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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/09/2021

Aliciante.

Kika Scorpion: “Acabei por abraçar a personagem”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 16/09/2021

Kika Scorpion é o pseudónimo com que Carolina Panta, a designer de várias capas do colectivo COLÓNIA CALÚNIA, por exemplo, assina o seu single de apresentação, em conjunto com Jota, Timóteo e Silvestre. Produzido pelo último, “Afrodisiaca” teve direito a honrosa estreia no canal de YouTube 4:3, plataforma do Boiler Room.

Ainda sem mais lançamentos cá fora, o presságio parece descrever um percurso que se espera interessante — e já há um EP em construção com beats do co-fundador da Padre Himalaya, podendo-se esperar fragmentos de trap, drill, baile funk e kuduro na produção.

Ainda a dar os primeiríssimos passos, Kika esteve à conversa com o Rimas e Batidas, falando-nos um pouco sobre as origens do projeto que verá um palco pela primeira vez no próximo sábado, dia 18 de Setembro, no Núcleo A70, em Marvila, um concerto incluído na programação do Rama em Flor.



Como é que nasceu o projecto?

Imagina, eu sempre estive no estúdio com os meus amigos, e sempre houve aquela cena: “ah, a Panta nunca grava um som”, desde há 10 anos para cá. Um dia, o Silvestre disse que me ia mandar um som e que eu ia gravar, e na brincadeira fi-lo e mostrei aos meus amigos chegados. Toda a gente estava a cantar isto a toda a hora. Sugeriram que fizesse um vídeo e acabei por fazê-lo, apesar de não estar a levar a cena muito a sério. E estou a ter muito bom feedback. Até mais gente de fora começou a seguir-me por causa do projecto e acabei por abraçar a personagem. Já tenho mais sons para sair e tudo.

Disseste que desde há 10 anos que estás com pessoal no estúdio. Quem é esse pessoal?

O Silvestre é uma aquisição recente, mas, como sabes, sou da Marinha, e é mais pessoal daqui, tipo o Senhor Timóteo, Jota, o Fonseca, o Cripta… Sei lá, sempre assisti tanto a brincadeiras como cenas a sério, às vezes podia contribuir para as letras, mas nunca gravei, sempre tive timidez e desta vez aconteceu.

Nem adlibs?

Não, sempre fui muito tímida com a minha voz…

Esta foi um sucesso, eu adorei. Mas conta-me mais, tu também fazes edição de vídeo, és designer… Escolheste o nome Kika Scorpion, que a meu ver está na linha estética do vídeo. Consegues falar-me um bocado sobre o conceito do projecto?

Foi uma cena super orgânica… e o nome não foge, vem do meu e-mail de adolescente, que era kikascorpion, no hotmail. Acho que foi uma cena que colou bem. Eu acho que a estética em si, sem aprofundar muito, é um bocado o meu trabalho pessoal, aquilo que eu exploro sempre. Sei lá, não pensar muito, ir vendo como é que fica, e aliar isso tudo. Tem pensamento, mas a grande parte é aquilo que estou a sentir. Sim, vou colando, resume-se um bocado a isso, mas agora é vídeo e música.

Sinto que essa experimentação é o que dá essa unicidade, é muito diferente de tudo o resto. Destaca-se por essa parte pessoal. Achas que é importante conseguires associar um trabalho ao artista, sem que a assinatura esteja explícita?

Sim, é um bocado a consolidação do meu eu artístico, se calhar, como é multifacetado estou agora a descobrir uma nova parte. É só uma continuação do meu percurso artístico.

E onde dirias que começou esse percurso artístico? 

Eu estudei design no IADE, mas sempre tive mais a queda para a expressão artística. Por exemplo, no Insta sempre fui publicando cenas minhas. Mas aquilo que me encaminhou mais para este ramo do design foi um dia ter publicado uma imagem e o VULTO. ter comentado e perguntar se eu queria fazer uma capa para COLÓNIA CALÚNIA. Fiz, e depois acabei por colaborar com ele várias vezes. E a partir daí também, para além da música, acabo por fazer coisas que se adaptam a outras. Também fiz um vídeo para o VULTO., Pedro, O Mau e Raul Muta. Em Kika Scorpion consigo fazer isto tudo.

Sobre esta primeira aparição de Kika Scorpion. Falas que fizeste um bocado no sentido de experimentar, mas como é que descreverias a construção lírica?

Imagina, uma cena que estava na minha cabeça era “Nike Shox, bike shorts” e acabei por usar isso. Depois foi um trabalho em conjunto, com o Jota e o Senhor Timóteo, que me ajudaram imenso na parte de construção da letra, e também a gravar, a entrar no flow e assim.

Há uma parte em que dizes “pochete, ’tou cheia de kyzas de mercado da darknet” ou “Uzi na mala”. Ou, ainda melhor, algo como “Estou com a estrica às nove da manhã no techno / Eu estou na fila às nove da manhã no técnico”. Isso tem um feeling humorístico, o que é que queres dizer?

Lá está, isso sai de uma brincadeira, mas, ao mesmo tempo, é um bocado aquela visão de que estou a fazer arte, e as pessoas são todas engenheiras. Bem, nem sei o que é que hei-de dizer sobre isto. Imagina, acho que o Senhor Timóteo e o Jota deviam estar aqui a falar comigo sobre este assunto, foi uma cena super colaborativa em relação a isto.

Mas a minha pergunta é mais específica. Tens várias referências ao mundo da moda, e isso parece estar presente no teu trabalho. Dirias que isso também define o estilo?

Sim, podemos encarar isto como um jogo estilístico. Por acaso eu uso Nike Shox, mas sinto que isto foi mais um exercício de estilo. Por exemplo, eu não fumo, nem consumo qualquer droga.

Pois, para uma música que começa com Carolina Cocaína[risos]

Não sei, eu faço as cenas a tentar ter humor, e vejo onde é que as coisas vão dar. E sim, já tive pessoal a vir ter comigo e a dizer que as descrevi através do som.

Pessoalmente, acho que a música está excelente. Mas sinto ao mesmo tempo que estamos a falar duma peça construída para soar bem esteticamente.

Em primeira análise, eu acho que a primeira ideia foi que tudo soasse bem junto, mas se calhar se formos a analisar todas as pessoas que fizeram parte do processo conseguimos tirar 10 mensagens diferentes. No fundo, para mim, fazer o vídeo foi mais prazeroso, porque é a minha área de conforto. 

Honestamente, uma das coisas que legitima o projecto é terem lançado isso pela 4:3. Como assim? Como é que isso acontece?

Sinceramente, a cena de ser brincadeira é mais a minha visão, porque fico incrédula com o que está a acontecer. Se calhar daqui a uns tempos vou ser mais capaz de olhar para isto de outra forma. Porque, sei lá, de facto isto aconteceu, saiu pela Boiler Room. Mas, falando por mim, sinto que o projecto faz parte do consolidar da minha cena artística.

Agora lançaste isto e pelo que me estás a dizer parece que estás feliz pela forma como foi recebida. Podemos esperar mais?

Eu já estou no processo de gravar mais sons. Estou mesmo entusiasmada, nem sei bem como é que vou fazer, mas já estou nesse processo. Para mim esta persona está a ser mesmo engraçada. 


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