil não significa necessariamente que os hábitos de audição desse formato sejam os mais saudáveis: as lojas estão cheias de “gira-discos” de preços acessíveis que não são tecnicamente aconselháveis a quem procure, por um lado, obter um bom som a partir desse suporte e, por outro, tencione preservar os seus exemplares, já que este é, como bem sabe quem coleciona discos de vinil, um formato bastante frágil.
Tendo isso em conta, o Rimas e Batidas dirigiu a uma vasta amostra de pessoas um conjunto muito simples de perguntas procurando perceber quais as “máquinas” eleitas para ouvir música em casa, há quanto tempo cada um dos nossos interlocutores as usa e com que frequência a elas recorrem além, claro, de tentar saber quais os objectos de maior desejo nesta área. Jornalistas e DJs, apresentadores de rádio e lojistas, músicos, coleccionadores e produtores… Tentámos ir a todo o lado, incluindo um par de “imigrantes” que Lisboa acolheu nos últimos anos, os DJs e coleccionadores Jeff Lennon (cidadão franco-britânico, casado com uma franco-portuguesa e a viver em Portugal já há mais de uma década) e Florian, aka Kryptic DJ (um engenheiro de software que viveu em Berlim antes de escolher Lisboa para se fixar).
Sem grandes surpresas, e não sendo o painel consultado demasiado próximo do universo audiófilo, assunto, aliás, abordado nalgumas das respostas que poderão ler mais abaixo (especialmente interessante a ideia mencionada por Jeff Lennon que descreve os audiófilos como “pessoas que ouvem o sistema através dos discos” por oposição às outras “pessoas que ouvem os discos através dos sistemas”), os clássicos Technics 1200 e 1210 serão os modelos mais usados, mas não deixaram de aparecer algumas interessantes fugas a essa quase “norma”.
Como este artigo tem um propósito informativo, procurámos atribuir hyperlinks a todas as sugestões tecnológicas contidas nas respostas, mas só a primeira menção de cada modelo é alvo de hyperlink (e só nos casos em que além da marca é referida nas respostas um modelo concreto).
Estas são as perguntas que foram apresentadas a todas as pessoas contactadas para este artigo:
01. Qual o gira-discos que usas para ouvir música, há quanto tempo o possuis e o que te fez escolher esse modelo?
02. Com que frequência o usas e que tipo de música escutas mais nesse modelo?
03. Se pudesses escolher qualquer gira-discos para ter em casa, qual seria e porquê?
As respostas listadas abaixo são dispostas pela ordem correspondente à sua chegada à nossa inbox.
01 – Na verdade, oiço em três gira-discos, que estão espalhados por casa, os Technics SL – 1210 MKII, um no estúdio e outro na sala, e tenho um portátil da Numark que volta e meia vai até à cozinha. Os Technics são os gira-discos de eleição para tudo, é o prato mais icónico que comprei para fazer scratch há 20 anos ou quase; o Numark portátil PT01 Scratch comprei há três anos, acho eu, foi logo quando saíram, e pus-lhe um x fader do Jesse Dean com o intuito de fazer scratch fora de casa, mas na verdade acabo por usar mais para ouvir discos na cozinha.
02 – O do estúdio uso todos os dias ou quase, uso muito como ferramenta de produção, crio os meus próprios samples e depois manipulo com o gira-discos, para ouvir só musica uso mais o da sala, uma ou duas vezes por semana, às vezes mais, às vezes menos, e acabo por ouvir mais discos de funk ou de soul e coisas mais chill, mais ambiente, love vibes.
03 – Dos Technics curtia ter vários modelos: desde o 5G àqueles pequeninos para discos de 7 polegadas, e vários setups espalhados por casa. Eu sei que há gira-discos hi-fi com mais qualidade de som e que são bué hipsters ou whatever, mas para mim basta Technics com umas colunas decentes. Quero os Technics, isso é que é máquina.
[Joaquim Paulo (Mad About Records)]
1 – Em casa tenho dois gira-discos. Um EMT 930 com a cabeça original TSD 15 SFL e que me acompanha desde 2009, e um Garrard 401 com braço fluid transmition, este aquisição recente deste ano.
