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Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 24/12/2018

A mixtape de estreia a solo da rapper portuense saiu em 2008.

10 anos de Capicua Goes Preemo: o primeiro murro na mesa da mais importante MC portuguesa

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 24/12/2018

Não é celebrada efusivamente como Sam The Kid, Valete, Dealema ou Allen Halloween, mas não é por isso que tem menos importância, relevância ou talento do que qualquer um deles. Afinal de contas, Ana Fernandes, que assina rimas como Capicua, teve que singrar “sozinha” num meio que, falando do caso português, ainda hoje é completamente dominado pelo sexo masculino.

Em 2008, a MC portuense deu o pontapé-de-saída da sua carreira a solo com uma mixtape rimada exclusivamente em cima de beats de DJ Premier, um exigente desafio auto-proposto para explorar uma escrita mais de punchline e egotrip. Nesse conjunto de temas, a técnica e a sensibilidade poética sobressaíram e revelaram um potencial imenso que, mais tarde, acabou por ser confirmado e expandido para fora do hip hop. Lançou dois álbuns aclamados por crítica e público, colaborou com gente como NERVE, DJ Ride, Bob da Rage Sense, Tribruto ou D’Alva, escreveu para Gisela João, Ana Bacalhau ou Aline Frazão, partilhou o palco com Sérgio Godinho, um dos seus ídolos, e, entre outras coisas, ajudou a cimentar o projecto social e artístico OUPA!.

À espera do primeiro filho e a preparar o sucessor de Sereia Louca, Capicua sentou-se à conversa com o Rimas e Batidas no Jardim da Estrela, em Lisboa, e reviu alguns dos momentos que marcaram o antes e depois do lançamento de Capicua Goes Preemo, reflectindo também sobre o seu papel no hip hop tuga e as dificuldades de se ser mulher num meio alimentado pela testosterona.



[PRÉ-CAPICUA GOES PREEMO]

“Eu comecei a fazer rap em 2000/2001. Mas de uma forma muito amadora com os beats do Mundo, com a M7. Íamos gravando umas coisas mas sem levar aquilo muito a sério. Só depois quando fui de Erasmus para Barcelona conheci um pessoal da Linha de Cascais, o AMP que toca com o Ruas, o Grilo que é um MC também ali daquela zona e que ficou a viver em Espanha, e fiz umas coisas com eles. E quando voltei estava cheia de vontade de fazer rap de uma forma mais séria e com mais dedicação. Foi aí que começámos a banda, eu, a M7 e o D-One que até hoje me acompanham e a Maria. Fizemos uma banda os quatro, que se chamava Syzygy, que tinha um nome que ninguém sabia o que queria dizer nem ninguém sabia escrever, mas que basicamente significava três corpos astrais alinhados, tipo um eclipse.

Fizemos um EP que saiu em 2006, depois eu resolvi fazer um EP com o Auge que era um rapper do Porto e com o D-One, chamado Mau Feitio, em 2007, e depois sentia que estava preparada para fazer uma primeira aventura a solo. E não era só isso; é que eu tinha um bocado a ideia que tinha uma tendência para uma escrita mais poética e mais metafórica, mas que não dominava o impacto. Ou seja, não tinha explorado a punchline, não tinha feito um egotrip. Quer dizer, tinha uma tentativa no Mau Feitio, mas não eram coisas que eu dominava, e sentia que para me considerar mais versátil e mais completa enquanto MC precisava de trabalhar isso. Então decidi fazer uma mixtape que fosse um exercício disso: músicas de estilo livre sem um tema específico, mais de punchline – não que fosse uma coisa muito agressiva mas que tivesse a ideia de uma música sem tema, sem refrão sem nada, em que o impacto de cada rima era o que interessava, porque achava que era o que me faltava. E decidi escolher o Preemo, porque, além de querer fazer uma mixtape sem precisar de estar a recolher beats com produtores, ou fazer originais, achei que o DJ Premier, além de ser um clássico, tinha beats de boombap minimalistas o suficiente para que o instrumental não me levasse ao colo. Eu tinha de gerir o impacto do sample e do loop, o BPM até era mais lento do que os beats que nós costumávamos usar no Porto, que eram sempre mais orquestrais com os pianos, mais acelerados e que facilitavam o trabalho. Eu senti que aquele exercício de gerir os impactos, de me bastar a mim mesma, era bom naquele beat mais despojado, apesar de musical e clássico. Também podia ter corrido mal e as pessoas acharem que era uma heresia, mas foi essa a minha linha de raciocínio.

Mas decidi experimentar e escrevi depois numa altura em que estava de volta de Barcelona, tinha estado lá a estudar e depois tive de voltar. E senti que seria a altura ideal. Lembro-me que fui para Barcelona outra vez em 2006, que foi um ano super intenso de rap tuga. Saiu o Pratica(mente), o Serviço Público, saiu o disco do Regula, o Máscara do Expeão, que até hoje é um dos discos que mais curto no rap tuga, o Sólida Oportunidade de Mudança do Mundo Segundo. Foi um ano muito rico no rap tuga, mas eu estava mesmo com a pica de contribuir, claro que não saiu em 2006 nem em 2007.”



