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Texto: ReB Team
Publicado a: 06/01/2022

Cai neve em Atlanta, faz sol em Luanda.

#ReBPlaylist: Dezembro 2021

Texto: ReB Team
Publicado a: 06/01/2022

Arrumar a casa é uma tarefa que não tem fim — teremos sempre de fazê-lo e, quanto mais adiarmos, pior será no final. O mesmo se aplica àquilo que fazemos aqui, mas o final do ano é sempre diferente — no meio de tanta fartura, é difícil não deixar algo para trás, mas o conformismo e o pensamento de que fizemos aquilo que podíamos e conseguíamos têm de entrar na jogada. Por isso, e como já é habitual, a premissa foi que todas as faixas escolhidas fossem lançadas (em áudio ou com novo videoclipe) em Dezembro passado. Porém, as excepções existem para serem feitas — e é aí que entra a remistura de Mura Masa para “Polite”, tema de Erika de Casier. É de Novembro, mas os dois primeiros meses de 2022 ainda são de olhar para trás, não é?


[Cave Story] “Out of the Night”

Os Cave Story aproveitaram este Natal atípico para lançarem um EP festivo (que de festa não tem nada) intitulado The Town, gravado nos últimos dias de Outono e lançado na consoada. Ouvimos um lado mais cozy e puxado ao folk, sem deixar no entanto as distorções de lado, onde as guitarras e os pianos se abrem ao lado mais emocional e a voz aparece mais acentuada por entre as camadas, criando um ambiente de solitude quente à beira de uma lareira, na única divisão da casa que não está gelada em pleno Inverno.

O disco encerra com “Out Of The Night”, a faixa mais melancólica do quarteto até à data, que integra perfeitamente a definição de comfort sadness: Os field recordings, o piano a liderar, as guitarras que por trás choram distorção e inseguranças, em contraste (e complementando) a voz monótona que canta sobre um amor que já não existe por sua culpa, tudo isto à deriva num tempo e num espaço que tanto soa a actual como a nostálgico, que nos deixa num estado intermitente em que tudo parece baço. E, por vezes, é aí que queremos estar para fugir à intensidade que é o mundo exterior. 

Os Cave Story voltaram a mostrar uma nova faceta sem abdicar de um pingo da sua identidade, e esperemos que assim continuem, pelo bem deles e pelo nosso também.

– Francisco Couto


[Fat Nick] “Block Sweepers” feat. SosMula

A junção entre o Fat Nick e o SosMula faz lembrar aqueles rapazes do secundário que raramente falavam ao pessoal, mas estavam sempre batidos nas festas sem se misturarem e a irem buscar bebida à mesa. É assim que os dois se comportam, o estilo é único, difícil de imitar, mas a energia contagiante do trap mantém-se presente. “Block Sweepers” é uma faixa de massa pura, uma excitante colaboração entre os Buffet Boys, de que Fat Nick, que andou em tour com o Lil Peep, faz parte, e a City Morgue, criada pelo SosMula depois de sair da prisão.

– Fábio Nóbrega


[Ray Vaughn] “59th & Bethany”

“Sometimes I just, you know, sit back and reflect about the times when I was on 59th and Bethany when everything was bad
Now look at me now…”

E continua:

“For three months straight I was sleeping on an air mattress
I was assed out like my pants saggin’
Doing bad but if you ask me I’m doing fantastic”

Esta é, até ver, mais uma feliz história do sonho americano concretizado através do hip hop. No rescaldo do último mês de 2021, olhemos para o ano de Ray Vaughn: em Agosto foi oficialmente anunciado como o novo membro da Top Dawg Entertainment e em Setembro embarcou na tour de Isaiah Rashad. E em 2020 ainda fazia vídeos a rimar em freestyle dentro do carro. 

Agora, em “59th & Bethany”, celebra as poucas mas enormes conquistas que já conseguiu, sem esquecer a rua de onde veio e por aquilo que passou — aqui mais relaxado e menos agressivo do que no seu EP de apresentação, em que assumiu a Peer Pressure para provar o seu valor numa casa onde se viu rodeado pela excelência. Ainda tem muito tempo para provar esse valor. E, a julgar pelo que já demonstrou ser capaz de fazer, a aposta da TDE neste sangue novo não podia ter sido mais acertada.

– Paulo Pena


[Holly Hood] “Peso” 

Antes de nos despedirmos de 2021, ainda houve tempo para um single de Holly Hood: “Peso” é mais um banger ao estilo do rapper da Linha da Azambuja, sobre o quanto o nosso peso metafórico nos pode empurrar para baixo. Com o seu nome das bocas do mundo, o artista aproveita para reflectir sobre a sua importância, ao seu estilo e seguindo a sua lírica.

E um tema ao estilo de Holly Hood significa que há ego trip para massajar o mais frágil dos egos. O videoclipe, com a assinatura de André Caniços, leva-nos por uma viagem dentro da cabeça do rapper, e a letra lembra-nos quem é que é o dono daquilo tudo. Há um contraste entre o hook viciante e lamurioso e as barras disparadas e fanfarronas, o pessimismo confrontado com a confiança em si mesmo. O resultado é mais um single pesado, e já começam a faltar palavras para descrever o talento de Holly Hood.