2 – Todos os dias oiço música essencialmente no EMT. Adoro o detalhe do gira-discos. E oiço tudo o que tenho à disposição na minha colecção. O Garrard comprei acima de tudo para poder ouvir os test press da minha editora, a Mad About Records. Gira-discos de precisão graças ao seu braço Michell Fluid .
3 – Talvez pudesse ter de novo o Thorens TD 524, que já tive e estupidamente vendi.
[Marko Roca (aka Rocky Marsiano)]
1 – Technics SL 1200 (Silver). Tenho-o faz 10 anos. Sempre quis ter o gira-discos em casa e quando surgiu a oportunidade de comprar um em segunda mão por um bom preço, não hesitei. E por ser prateado, tem uma pinta diferente.
2 – Uso-o praticamente diariamente e para escutar de tudo um pouco: hip hop boom bap, global bass, MPB, discos para crianças com contos, etc.
3 – Seria exactamente o mesmo modelo, mas sem estar tão “gasto” como o que tenho.
[Pedro Tenreiro (Antena 3, Poder Soul)]
1 – Technics SL 1210 Mk2. O primeiro comprei-o há quase 30 anos e o segundo há 25…
2- Todos os dias. Quando estou a trabalhar no computador, aproveito para ouvir coisas novas (para mim…) e ando pelo Mixcloud, pelo SoundCloud, pelo YouTube e pelo Bandcamp. Mas dedico sempre o tempo que posso a explorar os meus discos, novas aquisições e coisas que vou recuperando. Acredito ser fundamental para o meu trabalho enquanto DJ, conhecer os temas a fundo, estabelecer ligações (muitas vezes pouco óbvias…) entre eles, etc.
3 – Sinceramente e embora existam coisas mais audiófilas, acho que não queria outros. Gosto do som, da ergonomia, da robustez. Gostava, isso sim, de experimentar outras cabeças e agulhas, tipo Grado, em vez das Ortofon Concorde que tenho usado.
[Eduardo Morais (documentarista)]
1 – Há uns dez anos um amigo emprestou-me um Gemini XL-500 II para um DJ set qualquer, e até hoje não o devolvi. Já tive um par de Technics pelo meio (na altura em que se vendiam por menos de duzentos “paus” em segunda mão), mas acabei por vender em momentos de mais aperto.
2 – Tendo uma colecção somente de singles e EPs, aquele clássico do “ouvir um disco do início ao fim” não está muito presente nos meus hábitos musicais. Uso o gira-discos principalmente para preparar a caixa de discos de um DJ set; para gravar mixtapes e programinhas de rádio; e levo-o comigo quando os espaços culturais não possuem pratos e apetece-me rodar alguns discos.
3 – Tenho o banal fascínio fetichista pelo Thorens TD 160, puramente pela sua estética que tresanda ao lado bom da década de ’70.
[Francisco Rebelo (Orelha Negra, Fogo Fogo, Cais Sodré Funk Connection)]
1 – Não sendo um nerd dos gira-discos, tenho alguns… Neste momento, o que está ao serviço é um Technics SL-BD22. Comprei no Cash Converters há uns 18 anos, tem correção de pitch e é mais pequeno e ocupa menos espaço do que o SL-1200 Mk2 (tenho dois no meu estúdio).
2 – Não uso assim com tanta frequência como gostaria, pois não costumo estar muito tempo em casa, mas semanalmente ponho sempre uns discos a tocar. Se tiver que pesquisar qualquer coisa para o meu trabalho, aí agarro-me mais tempo à “coisa”, e muitas vezes digitalizo coisas que me interessam e que reutilizo com um sampler no Protools ou Ableton Live. Ouço de tudo: do clássico ao jazz, do progressivo ao Punk, seja rock, seja hip hop, bandas sonoras, library music, discos de efeitos sonoros, poesia e até música e contos infantis.