[“LINGERIE”, HORIZONTAL, VALETE E AS PARTICIPAÇÕES]

“Acabou por sair em Setembro de 2008 e tive sorte: antes de fechar a mixtape mandei alguns sons para o Valete e ele disse que gostou muito e disse ‘olha, se quiseres estou disponível para pôr a mixtape no site da Horizontal’ que era um dos fóruns mais participados da altura, e assim era uma forma de eu chegar a mais pessoas e divulgar a mixtape. Eu já tinha escrito um ou dois textos para lá e acabei por pôr o primeiro single, que era o ‘Lingerie’, no site. Correu muito bem e depois pusemos a mixtape. Já não me lembro dos números mas nas duas primeiras semanas tive mesmo muitos downloads porque o site tinha muita participação, não só do rap tuga, mas de muitos moçambicanos, angolanos, cabo-verdianos. Recebi muito feedback do pessoal os PALOPs por seguir o trabalho do Valete e por seguir o fórum. Também acho que na altura o rap tuga e o rap dos PALOPs estava mais ligado no sentido em que haviam menos coisas a acontecer nesses países e as pessoas conseguiam acompanhar melhor o que ia acontecendo. Hoje em dia é mais difícil acompanhar porque é muita coisa.

Quando começo um disco, eu escrevo para aquele trabalho num período de tempo. Porque sinto que assim as coisas ficam mais coesas e com uma identidade que retrata aquele tempo, aquela época, aquele momento. E depois também porque eu não escrevo permanentemente: eu faço pausas entre trabalhos para não repetir as fórmulas e para que os trabalhos soem diferentes uns dos outros. Eu escrevi aquilo seguido, até porque quando escolhes um DJ ou um produtor tens que ter algum critério para não ficar tudo muito monótono. Mas depende também do produtor, porque há produtores muito versáteis e que fazem coisas muito diferentes e outros que fazem coisas com um estilo mais marcado. Mas para ter uma noção do todo e da variedade do próprio alinhamento da mixtape, eu fiz aquilo tudo concentrado no tempo e foquei-me no que disse no princípio: no impacto da escrita, nos trocadilhos, nas piadas, nas punchlines. Manter o impacto barra a barra ou de duas em duas barras para treinar aquilo que me faltava. E depois quando voltei à minha escrita poética ou social-politica-emocional-intimista já fui com essa coisa de gerir os impactos com outra destreza. E acho que isso resultou. Eu costumo fazer exercícios para mim própria em cada disco. Todos os meus discos têm um exercício, e esse não foi excepção. Acho que foi a primeira vez que conscientemente impus uma quantidade de objectivos e metas, quer do ponto de vista técnico, quer estético, e depois de promoção e divulgação.

Depois saiu a mixtape e eu senti que foi uma espécie de boom para mim. Apesar de ter dois trabalhos em grupo, eu senti que não tínhamos conseguido sair do rap regional, ali da zona do Porto. Os concertos eram no Porto, o público era do Porto ou arredores. E senti que a mixtape tinha chegado não só a pessoal dos PALOPs como a pessoal de Lisboa e do Algarve. Comecei a receber feedback de pessoas de vários pontos do país e isso foi muito importante para mim porque ao mesmo tempo tinha conseguido passar a barreira da cidade e da região, que é importante e era difícil, e que as pessoas começaram a reconhecer o meu nome como artista individual. A prova de isso foi mesmo assim foi que nos anos seguintes tive montes de convites para participações do DJ Nel Assassin, DJ Cruzfader, Kacetado, Bob da Rage Sense e Sir Scratch. Senti que aquela mixtape me tinha aberto a porta para outras participações e para colaborar com outros rappers, produtores e DJs e que isso ainda faria com que o meu nome conseguisse espalhar mais pelo país.

Isso foi muito importante para mim porque me deu a auto-estima para depois quando estava a fazer um disco contactar produtores e dizer ‘o meu nome é Capicua, gostava de saber se tens algum beat para mim’, e eles dizerem que sim. Ou seja, foi importante para mim ter feito esse trabalho prévio antes de ter um disco, de dar a conhecer o meu nome e o meu trabalho, mesmo que fosse uma coisa informal como uma mixtape. Ultimamente parece-me que os putos preferem fazer EPs. E isto é um formato mesmo incrível para tu provares o teu skill sem truques. Pegas em beats que tu gostas da net e mostras skill e o povo vai ouvir. É um bocado a prova de fogo clássica para um rookie.  Mas é outra lógica e cada altura tem as suas lógicas. Eu não sou nada Velha do Restelo.

