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Publicado a: 22/06/2015

13 discos essenciais da Strictly Rhythm

Publicado a: 22/06/2015

Nova Iorque retomou a sua posição como centro nevrálgico da cultura de dança global quando a herança disco se transformou em house e o vírus alastrou definitivamente. Um dos nomes fundamentais que definiram o novo momento foi a Strictly Rhythm, editora inaugurada em 1989 por Mark Finkelstein, engenheiro aeronáutico que trabalhou no módulo lunar na década de 60, e Gladys Pizarro. Gladys foi sempre a A&R da editora e, para além, disso participou em vários discos. Colaborou com Erick Morillo, remisturou algumas faixas, tocava em algumas outras. Ela foi muito mais do que uma mera executiva. Foi a alma da editora. Finkelstein, bastante mais velho, geria o lado mais burocrático do negócio.

O primeiro grande hit da Strictly Rhythm aconteceu com o número 7 do catálogo, em 1990. Foi “The Warning” (Logic), exemplo de ambient house quando era ainda prematuro, sequer, falar em deep house. Um dos produtores foi Roger Sanchez, entretanto distraído para o mega-estrelato. Finkelstein afirma que foram provavelmente os primeiros a lembrar-se do termo ambient house.

Foi considerada Editora Independente do Ano em três anos consecutivos, na cerimónia de atribuição dos Prémios Nacionais de Música de Dança nos EUA. Durante boa parte da década de 90 ficou conhecida por hits universais como “I Like To Move It” (Reel 2 Reel) e “Free” (Ultra Naté) mas, paralelamente, mantinha intacta a credibilidade underground com as produções de DJ Pierre e Phuture (roubados a Chicago) e até com “Higher State Of Consciousness“, o momento em que Josh Wink fez o crossover entre house, techno, breakbeat e explodiu na cena rave.

Em 1999 começou a ser concebido um acordo global de marketing e distribuição entre a Strictly Rhythm e a multinacional Warner, mantendo a independência criativa da primeira com o acrescento da máquina promocional e de distribuição da segunda. Finkelstein queria, sobretudo, implantar a música de dança como género credível nos Estados Unidos onde, segundo ele, era encarada como filiação menor da pop. Esta ideia de expansão, nos anos gordos da indústria, significava que o grupo Warner poderia reeditar qualquer disco da Strictly Rhythm que já tivesse vendido mais de 75.000 exemplares. Imaginem esse número em 2015. Claro.

Mas em 2002 a Warner recua na decisão e a Strictly Rhythm é forçada a fechar. Regressa em 2007 para um novo período de actividade, reeditando vários dos seus clássicos e prosseguindo o seu catálogo com discos e produtores novos, indistinta num mercado em decadência e sem reais trunfos, até ao momento, para voltar a ser grande no underground.

Em baixo, 13 escolhas pessoais do catálogo Strictly Rhythm entre 1990 e 1995. Discos incríveis, alguns estranhos, alguns não são bem house, outros são tão universais hoje como sempre o foram, mas todos continuam a marcar momentos comoventes na pista de dança. Certos importantes ficaram de fora só por uma questão de coerência, não têm “videos” na net – vergonha para ti, internet! Por outro lado, óptimo, isso deixa-nos margem para explorar coisas ainda fora do mapa. Imaginem que já sabem tudo. Não tem piada.

 


https://www.youtube.com/watch?v=_rTC8QvXiMc

 

[DANCE SYNDICATION] “Dancefloor (Vocal Mix)”
(12″ Dancefloor / Space, 1990)

The part where the kick drum just drops into my soul“. Som e voz muito Euro, um discurso centrado na experiência de clube, tópico habitual na house, absolutamente arrebatador quando bem feito. Aqui é tenso, sério, imperador.

 


 

[ROOMMATES] “Voices In The Club (Seduction Mix)”
(12″ Voices In The Club (Let’s Do It Baby), 1990)

David Anthony mas também George Morel, um dos mais activos na Strictly Rhythm. Sedução e sexo, chaves para soltar muita química absolutamente vital na pista de dança. Piano, baixo, gemidos, voz masculina com pitch negativo.

 


 

[NEW RHYTHM] “Time Travel (Atmospheric Mix)”
(12″ Time Travel, 1990)

Outro de Ben Rebel (ver Dance Syndication). Baixo clássico mas deliberadamente abafado e clínico na mistura, deixando um ligeiro rasto. É na mesma assertivo mas de uma forma muito mais ficção científica. Malha hipnótica para elevar mais a cabeça do que os pés.