3 – Já está escolhido e até o tenho em casa. É um Thorens TD 165, mas precisa de uma adaptação de ficha DIN 5 pinos para RCA, de modo a entrar no amplificador ou DJ mixer que aqui tenho. Mas ainda tenho mais dois aqui em casa para além destes que referi: o meu primeiro de todos é um daqueles móveis de madeira com rádio e gira-discos com amplificador a válvulas e altifalantes ovais incorporados. Foi com ele que aprendi a gostar de música e onde rodei infinitas vezes muitos discos para aprender, de ouvido, a tocar guitarra e baixo. O meu pai ganhou-o num concurso ou numa rifa em 1965. Está a precisar de uma pequena reparação no sistema mecânico de retorno do braço ao descanso. E tenho também um Sound Burger da Audio Techinica, que, salvo erro, acho que disputei com o Rui Miguel Abreu num Cash Converters aqui há uns anos (Nota do redactor: “correctíssimo”). Comprei novo, a estrear, ainda com tudo nos plásticos. Óptimo para ir às feiras do vinil e avaliar do bom estado dos discos antes de os comprar.
Tenho ainda mais uns cinco ou seis (um Grundig e um Philips, ambos portáteis, com as colunas na tampa, óptimos para piqueniques, e um Sharp, um Dual e um Sony, que estão guardados na garagem dos meus sogros, por falta de espaço aqui em casa). Mas vou trazê-los muito em breve que já tenho saudades. Todos são objectos muito bonitos, que estiveram comigo em grandes momentos de prazeres vários.
[Nuno Galopim (RTP, Antena 3, Gira Discos)]
1 – Tenho neste momento na sala um Sony PS-HX500. Numa caixa, numa das dispensas, há um Pro Ject T1 (destinado à casa de férias, embora não goste muito desse modelo) e um Sony pechisbeque velhote dos meus tempos de garoto, com o tampo cheio de autocolantes (já nem sei qual é o modelo), mas esse está na respetiva caixa há já uns bons anos, devidamente arrumada no “Tetris” de tralha que para ali anda…
Tenho ainda um Crown portátil (recente) na minha sala de trabalho (na RTP), mas esse é tão mauzinho que só o tenho usado em filmagens (entrou no episódio dedicado a Marco Paulo, na série Vejam Bem, por exemplo)… Tenho também um gramofone (que funciona), comprado numa feira de velharias, que uso para ouvir os 78 rotações (o que não é frequente, mas dá jeito quando é preciso). O Sony PS-HX500 foi um fruto do mais puro acaso… O velho Technics SL-1200, que me acompanhava há valentes anos, começou a dar de si… Coisas da idade… E para não ficar um serão sem gira-discos, passei de tarde por uma loja e aquele modelo da Sony pareceu o melhorzito que lá estava. E foi comigo para casa. Que fique claro que não sou audiófilo. Nada disso! Gosto de ter um som fixe. Mas prefiro saber mais sobre os discos do que sobre os gira-discos… E estou mais focado na música do que no som… Além disso, quando soube da música que mais encanta alguns amigos mais audiófilos reforcei a minha opção. O Sony PS-HX500 não é como os pastéis de Belém ou os da Alcoa. Mas também não é um pastel de nata de pastelaria de supermercado. Dá bem conta do recado. Está em parelha com um amplificador PMA 500 AE da Denon e umas colunas em caixa de madeira B&W 684, com bons cabos a ligar tudo. Tanto o amplificador como as colunas servem apenas o gira-discos. O áudio ligado à televisão, leitor de Blu-Ray e de CD têm um amplificador e um sistema de colunas 5:1 à parte… Mas, sublinho, não sou audiófilo. Desde que dê para ouvir bem, a coisa marcha. Quanto ao arranjo do Technics (que já tem uns anos, mas não é das primeiras gerações do modelo), esse foi sendo adiado, adiado… Também está no Tetris das caixas… Depois chegou Março de 2020 e mais adiado ficou. E quando passar o bicho trato disso. Não é urgente.