Mas acho que foi essa oportunidade de mostrar o meu trabalho com beats clássicos que toda a gente conhece. Há muitos rappers que cantaram naqueles beats, já mesmo depois dos originais. Houve até umas coisas muito engraçadas, por exemplo, quando saiu aquele beef do Nerve contra o X-Tense, uma das músicas do Nerve, que acho que até se chamava ‘Certidão de Óbito’, era no beat do ‘MC’s Act Like They Don’t Know‘, que está na minha mixtape. E havia gente a dizer ‘ela cantou no beat do Nerve’ [risos].

Eu nunca esperei ter aquele feedback nem tantos downloads tão rapidamente. Tenho que agradecer ao Valete que foi uma das pessoas que também mais me apoiou no caminho. Há gente que diz que rap é um meio machista, e é, mas também há homens que apoiam e o Valete é dos homens do rap tuga que mais apoia as mulheres do rap tuga num sentido motivador e muito pouco preconceituoso. Não tem esse preconceito em relação ao rap feminino — odeio esse termo, mas pronto). E agradeço-lhe ter-me dado a oportunidade de pôr o álbum no site porque a divulgação excedeu as minhas expectativas.”



[A MINI-TOUR E O ESPÍRITO HIP HOP]

“Entretanto a mixtape saiu e comecei a fazer uma mini-tour. Fizemos o concerto de apresentação no Porto e em Lisboa num bar chamado PinUp e na ZDB. Como na altura a M7 também lançou uma mixtape a seguir que foi a MARTATACA, o Deau lançou o single que bateu bué, o ‘Lamento’; o Jimmy P também tinha lançado qualquer coisa, o João Pequeno, que na altura tinha o nome de Seada, tinha lançado o algumas coisas. Então juntámo-nos todos e fizemos estes dois concertos de apresentação. Até porque naquela altura havia a ideia de que as festas de hip hop tinham de ter sempre muitos nomes, não era aquela cena de uma banda a fazer uma sala, tinham que ser vários. Nós fizemos Porto e Lisboa e correu mesmo muito bem e lembro-me de termos tido salas cheias. No Porto até tivemos problemas de ter amigos à porta que não conseguiram entrar. Foi uma altura fixe porque não só sentimos que estávamos todos muito activos, como também havia essa colaboração para organizar concertos e etc. Eu também acho que isso é uma coisa muito da minha geração. Se não me convidavam para tocar, se calhar organizávamos a festa. E isso foi uma coisa que resultou muito bem e acabávamos por tocar mais e em outras zonas do país. Foi uma fase de aprendizagem de como promover o trabalho, como organizar os concertos. Não que não tivéssemos já feito isso antes, mas foi toda uma altura de aprendizagem, de troca e de grande contacto com a comunidade hip hop. Ias tocar a um sítio e conhecia o pessoal dali. Ias tocar a Évora e conhecias a malta, vinhas tocar a Lisboa e convivias com os locais e depois criavas parcerias de participar na mixtape deste e do outro. Acho que esse espírito ‘Do It Yourself’, primeiro na criação e depois na organização de concertos, e o feat caracterizam o hip hop desde sempre. Foi uma fase super intensa. Depois da aprendizagem toda, e com o facto de ter conseguido que pelo menos no nicho do hip hop mais underground as pessoas conhecessem o meu nomes, comecei a fazer um disco lentamente, saiu depois em 2012. Mas sem esses anos de aprendizagem, colaboração e depois promoção do meu próprio trabalho individual nunca teria conseguido fechar o disco e dar o salto seguinte. Chegar a pessoal não só do hip hop mas também de outras tribos urbanas.”



[A RESPONSABILIDADE DE SER MULHER NO PANORAMA HIP HOP E AS REFERÊNCIAS FEMININAS]

“Não posso estar a espera que as portas se abram, eu tenho que as abrir. Isso é uma coisa clara, mas acho que hoje em dia sinto mais a responsabilidade do que na altura. O que acontece é que quando tu não tens nenhum trabalho em nome próprio tudo o que tu fizeres é bónus. E hoje em dia sinto que já tenho um público, já tenho uma responsabilidade. Tenho uma fasquia a manter e a superar. Acho que me tornei também já uma referência para as miúdas que começam a fazer rap. Podem não gostar do meu trabalho mas sabem que é possível ter uma carreira, e isso já uma coisa que acrescenta alguma responsabilidade. Na altura não sentia essa responsabilidade no sentido colectivo, de representar as mulheres no rap. Não, eu senti que tinha de fazer por mim porque não ia acontecer se não o fizesse. O que eu sentia também era um grande apoio. Senti que o feedback foi muito positivo quando lancei a mixtape, e que as pessoas surpreenderam com o meu trabalho, mas sem ilusões de que ia ser fácil porque o que é difícil em Portugal no rap não é fazeres um disco ou uma mixtape, é resistir no tempo.