– Miguel Santos


[Titica] “Waya”

Titica não é só uma kudurista especializada na arte fina de quebrar pernas, traseiros e espinhas, é um dos principais ícones LGBT de Angola e uma figura essencial na abertura de possibilidades para a comunidade em África. Acresce a isso o facto de não se quedar pela personalidade e de ser autora de algumas das malhas mais duras que se pode esperar do género — ou não fosse ela colaboradora do pai grande Paulo Flores, com quem já assinou uma música e já dividiu palco.

“Waya” é prova da vitalidade de Titica e também uma bela janela para conhecer Teo No Beat, o produtor que pinta as letras e voz da kudurista neste tema. O kuduro continua bom, óptimo, e mais do que recomendável.

– André Forte


[Tony Shhnow] “Home For The Holidays” 

Podem ainda não ter reparado, mas Tony Shhnow anda a inundar o mercado — e executa esse plano à imagem de Gucci Mane e Lil Wayne, duas das suas maiores influências, colocando muita música cá fora que se enquadra nos mais variados quadrantes (entre o trap, o plugg e o r&b ou, basicamente, todo o tipo de instrumentais onde imaginaríamos Brent Faiyaz).

Apesar de já existirem alguns momentos que saltam à vista na sua discografia (Authentic Goods e Kill Streak 2 são os favoritos deste lado), o conforto, no bom sentido, chegou com “Home For The Holidays”, uma faixa para ouvir à beira da lareira em que reúne os serviços de Niko East (responsável pelo nostálgico beat que poderia ser algo feito a meias por Cookin Soul e Knxwledge) e de Jelani Miller (o realizador que funciona como o seu Cole Bennett pessoal).

No seu estilo declaradamente relaxado e desleixado na rima, o artista continua ainda a saga de videoclipes a remeter para uma outra era (vão lá ver “Rock Yo Body” e “ATL Freestyle” para perceberem do que falamos). Não sabemos o que vai na cabeça desse lado, mas achamos por aqui que já todos precisávamos de novos clássicos de Natal. Fica a sugestão para o próximo.

– Alexandre Ribeiro


[Erika de Casier] “Polite” (Mura Masa Remix)

Fingiu ser “a tal” num romance que não despoletava borboletas, fez-se diva do garage a chorar um “Drama” psicológico musical, juntou-lhe o que de mais psicadélico há na eurodance para um corpulento “Busy” e imaginou Sade a passear pelas praias cabo-verdianas ao pôr-do-sol quando a conhecemos em “Polite” pela primeira vez — hoje, “re-embrulhada” por Mura Masa, alcança um ponto de maturidade sónica que podia muito bem ter a assinatura dos The Internet se lhes fosse dado o devido tempo para crescer.

Quatro singles com “infalível” escrito na receita que — spoiler alert — não valeram ao exploratório, textural e sensorial Sensational uma entrada na lista de discos mais apreciados pela redacção do ReB, que dentro em breve estará por aí. Assumo a minha parte da culpa ao reviver esta nova pele de “Polite”, que em Novembro integrou o primeiro disco de remisturas de Erika de Casier (com contribuições de Smerz ou Eartheater) e tem-se mantido com frequência nas daily picks aqui do sítio.

– Gonçalo Oliveira


[Roddy Ricch] “Moved To Miami” com Lil Baby

Ok, então a partir da marca de 1 minuto e para aí 25 segundos, “Moved to Miami” arranca com Roddy Rich a puxar do seu melhor modo flex: “Moved to Miami and copped me a boat”, “new Louis V’s every time I tote”, “I got money, never went to college” e “I got all my cars without the mileage” são todas cuspidas antes de se esgotarem as primeiras 16 barras. 

Bem sei que uma voz negra nascida e criada em Compton tem mais que direito de enumerar as conquistas – nada contra deste lado – e Ricch até o faz, tal como Lil Baby de resto (um par de exemplos: “I got power and I move like a ghost / In a ‘Rari doin’ one sixty, controllin’ it”), com a dose certa de carisma, mas não é por isso que se evoca aqui este tema. Esqueçam esses dois minutos e qualquer coisa de bravado mais ou menos inconsequente e concentrem-se no primeiro minuto e meio deste tema. Ouro líquido, mel puro, fogo intenso. 

A ficha artística do tema credita como co-autores uns misteriosos Lucas Padulo e Alex Cartagena, além dos dois rappers e do produtor TM88, pois claro. O Google não dá grande ajuda: indica que Lucas Padulo estudou ou estuda na prestigiada Berklee College of Music e não oferece nenhuma pista conclusiva sobre Alex Cartagena, mas isso aumenta a suspeita de que poderão ser eles os responsáveis pela longa intro do tema: Rhodes de cristal diáfano sobre loop sintetizado que parece capaz de nos carregar até às estrelas, em primeiro lugar, e, algum tempo depois, tudo isso secundado por uma bateria que bem poderia ter sido tocada por Yussef Dayes – cadência sofisticada elevada ao estado de superior arte rítmica. Um pouco mais tarde, só cristal harmónico de novo antes da 808 entrar e cavar um canyon de graves para a voz de Ricch sobrevoar. Alguém que pegue naquele minuto e meio de brilhantismo puro e faça um re-edit e ponha o resultado num 7 polegadas. Por favor! Eu compro três!

– Rui Miguel Abreu

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