2 – Uso todos os dias… No escritório tenho um leitor de CD, um rádio, o computador e uma “barrica” da JBL para ouvir o que vem do streaming… No quarto, tenho uma velhinha aparelhagem completa (com deck de cassete, CD, rádio, etc, mas sem gira-discos) e aqui a banda sonora só se faz em tardes ou serões de leitura em formato mais horizontal. O gira-discos (está na sala) serve para quando o dia de trabalho termina e então posso escutar o que me apetece sem ter (frequentemente) qualquer trabalho como destino da audição. Às vezes tenho de ouvir vinil para trabalho, claro, mas uso o gira-discos sobretudo para finais de tarde e serões de lazer. Escuto um pouco de tudo, em função do que cada momento pede. Ainda ontem passou pelo gira-discos o álbum de estreia de José Afonso (edição original da Ofir, de 1964), o mais recente Point dos Yello e o Zuckerzeit dos Cluster. Havia um Bruckner, pelo Eugen Jochun (e a Filarmónica de Berlim), pronto para entrar já o serão ia avançado, mas depois resolvi ver o mais recente episódio da série do Luca Guadagnino na HBO… Antes tivesse escutado a “nona” do Bruckner…
3 – Mal possa quero ter o Technics SL-1200 de volta no seu lugar, devidamente arranjado… Mas o fetiche mesmo era ter um velho Phillips GF 110, um gira-discos portátil que me lembro de ser comum no início dos anos 70. Era um modelo de plástico, com comutador para 33, 45 e 78 rotações e que, estando fechado parecia uma mala. Tinha um som de “caracácá”, mas essa era a “verdade” da audição dos velhos singles na minha infância. Se calhar foi aí que decidi não ser audiófilo…
[Jeff Lennon (DJ, coleccionador)]
1 – Uso um Technics SL1200 MKII de 1979 equipado com agulha japonesa quase artesanal. Tenho esse gira-discos desde 1989, foi o primeiro dos três que tenho aqui em casa (outro 1200 e um 1210). Entrei no mundo do vinil de forma mais apaixonada através do rap em 1987, com um primeiro interesse pelo scratch, portanto já na altura o padrão era o MKII da inigualável marca nipónica Technics. Foi o que me levou à adquirir essa primeira peça bem como ter visto todos os campeonatos do DMC USA e Mundo 1986-1988 centenas de vezes em VHS, onde o MKII brilhava em qualquer setup e se adaptava aos surpreendentes níveis de criatividade dos DJs da altura, que até desafiavam as regras da gravidade em muitas ocasiões. 31 anos depois, com 42 anos de idade, o menino SL1200 porta-se lindamente, após várias restaurações de cabos RCA ao longo dos anos, mais nada. Bem calibrado, com agulha japonesa da pequena, mas incrível empresa Taruya em Tóquio que proporciona um espectro estéreo e uma interpretação das frequências de forma muito mais definida e ampla do que a maioria das marcas mais preponderantes. Isso sem entrarmos no universo dos audiófilos porque é outra dimensão…e bolsa.
2 – Uso-o todos os dias quando estou em casa, portanto perto de 170 dias por ano, pré-COVID, sendo que o meu trabalho implica muitas viagens pelo mundo inteiro fora. Escuto de tudo que compõe o meu universo de discos acumulados nos últimos 32 anos, com forte orientação na música negra no seu todo, fruto de muitos encontros que abriram o meu horizonte, e inúmeras viagens em perto de 70 países nos últimos 10 anos que ofereceram preciosas e inúmeras sessões de digging em sítios incríveis. Oiço desde de jazz, jazz-rock, OST, soul, funk, disco, boogie, rap, reggae/ragga, electro até afro, Brasil, Caribbean, Eastern EU e Russian’s groove, e também library.
3 – Sem hesitar, eu diria um Thorens TD-124. Primeiro modelo da marca com Idle drive, essa maravilha de concepção técnica e funcional, com um design e materiais harmoniosos e uma (alta) fidelidade no seu padrão de leitura que poucos gira-discos conseguem reunir ainda hoje… mais uma vez, escolhendo sem entrar no mundo algo exuberante e “geek” dos audiophile onde ouvir o seu sistema através do disco, e não o disco através do sistema, prevalece. Não me identifico.
[Edgar Raposo (Groovie Records)]
1 – Tenho vários gira-discos a funcionar, uns em casa e outro no escritório, na Groovie. Em casa tenho um Technics SP10, para muitos os Cadillac dos gira-discos. É um multi-task e extremamente raro, um maquinão por assim dizer. No escritório tenho um Garrard 401 restaurado, braço SME 3009. Mais um clássico, e entre os melhores gira-discos jamais construídos. Claro também tenho outros, LENCOS, TECHNICS 1210 MKII, etc. Devo dizer que não escolhi nenhum deles: fui escolhido por eles [risos].