Ao longo do tempo houve mulheres muito talentosas que fizeram coisas em Portugal e que depois não conseguiram pelas circunstâncias da vida ou pelo ‘game’ ser difícil. Por mil razões não conseguiram fazer um segundo ou terceiro disco, manter uma actividade intensa. Às vezes fazem alguma coisa mas isso é que é o difícil. Na nossa altura ainda não tinha essa consciência, mas não tinha grandes referencias. Pessoal mais velho do que eu, ou algumas pessoas da minha geração tipo a Blaya a Dama Bete, alguns pouco mais velhos que eu tipo a Tvon, a M7, que era a minha companheira de palco. Essa coisa de ter alguém ao meu lado com quem partilhar o trabalho também foi motivante e foi mais fácil, mas na verdade não havia mulheres mais velhas do que eu para servirem de referência, como o Boss AC ou os Dealema. Porque não continuaram, porque as que vieram a seguir ou contemporâneos também não. Quer tu tenhas ou não consciência, não soubeste se é possível porque ainda ninguém provou que é. Apesar de nessa altura ainda não ter assim uma consciência muito clara do porquê de ser difícil, o que seria mais desafiante no futuro, eu tinha noção que era preciso romper o estigma que havia na altura e ainda há hoje, que o rap feito por mulheres é wack. Eu acho que ainda existe, mas acho que na altura era pior. Porque acho que entretanto (tinhas a Lauryn Hill, tinhas a Foxy Brown ou a Lil Kim mais gangster) mas em Portugal havia aquela ideia de que as miúdas eram para cantar refrões e nada mais. E acho que isso com o tempo, apesar do público português ser sobretudo masculino e não se identificar tanto com as mulheres como identifica com os rapazes, foi isso que eu senti. Que tinha que romper com esse preconceito.

Acho também que isso fez-me sentir que quando tens que fazer tem que ser com skill. Eu, a M7 e a Eva Rap Diva naqueles anos seguintes conseguimos mostrar isso: que conseguimos fazer mixtapes, que conseguimos fazer freestyle, como é o caso da Eva, ou podemos fazer participações em mixtapes e não ficar atrás dos nossos companheiros.

A Lauryn Hill que sempre foi minha referência. Eu obviamente tinha ouvido as Djamal, ou ia ouvindo o que ia saindo se a Blaya fizesse um som ou a Dama Bete. Eu ouvia a banda da Tvon. Eu estava a par e conhecia. Tu podes gostar do som de uma pessoa ou da outra, mas só podes olhar como referência para pessoas que têm um percurso longo. E isso não existia em Portugal. Para mim havia a Lauryn Hill e depois havia os Dealema que eram a minha referência.”


 

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[A RELAÇÃO COM AS OUTRAS MCS]

“Nunca houve uma hostilidade da minha parte ou da parte da M7, com quem eu partilhava o meu trabalho, e nunca houve uma hostilidade das outras rappers portuguesas nem nada que se pareça. Há um bocado essa ideia de que as mulheres são muito competitivas.

Acho que as pessoas no geral não comunicavam tanto como hoje em dia. Mas das vezes que conheci pessoalmente qualquer uma delas sempre houve cordialidade e acho que reconhecimento mútuo. Mais tarde já colaborei com a Tvon e a Blaya, convidei-as para tocar no concerto do SBSR. Depois convidei outra vez a Blaya para entrar na Guerrilha Cor-de-Rosa. Já fiz coisas com outras rappers e nunca senti essa competição. O que eu acho é que como há aquela ideia de que só pode haver uma, que há a quota-mínima de uma pessoa, o próprio ‘game’ é que cria essa ideia de que não podem coexistir duas rappers no mesmo espaço. Que é uma ideia completamente ridícula, podem coexistir 300 manos mas não podem coexistir duas mulheres.

Como naquela altura também não tinha tanta consciência ou experiência como tenho hoje, se calhar não tinha tanto essa noção de solidariedade e de parceria, e agora tenho mais. E nota-se que eu tenho cultivado mais isso nos últimos tempos. Sempre convidei muitas mulheres para os meus discos, não só do rap, mas tenho colaborado mais naquela cena de convites ou conversas com miúdas que estão a começar para ver se criam redes de apoio entre elas e se se conhecem umas às outras, a ver se consigo que elas se motivem mais e resistam mais às dificuldades. Eu estou a tentar criar estímulos para quando eu quiser deixar um rap não fique um vazio atrás. Porque apesar de eu sentir que há muitas miúdas mais novas que são talentosas como a W Magic, a Blink, também as convidei para o SBSR, são mais novas que eu e são fortes. Há outras, a Máry M também. Está provado desde o início do rap tuga: é muito fácil que as miúdas do rap desistam. Eu acho que elas ainda voltam, que ainda têm tempo para isso. Mas é isso, é difícil criar uma rotina de trabalho intensa e uma regularidade de edição e capacidade de resiliência às dificuldades. Acho que nessa altura não tinha a consciência e que se calhar não procurei tanto esse contacto.