 


 

[RAW POWER] “The Movement (Original Mix)”
(12″ The Movement / Strings, 1990)

Só uma palavra: piano. Não procurem mais, se buscam a perfeita junção de ambiente com piano. Emoção e atmosfera, esta pode ir na mixtape para o vosso amor.

 


https://www.youtube.com/watch?v=14BxMqpWPqI

 

[THE AL MACK PROJECT] “Desire (Mix #1)”
(12″ Nightlife / Desire, 1991)

Linha de baixo super bem definida, um break cortado que contribui para a personalidade da faixa, cordas disco, voz naquele tom sensual aquático que basicamente diz que tudo caminha para um êxtase.

 


 

[AUDIO CLASH] “Electro Rhythm (Euro House Mix)”
(12″ Don’t Take It Away / Electro Rhythm, 1991)

Entram logo as cordas de alarme clássicas nas produções Wild Pitch de DJ Pierre (Audio Clash é ele, com um toque de George Morel na produção). House transcendente, ao mesmo tempo subterrânea, futurista e com uma voltagem muito estranha. Génio.

 


 

[TECHNO FIXX] “Caution (Sexx Ambient Mix)”
(12″ Caution / the Edge, 1991)

Proclamação de “Bassline!” no meio de gemidos bastante explícitos. Mais um disco Euro na Strictly Rhythm, inclinação muito new beat. Pensamentos pecaminosos do princípio ao fim (“Ooh Ahh”) e é possível que o Jack D. Eliott creditado como produtor (junto com Miguel Ortega) seja o mesmo que mais tarde trabalharia com Britney Spears e N’Sync. Uau.

 


 

[PHORTUNE] “Lose Control (Instrumental Mix)”
(12″ Lose Control / Ramsey’s Jazz, 1992)

Este é obra de Spanky, um dos Phuture originais com DJ Pierre. Depois, Marshall Jefferson é engenheiro de som aqui. Perfeito. “Lose Control” define o que já se deixava de chamar house para ser apenas underground (nos clubes perguntava-se aos DJs se não podiam passar “underground“). Além do mais, “Lose Control” é um comando meio obrigatório numa pista séria. Orgão e claps a brilhar muito.

 


http://www.youtube.com/watch?v=QRAutgmIjOA

 

[DJ PIERRE] “Muzik (The Tribal Wild Pitch Mix)”
(12″ Muzik / Muzik Is Life, 1992)

Nove minutos de deepness, com as cordas suspensas que se conhecem de tantas misturas Wild Pitch de Pierre. É o lado incrível da house tribal, regularmente muito mal afamada. O bleep ácido que entra a meio mata sempre. Camada sobre camada de sons importantes.

 


 

[PHUTURE] “Rise From Your Grave (Wake The F___ Up Mix)”
(12″ Rise From Your Grave, 1992)

Mensagem de libertação que deixará alguns confusos porque depois da introdução sentida, ao piano, chega “This is cocaine speaking!“, o grito icónico desta faixa é a abertura para um clássico entre os clássicos. Na verdade, a mensagem atribui a culpa ao crack e apela à união e luta por melhores condições, na típica voz cavernosa de Phuture. Tem sereias a cantar “Open up your eyes“. Muito inspirador.

 


 

[MOOD LIFE] “Needs (Not Wants) (Original Mix)”
(12″ Needs (Not Wants), 1993)

Marshall Jefferson é mais uma importação de Chicago para a Strictly Rhythm, aqui com Ce Ce Rogers. Ambiente para viajar, muito em consonância com o que se ouvia nas salas de descanso das raves inglesas (menos a batida house). Um momento melhor sentido de olhos fechados. Apreciem a riqueza melódica (celestial) sem perder noção do motor que é a linha de baixo e a percussão de mão fabricada pelas máquinas.

 


 

[PHUTURE] “Spirit (Original Mix)”
(12″ Spirit, 1994)

Já não era muito fácil encontrar discos realmente bons pelo número 234 do catálogo da editora, mas Pierre e Spanky prolongavam a qualidade mesmo já longe de “Acid Tracks” em 1987. Todas as marcas lá: a voz com o pitch alterado para baixo, a duração longa, as cordas e aquele típico skank de que a house se serve para marcar o groove. Nada falha, aqui.

 


 

[LOU2] “Freaky (Freaky Mix)”
(12″ Freaky, 1995)

Esta é a mistura QUENTE de todas as que fizeram para “Freaky”. Louie Vega e Lil Louis, juntos, são impossivelmente fortes. Vega produz, Louis fala o tempo todo de sedução, sexo, sair dali e ir para outro sítio, jogar o jogo da pista-de-dança, fazer-se notar, apreciar o que de bom há para ver no clube. Quase trance, gigante, para pista grande, e parece que comunica só connosco.

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