2 – Tanto num, como no outro escuto um pouco de tudo, são gira-discos versáteis. Soul, rock, jazz, claro, depende muito da “cabeça/agulha” que lá está. São usados diariamente.
3 – Estou muito satisfeito com os que tenho, mas andam aí sempre muitas máquinas apetecíveis, o Thorens TD 124 ou TD 125 como exemplo. Mas há mesmo muita coisa que não me importava de ter por aqui…
[Henrique Amaro (Antena 3)]
1 – Essa pergunta relembrou-me um facto curioso. O meu gira-discos é o aparelho de som com maior longevidade de todos os que tenho em casa. Ao longo dos anos, troquei de amplificador, colunas, rádio, leitor de cassetes, leitor de CDs, mas o Technics SL– 1210 MK2 manteve estoicamente o seu lugar. Comprei-o em 89 ou 90 e escolhi-o porque na altura colaborava na TSF e esse era o modelo que existia na rádio. Era elogiado por todos e ao experimentar fiquei fascinado com a segurança e robustez que oferecia.
2 – A utilização que faço do gira-discos é parecida com a que dou ao fogão ou ao frigorifico. Uso diariamente e escuto de tudo um pouco. Esta noite ouvi o Exílio dos Império Pacifico, o Educação Visual do Valete e o 12 Catchy Tunes... dos Mitch & Mitch.
3 – Nunca pensei nisso, mas existindo essa possibilidade escolheria algo da Garrard ou da Thorens. São marcas com tradição, transmitem confiança e mantêm um desenho clássico que me agrada muito.
[Pedro Costa (Antena 3)]
1 – Na verdade, tenho de declarar “desavergonhadamente” que uso… cinco gira-discos. Como tenho os vinis espalhados/arrumados em dois locais da casa (sala e sótão) tenho três “postos de escuta” nesses dois locais. Na sala, um Thorens TD-160 (comprado há dois anos) e no sótão um “obrigatório” par de Technics SL-1210MK2 (com 25 anos, comprados há 10) e um Pioneer PL-15 (comprado há cinco ou seis anos).
2 – A frequência é de facto diária, e pelas escutas todos esses modelos são usados pelo menos uma vez por semana. Tudo tem a ver com o disco escolhido e a vontade de o ouvir no set certo (pelo menos naquele momento); permite-me poupar certas agulhas/cabeças e escutar certos vinis mais deteriorados pelo tempo no prato acertado para a função. As escolhas são muito ecléticas, mas sobretudo clássicos de todos os géneros, principalmente no Thorens, que é por onde começam as minhas manhãs e estou igualmente com mais tempo para o “ritual”. Pode ser qualquer coisa do William Tyler ou da Joni Mitchell, Stones, Suicide… ou Sinatra; mas também pode dar-me para o Alva Noto ou para o Makaya McCraven. O dia/noite “decidem”. Geralmente, depois do almoço ou à noite, os Technics do sótão nunca me deixam ficar mal, e por aqui já passam sons mais electrónicos e contemporâneos.
3 – Já estão escolhidos, por agora. Já tinha os outros três há muitos anos (ainda tenho um Technics SL BD22D Servo comprado há 30 anos, o meu primeiro gira-discos adquirido com o meu dinheiro, que serve de “suplente” sempre que um dos outros vai para manutenção); mas este Thorens TD-160 veio concretizar um sonho de adolescência (podia ter sido também um Linn LP 12) e tem um som de facto diferenciador. Há discos que foram feitos para serem escutados nestes vintage.
[Florian (aka Kryptic DJ)]
1 – O gira-discos que é mais usado aqui em casa por agora é o Rega Planar 6 que actualmente está equipado com uma agulha Nagaoka e que está posicionado na sala. É uma compra relativamente recente feita apenas no início deste ano. Antes disso usava dois Technics 1210 MK2 não apenas para trabalhos de DJ, mas também para audição simples. Mas já tinha a ideia de um gira-discos de correia exclusivamente para audição há algum tempo, mas sinceramente uma mudança de longa distância e uma incapacidade de decidir qual o caminho e modelo a escolher acabou por adiar esse investimento durante alguns anos.