Regularmente há assim uma mixtape ou uma compilação só de miúdas e eu sempre tive dúvidas acerca dessa cena de ter um critério baseado no género. E fiquei na duvida se isso não seria reforçar a ideia de que há um rap feminino, estas a ver? Só que ao mesmo tempo se vierem em bloco têm mais capacidade de promover o trabalho, organizar concertos, etc. E portanto ao longo do tempo a minha relação com o que é uma boa ou má estratégia, aquilo que deve ser uma colaboração com as miúdas do rap, também tem mudado.”



[10 ANOS DEPOIS, VOLTAR À MIXTAPE DE ESTREIA]

“Eu ouço-os muitas vezes quando estou no processo de criação e quando lanço, e depois quando tenho de ensaiar para as letras e assim. Mas depois não oiço as mixtapes, como não oiço o Sereia Louca. Não costumo ouvir muitas vezes os meus discos, mas há músicas que eu acho que sobrevivem muito melhor ao tempo que outras e que tenho vontade de tocar ainda hoje. Por exemplo, a ‘Lingerie’, que foi o primeiro single da mixtape, toco nos concertos habitualmente, e agora quando estou com banda fiz uma nova versão da música. Há musicas que resultam melhor no formato banda. Gosto muito de tocar a ‘Lingerie’ porque é uma letra que continua com actualidade, mesmo 10 anos depois. Mas se calhar por pouco tempo: daqui a pouco já ninguém sabe o que é um MP3 e o refrão deixa de fazer sentido. Vou ter de mudar para iPod ou para iPhone.

Apesar de eu não ouvir as minhas músicas para trás, consigo gerir os alinhamentos dos concertos e vou mudando às vezes o reportório. Quando toco durante anos seguidos os mesmos discos começo a ter vontade de ir trocando as músicas e vou ouvir músicas para trás e surpreendo-me dizendo, ‘epá, está fixe, não me lembrava da música’, ‘quero tocá-la’. Nesta cena agora da batalha da Red Bull fui buscar uma letra do Incendiáriosmixtape do Scratch e do Bob e gostei da letra e adaptei-a. Coisas que vais ouvir que têm 10 anos e que ainda fazem sentido e te surpreendem a ti próprio como se estivesses a ouvir outro rapper. Com tanto distanciamento é como se não tivesses sido tu a fazer.”



[A IMPORTÂNCIA DE D-ONE E M7]

“O D-One está sempre envolvido no processo porque foi ele que gravou, misturou, foi ele que colou as músicas. Normalmente mesmo nos discos que eu gravo em estúdios mais kitados é ele que faz a pré-produção, é ele que faz as sequências dos instrumentais, etc. Nessa mixtape não foi excepção. Ele foi o DJ e o engenheiro de som de serviço e a única pessoa que ouviu a mixtape antes dela estar fechada, porque eu tenho um processo muito individual, não sou aquela pessoa que escreve e vai mostrar a letra ou que vai gravar e leva os amigos para ouvir ou que anda a mostrar a toda a gente, eu não faço isso. É muito raro eu mostrar a alguém. E o D-One acaba por ser a única pessoa que ouve logo porque eu gravo com ele. A primeira demo é sempre ele que grava, ele grava a versão final das mixtapes. Portanto é sempre a pessoa que conhece as músicas antes delas saírem, além de mim. E é assim eu trabalho com eles desde o primeiro EP em grupo, tenho uma cumplicidade grande com o D-One, sobretudo na parte criativa, e depois com a Marta (M7) no palco. Porque essa coisa de partilhar… partilhámos no caso da mixtape Capicua Goes Preemo, como a MARTATACA saiu pouco depois nós partilhamos o concerto, fizemos um concerto conjunto, a experiência de palco dessa mixtape e dos discos a seguir normalmente ela é que faz sempre as dobras então há sempre uma partilha no palco, mas com ele há a partilha prévia antes da mixtape sair e é responsável pela parte do som.