Quando se trata de escolher um gira-discos há um monte de fatores que se devem considerar. Para mim, pessoalmente, o mais importante é aprender e descobrir quais as características de som que se gosta simplesmente ouvindo vários gira-discos equipados com diferentes agulhas. O orçamento também desempenha um papel importante, especialmente no universo hi-fi. Mas em relação à aquisição de um gira-discos, não penso nisso como um caso de “comprar um e está feito”. Pelo contrário, é algo que pode ser ajustado e alvo de experiências ao longo do tempo, quer atualizando peças, ou alterando a combinação de agulha e pré-amplificador phono.
Quando eu estou em casa, eu toco muitos discos de uma ampla gama de estilos e estava à procura de gira-discos rígido que fornecesse uma base sólida, bastante neutra, mas enérgica para o tipo de som que eu gostaria de obter. Cheguei até a considerar modelos vintage de outras marcas, mas, depois, finalmente decidi comprar o Planar 6 porque o ouvi em algumas configurações convincentes para os meus ouvidos, e ainda assim sendo ainda acessível em termos financeiros, elegante e com ar moderno e equipado com uma fonte de energia externa. Além disso, a existência de um revendedor local que permite sessões de escuta com uma gama variada de agulhas e que ajuda a montar o gira-discos de uma forma afinada foi o factor final que me convenceu.
2 – Acho que o gira-discos é usado numa frequência quase diária. Eu trabalho em casa, o que explica esse padrão, mas em geral eu gosto de seleccionar discos ao longo do dia. Tanto para a banda sonora do pequeno almoço, música de fundo para o meio do dia ou uma sessão de escuta mais concentrada para a noite. O Planar 6 roda bastante.
Descrever o tipo de música que compro e ouço é sempre um pouco difícil. Ao longo dos anos as minhas preferências e gosto têm-se alargado e já percebi que atravesso fases em que escolho certas coisas e deixo outras mais de lado. Actualmente dei por mim a escolher sobretudo coisas dos anos 80, com um foco na fusão, synth-pop, soft-rock, new wave, música folk regional e música ambiental, muitas vezes com um toque eletrónico. E se é verdade que isso abrange uma grande variedade de estilos, há certas características que são recorrentes e eu devo que admitir que tenho uma predilecção por discos ligeiramente obscuros, pelas suas histórias muitas vezes muito pessoais, pelas capas e pelo background.
3 – Pergunta difícil. Se eu pudesse escolher livremente, sem quaisquer limitações de orçamento eu poderia encontrar-me alcançando algo icónico como um Linn LP12. Sendo mais realista, eu posso não substituir este gira-discos, mas sim arranjar um extra, provavelmente vintage, para acompanhar o meu atual modelo Rega, equipado com uma agulha diferente para alargar a variedade de experiências de escuta que eu posso ter, dependendo do disco que queira ouvir. Pensando nesse cenário, provavelmente colocaria um VPI vintage ou um gira-discos Thorens ao lado do Planar 6.
[João Carlos Callixto (Investigador Musical, RTP)]
1 – Uso um gira-discos Pro-Ject comprado há cerca de 12 anos em Lisboa. Na altura, o que me fez escolhê-lo foi ter 33, 45 e 78 rpm e poder ser ligado à porta USB do computador, o que me permitia gravar desde logo para o computador qualquer vinil que lá pusesse.
2- Uso-o todas as semanas, um ou vários dias. Uso também um gira-discos Philips mais pequeno e que é especialmente pensado para discos de 7 polegadas, gravando directamente para uma pen. Portanto, no Pro-Ject oiço quase sempre os LPs, independentemente dos géneros musicais, mas também muitos 7 polegadas. Como colecciono e me interesso acima de tudo por música portuguesa, acaba por ser o que mais oiço nele, mas também música espanhola e francesa dos anos 60 e 70.