Gravei a mixtape toda na casa do D-One. Desde o primeiro EP que nós começamos a guardar material, nós não tínhamos quase nada para gravar. É uma história engraçada, porque nós tínhamos muito pouco material – estou a falar da nossa primeira banda em 2004/2005. E nós tínhamos pouco material para gravar então eu lembro-me de, além de juntarmos o dinheiro que tínhamos e os cachets dos concertos para comprar mais coisas, lembro-me de ter ganho um concurso na Rádio Cidade, eles fizeram um passatempo das havaianas e a melhor letra ganharia dois pratos e uma mesa de mistura. E ganhei. Vendemos os pratos e a mesa para comprar a placa de som e o microfone. O material que tínhamos na altura e que serviu para gravar o primeiro EP, a mixtape e a mixtape da Marta foi esse home studio que nós montamos em conjunto naquele espírito de trabalhar para o colectivo. E é uma coisa que sempre tivemos, desde o tempo das vacas magras e que acho que nos uniu bastante essa cena de sermos uma equipa mesmo em trabalhos individuais. Essa cena de partilharmos o material, o palco, a responsabilidade da promoção do concerto, tudo isso foi muito comunitário. E voltando à questão de ser mulher no rap foi muito mais fácil para mim por ter a M7 e o D-One ao meu lado, como uma equipa e não estar sozinha. Mesmo quando depois a minha carreira se tornou cada vez mais individual — as decisões são minhas e as metas sou eu que as imponho –, saber que tenho aquele backup é mesmo importante.”



[O RECONHECIMENTO E AS RAZÕES PARA A FALTA DE MULHERES NO MEIO]

“Eles [os homens] não se comparam comigo. A imprensa às vezes. Há sempre aquela ideia da liga à parte. É como se houvesse uma liga só para mim, porque no fundo há aquela coisa do ‘ah, isso é rap de mulheres’, ‘é rap feminino’. Não estou a dizer que são todos, mas há uma dificuldade em perceber que isto não é o futebol, nem é nenhum desporto olímpico. Mas por muito que eu faça e consiga coisas que a maior parte das pessoas se calhar nunca conseguiria tipo tocar no auditório do CCB, tocar com o Sérgio Godinho ou ser nomeada para um Globo de Ouro. Cenas que eu fui fazendo e que no rap tuga algumas são inéditas como escrever um fado… e que são marcos para mim. Por muito que eu faça e por muito que eu conquiste isso nunca vai acontecer ter uma liga conjunta).  Não é por mal, é uma ideia que está formatada. Parece uma coisa um bocado machista, mas também é uma coisa como se fosse um desporto olímpico em que há a categoria das mulheres e a dos homens. E também o público identifica-se muito mais facilmente com um homem do que com uma mulher

É uma mistura de muitas coisas. É uma mistura de razões culturais. Porque eu acho sinceramente que o rap exige um conjunto de qualidade e de características que não são muito estimuladas na educação das mulheres. Ter um espírito competitivo? As mulheres são educadas a ter um espírito competitivo entre elas, mas por razões erradas. Mas não para terem um espírito competitivo em relação aos homens, desenvolver os seus talentos, expor a sua opinião, de estar em cima de um palco sem a preocupação de ser decorativa, nós estamos ali para mostrar o nosso trabalho. São características que não são estimuladas na educação das mulheres. Ainda para mais numa cultura que conspira para que nós tenhamos uma auto-estima baixa, no geral por muitas razões que eu ficava aqui uma hora a explicar. E acho que para conseguir romper com esse ‘handicap‘ à partida — nós não estarmos estimuladas para esse tipo de skill e de característica temos de conquistar esse espaço que não é nosso à partida. Porque esta falta de referências, parece que não, mas se tu não vires à tua volta outras mulheres a fazerem isso, e se fores aos estúdios só estão lá os gajos e só falam de coisas de gajos… eles próprios há muito a cena do gajo do hip hop não ter amigas. De conviverem sempre entre eles. E às vezes há uma falta de comunicação ‘como é que eu falo com aquela miúda? ‘Como se fosse o meu mano?’ É um ambiente muito masculino, mesmo que não seja machista é muito masculino. E às vezes é mesmo machista…

Mas por uma questão cultural, por uma questão de ter essa auto-estima e dizer, ‘não, espera aí. Eu vou, vou mostrar o meu rap, não estou à espera da aprovação da turma, eu quero é fazer a minha cena’. Criar uma rede de colaboração que eu tive com todos os rappers que disse foi abrindo portas para mim, mas claro que para outras miúdas há muito ‘quero ir a uma festa, vou sozinha?’ ‘Depois como é que eu contacto o DJ, vai pensar que me estou a fazer a ele’. E às vezes é real. Há uns dreds que convidam miúdas para o estúdio para se fazerem a elas… há todo um conjunto de coisas. Depois elas começam a namorar e os namorados não gostam que elas vão para o palco porque confundem a cena delas mostrarem o seu trabalho com exibição. Passam mil razões. Até os pais exigirem mais responsabilidade com os estudos e com a faculdade, essa liberdade de sair à noite, de ensaiar, ir para o estúdio cheio de gajos. É toda uma questão cultural e do meio ser um bocadinho hostil e masculino. Se não tiveres um amigo ou uma amiga com que vás e te sintas amparado, cais de pára-quedas no meio dos dreds e depois como é que uma miúda faz?