3 – Um “sonho” já tão antigo como a aquisição do Pro-Ject é ter em casa um gira-discos de leitura laser, mas creio que os preços ainda não estão em valores razoáveis para pensar em tal…
[Rodrigo Alves (aka Trol2000, Peekaboo Records)]
1 – Tive sempre os clássicos Technics SL-1210MK2, mas sonhei em ter um prato mais sensível e próprio para ouvir certos géneros de música. Há dois anos tive a possibilidade de adquirir um Thorens TD-125 MKII, o gira-discos usado pelo lendário Larry Levan no Paradise Garage, é um clássico que me abriu os horizontes e que me proporcionou descobrir certos detalhes na música que antes nunca tinha conseguido ouvir. Não quis ficar apenas por um clássico, um bom gira-discos precisa de uma boa agulha e claro um pré e amplificador que o acompanhe, por isso abri os cordões à bolsa e arranjei um Quad 303 + Quad 33. O que me fez optar por esta combinação foi sem dúvida poder escutar os discos de uma maneira que até à data nunca tinha conseguido fazer.
2 – Eu ouço música practicamente o dia todo porque estou na Peekaboo, muitas das vezes chego a casa e preciso de silêncio. Ouvir música no Thorens para mim é como um ritual, preciso de ter tempo e disposição para o fazer, não gosto de meter um disco a tocar e ir para outra divisão da casa ou distrair-me com o que quer que seja. De manhã o sol ilumina a divisão onde faço estas audições e é muito confortável, mas faço-o com mais frequência à noite, talvez umas três vezes por semana, depende da minha disposição. Ouço um pouco de tudo, mas o que me dá mais prazer ouvir talvez seja o jazz e música ambiental.
3 – Estou muito contente com o que tenho, ando é a pensar comprar uma nova agulha.
[Rui Ferreira (Lux Records, Lucky Lux)]
1 – Tenho vários gira-discos em casa e na loja , a Lucky Lux, mas o meu preferido e o que eu mais uso é o Technics SL-1210MK2. Entrei para a Rádio Universidade de Coimbra (RUC) em 1993 e foi lá que me apaixonei por este modelo. Durante anos usei estes gira-discos na RUC e pude comprovar todas as suas vantagens e virtudes. Em 1999 comprei um Technics SL-1210MK2 novo e desde então está comigo sem nunca ter precisado de uma reparação, e posso dizer que já sofreu bastantes agruras (já serviu para festas públicas de DJ e foi o gira-discos de suporte em duas lojas de discos).
O Technics SL-1210MK2 tem tudo o que eu espero de um gira-discos: tem tecnologia “Direct Drive”, um quarto de volta atrás e estás nas rotações certas; é robusto e à prova de choque, podes saltar e dançar perto dele que a agulha nunca salta; tem um sistema fácil e prático para mudança de rotações (um simples toque). Sou um coleccionador de 7″ e por isso para mim é fundamental um sistema fácil para mudar as rotações. Já tive um Linn Axis todo “audiófilo”, mas sempre que queria ouvir um single era um terror, ainda por cima não era Direct Drive. Mais vantagens: o sistema de regulação de contrapeso é dos melhores que conheço, até alguns discos empenados consigo ouvir sem a agulha saltar; é um gira-discos pensado para DJs mas raramente uso o “pitch”.
2 – Todos os dias o uso e o que mais ouço são discos da área do pop/rock.
3 – Escolhia um ELP Laser Turntable, porque poderia ouvir as vezes que quisesse um disco sem o deteriorar e reduzia imenso as marcas de desgaste nalguns que possuo. Imaginas o que seria ouvir um “shellac” de 78 RPM como se de um disco novo se tratasse? O problema é o preço: com os 15 mil euros que custa um bicho destes, eu prefiro comprar umas largas centenas de discos.
[Bernardo Marques (aka mr_mute)]
1 – Vamos por partes: o primeiro prato que tive foi um da Fischer-Price, que ainda tenho, quadradão de plástico que tem uma agulha aparentemente indestrutível. Comprei o meu primeiro prato “à séria” em 2001/2002, um Reloop MK6 6000 que é uma bela máquina ainda hoje, com um torque superior ao do Technics e opções de controlo de rpm de início e final de rotação. Actualmente, o prato que uso para ouvir música é um Technics SL-1200, um autêntico tanque de fiabilidade, que comprei há coisa de três anos.