Eu também acho que em termos de reconhecimento do público, se por um lado temos mais visibilidade porque somos poucas, esta questão da identificação do público do rap, apesar de haver muita miúdas que ouvem rap e eu acho que há cada vez mais, o público é super juvenil. Eu acho que é mais entre os 15 e os 25 a maior parte das pessoas que ouvem rap e são sobretudo rapazes. Há uma tendência para se identificarem mais com o que dizem os rapazes e o estilo dos rapazes, e a vida dos rapazes, os temas que os rapazes escolhem, a forma deles se vestirem, etc., e depois quando vão ouvir as miúdas até podem dizer ‘esta miúda tem skill’, mas se calhar não se identificam da mesma forma connosco que se identificam com os dreds. E isso faz com que no concerto um fã faça mais barulho no dred com quem se identifica do que com a miúda que ele se calhar até tira o chapéu mas é ‘não vou estar a fazer de fã da miúda’.

O rap é um meio competitivo, e as pessoas apoiam até tu começares a fazer barulho. Eu acho que o Valete, por exemplo, que é uma excepção nessa lógica. Já o disse várias vezes e acho que o Valete é de facto uma excepção no sentido em que ele apoia mais as mulheres do rap do que a média.”



[A “EXPULSÃO” DA TRIBO]

“Uma coisa que ainda me irrita mais que porem-me na liga das mulheres é que, como já tenho um público mais transversal ou que como já colaboro com o pessoal do fado, já não sou hip hop. Isso é uma coisa que me insulta. Expulsarem-me da minha tribo só porque consegui chegar a outros públicos é uma coisa que é injusta. Porque se há coisa que eu ouço muitas vezes é ‘eu comecei a ouvir rap porque ouvi o teu disco e comecei a gostar’. Pessoal dos 30 aos 70, dos 5 aos 15 anos de idade, muita gente a quem abri portas. Muita gente que não ia nunca ouvir um rap. Se aquilo que eu faço não é rap clássico, não sei o que é que é. Há quem diga que o que eu faço é até bastante conservador no sentido estético. Eu gosto de beats clássicos, de boom bap. Eu gosto de rap clássico, não faço nada propriamente muito crossover. E por isso quando me expulsam da minha tribo eu não percebo porquê. Porque acho que isso é injusto, porque acho que isso é dor de cotovelo. Ou é porque o  público é mais velho, ou é porque o público é mais novo. Eu tenho todo o tipo de pessoas nos meus concertos e acho que isso já não é uma coisa má. Mas isso é tomado como um pretexto para me excluir.

Se eu fosse brasileira já não era rap, era MPB. Já faz música muito intelectual ou é porque faz música para crianças (porque eu fiz um disco para crianças), ou é porque no público tem gente de todas as idades. Aquilo que eu faço é rap clássico, toda a gente reconhece isso. Aquilo que eu faço e o que tenho conquistado foi mérito meu, trabalhei muito. Há muitos poucos rappers em Portugal que lançaram um disco por ano desde 2012. Um disco, uma mixtape, um disco para crianças, um disco de remisturas, uma compilação, tudo. Eu trabalhei bué estes anos e tenho orgulho nisso. Agora se as pessoas me querem permanentemente numa liga à parte, se isso os faz sentir menos ameaçados… ok! Mas acho que é um bocado isso, um machismo velado. ‘Eu não me vou querer comparar com uma mulher’. Eu não sei se a Eva também sente isso às vezes um bocado em Angola, tinhas que lhe perguntar. Mas acho que é inevitável, e sei que acontece no Brasil com a Karol Conka, dizerem que aquilo já não é bem rap, já é música electrónica… E acho que é inevitável, eu sei que acontece no Brasil dizerem que aquilo já não é bem rap, já é música electrónica. Ou seja, sempre que uma mulher começa a chatear muito, eles arranjam maneira de não se compararem connosco, ou de porem numa liga à parte ou de dizer que aquilo já não é bem rap. Mas o facto é que apesar de ser uma coisa que eu acho que é injusta, não é isso que me vai fazer fraquejar ou demover. Porque de facto eu nunca precisei muito da aprovação da turma. Agora, gostava que, não por mim mas para que o meio seja mais favorável e que outras mulheres consigam florescer, acho que era fixe se as próximas gerações não tivessem tanto esse preconceito. E eu acho que não vão ter, sinceramente. Hoje em dia tu vês mesmo nos E.U.A as mulheres a chegarem a números incríveis (vais ver a Cardi B e ela fez coisas que poucos rappers fizeram), e eu acho que as novas gerações não têm essa ideia tão conservadora em relação ao rap que a minha gerações tinha. Misturam-se mais. É uma questão de tempo até aparecerem mais miúdas.

Quando foi a História do Hip-Hop Tuga [no Sumol Summer Fest 2017], eu disse no palco essa coisa de eu não ter sido a única mulher a fazer parte do rap tuga, e acho injusto isto parecer que fui. Ao mesmo tempo até escrevi uma crónica na Visão sobre isso, que o rap tuga conquistou muitas coisas incríveis nos últimos 20, 30 anos. Conseguiu profissionalizar-se, conseguiu chegar a um público super abrangente. Na juventude deve ser o estilo de música com mais ouvintes. Nos festivais começaram a pôr os rappers nos cartazes e a perceber que esgotamos salas, esgotamos datas de festivais. O preconceito perdeu-se. Aquilo que os Mind da Gap contavam, de dizerem que aquilo não era música quando eles iam tocar, já não acontece. Muita coisa a gente conseguiu, só não conseguimos resolver o problema das mulheres do rap. Os rappers têm de estar dispostos a reconhecer, e às vezes não percebem porque é que há poucas mulheres. Dizem que é porque as miúdas desistem, que começam a namorar e nunca mais aparecem.  Como se fosse culpa nossa. A culpa não é de ninguém. É uma coisa cultural, tem a ver com a sociedade super patriarcal em que vivemos. Tem a ver com o próprio meio do hip hop que é masculino, tem a ver com eles às vezes não saberem relacionar-se connosco, tem a ver com mil coisas. Mas enquanto se continuar a achar que é só uma questão de meritocracia básica, de que elas não vêm porque não conseguem, a coisa não vai. Agora, também não acho que haja uma solução evidente. É o tempo. Mostrar que é possível eu já o consegui fazer. Tenho feito algumas outras coisas para ver se inspiro e estimulo mais as mulheres a fazerem o que eu faço, e melhor até. E tenho esperança que seja uma questão de tempo.

No Brasil está a haver um boom! Muitas coisas a acontecer. E aquelas que se têm mantido uma década ou mais são quatro ou cinco num país de 200 milhões, isso já prova alguma coisa. Mas neste boom do Brasil espero que algumas se mantenham. Algumas desaparecerão, algumas conseguirão manter-se, mas tenho esperança que haja em Portugal também um boom desses para que algumas consigam ficar. Como está a haver agora o boom de rappers no geral… Há algumas com muito talento e que só por uma questão de injustiça é que não vingarão. “



[AS EXPECTATIVAS DA CAPICUA DE 2008] 

“Eu gosto muito de rap, do momento da escrita sobretudo. Adoro escrever e o rap exige que seja cada vez mais inventiva, cada vez ter mais ferramentas. Esse espírito competitivo também me agrada. Toda o processo eu gosto, e é por isso que eu escrevo. E depois eu também sou daquela escola do Porto que cresceu com os Dealema e que nunca achou que fosse possível viver do rap. Para nós nunca foi uma perspectiva. Existiam os Mind da Gap ou o Boss AC que conseguiam fazer concertos e viver se calhar do rap mas a maior parte que conhecíamos e admirávamos trabalhavam e tinham um emprego e faziam rap como um hobby. Sempre achei que isso seria o que me aconteceria a mim. Há 10 anos eu nunca pensei viver do rap, profissionalizar-me, trabalhar com uma editora a sério, gravar num estúdio a serio. Nunca pensei nessas coisas todas. Nunca pensei tocar em grandes palcos, nunca pensei escrever fados, nunca pensei colaborar com o Sérgio Godinho que era um dos meus heróis de infância, ou com outras pessoas que tenho colaborado que sempre me surpreendo. Nunca pensei tocar no Brasil. Há mil coisas que eu nunca pensei e que depois eu entro no palco e nesses momentos, nessas alegrias eu penso, ‘foda-se, comecei a fazer rap há tantos anos e nunca pensei vir a ter esta oportunidade’. E nunca pensei fazer esse percurso. Também tenho noção que isto pode não durar muito tempo e que se tiver que ir trabalhar noutra coisa qualquer eu vou. Mas pelo menos tive a oportunidade de dedicar o meu tempo aquilo que eu mais gosto e de consegui muitas coisas boas e muitas vitórias. E acho que nunca ter sequer tido o sonho tornou a coisa mais engraçada. Se eu tivesse tido esta ambição, ia fazer tudo para chegar cá, e não é a receita. Não há uma receita, o que há é muito trabalho. Isso tenho noção que é preciso. Sobretudo nesta era da Internet que a malta acha que é pôr uma música no YouTube e estão a convidá-los para ir tocar ao MEO Sudoeste, ou para assinar na Sony. Há muita essa frustração às vezes de ‘já lancei uma mixtape há dois anos e não acontece nada’ ou ‘já estou farto de pôr música na net e só tenho mil views’. E acho que para a geração da net isto não faz sentido, mas para a minha que começou a fazer rap por amor à camisola tudo o que vem é bónus. Neste momento tudo o que tenho conseguido é bónus. Aliás, eu achei que ia trabalhar em sociologia… Agora o futuro não sei. Espero é que quando eu for fazer outra coisa já haja mais mulheres no rap.”


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