2 – Não há dia que passe que não dê uso ao prato. Está sempre a tocar um qualquer disco da colecção, ou daqueles que acaba de chegar ou dos mais antigos. É a aparelhagem aqui de casa e onde ouvimos a grande maioria da música. Curiosamente, caso esteja na cozinha, noutro tipo de pratos portanto, costumo usar um Vestax HandyTrax ligado a uma coluna portátil. Os estilos que ouço reflectem o meu gosto eclético: de tudo um pouco, de um 45 de Horace Andy, a Sepultura, passando por Kenny Garrett antes de saltar para um DJ Screw.
3 – Para exclusivamente ouvir música, optaria ou por um Technics SL-1000R, uma autêntica referência (daí o R no nome), com uma amplitude sonora sem paralelo ou um Thorens TD1601, que para além de uma peça linda com acabamentos em madeira tem a fiabilidade da engenharia germânica. Contudo, para mixar, e DJ sets, estou satisfeito com o setup clássico de dois Technics e uma mixer.
1 – O meu gira-discos é um fiel SL1200 mk2, que tenho há mais de 15 anos e que comprei quando recebi o meu primeiro ordenado, na altura como investigador. Escolhi-o porque sempre o desejei, talvez por tê-lo visto em tantas cabines, e por querer ter em casa um standard da indústria (com direct drive). Na minha infância lembro-me de ter um all-in-one hi-fi da Grundig, à frente do qual passei muitas horas…
2 – Dou privilégio a álbuns. Na verdade, não me lembro da última vez que ouvi um maxi nele. Ainda é a minha forma favorita de ouvir um disco, sendo que o que mais toca nele é jazz, MPB e soul.
3 – Este chega-me, mas se me for permitido sonhar gostava de ter um RR126 italiano, por ser uma peça de design incrível.
[Gijoe]
1 – Technics sl 1210 mk2 (tenho três).
2 – Praticamente diariamente para ouvir música (variada), tocar como DJ (mais hip hop, jazz e electrónica) e sampling (variado) .
3 – Eu considero que actualmente a minha maior exigência é no estúdio, em casa tenho apenas um Numark pt1 scratch para ouvir, e sinceramente estou bem com os Technics. Mas gostava de ter em casa um “tone factory”, quando sair, por questões de design e práticas.
[Surma]
1 – Costumo ouvir música num gira discos muiiiito antigo que o meu pai trouxe da Suíça, há 30 e muitos anos, um Sansui de ’82. Infelizmente, avariou há uns mesinhos e estamos a ver se tem arranjo ou não! Desde bebé que me lembro de ouvir todos os vinis lá de casa neste gira-discos! Tem um som tão específico que parece que estás em estúdio com os músicos! Há uns tempos, comprei um gira-discos da Crosley, que em termos sonoros e estéticos é inacreditável e fico muito feliz que ainda exista esta cultura do vinil, apesar de se ter perdido um bocadinho, ainda há malta que acredita na especificidade e na peça única que é o vinil!
2 – Neste momento, estou a usar o Crosley e ouço música nele quase todos os dias! Todo o tipo de música, do jazz ao alternativo, do experimental ao world music, do rap às bandas sonoras japonesas, entre muitos outros. Se me derem a escolher, CDs, plataformas digitais ou vinil, escolho o vinil sem pensar uma única vez! O transparente som da agulha coloca-me num espaço de tempo mágico, abre-me uma sensibilidade interna inatingível. É tão mais humano ouvir música num gira-discos, parece que crias uma ligação com o artista, entras na casa da sua própria música e consegues sentir a sua personalidade a entrar-te no corpo! Para mim, ouvir música num gira-discos torna a experiência de apreciar um álbum tão mais humana e única!
3 – Se pudesses escolher qualquer gira-discos para ter em casa, qual seria e porquê? Gostaria de ter uma Belle Epoque de 1912. Sempre foi um dos meus grandes sonhos. Talvez, pela sua estética peculiar e pelo próprio som específico dela! Talvez um dia destes peça para o Natal!