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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 17/11/2020

A lenda da bass music nacional faria hoje 34 anos.

“BABUJAL MÁXIMO”: seis artistas escolhem os seus temas favoritos de Razat

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 17/11/2020

Dois anos passaram e ainda é estranho pensarmos que perdemos um dos maiores militantes da cultura beat em Portugal. Baltazar Gallego, mais conhecido no mundo das artes como Razat, disse-nos adeus a 25 de Agosto de 2018 mas o vasto catálogo que deixou espalhado pela Internet mantém-se relevante nos dias de hoje, inspirando novatos e veteranos nessa bela arte que é a produção orientada ao mundo digital.

Quando o ReB surgiu neste formato de revista digital, Razat já não era nenhum novato e dedicámo-nos a acompanhá-lo nos passos que foi dando desde então, reconhecendo-lhe a “capacidade de misturar géneros musicais com a facilidade de quem acreditava que não existiam barreiras sónicas para a expressão criativa”. Esta forma de estar na música, de horizontes bem alargados, valeram-lhe passagens por praticamente todos os subgéneros que existem dentro dos parâmetros da electrónica – drum and bass, techno, bass music, hip hop, future beats, glitch hop ou o que mais conseguirem imaginar.



De curador do podcast Beateria a label manager da Crate Records, da série d: a SATURATION, dos projectos ao lado de L-ALI ou Karlon, há muito — mas mesmo muito — para explorar no seu legado. E haverá, muito provavelmente, mais ainda que ficou arquivado nos seus discos rígidos antes de os deixar órfãos, sendo por isso normal que algumas dessas pérolas vão emergindo postumamente, como já aconteceu com o EP D Waves ou o tema “Simplicity”. E há quem não deixe de lhe prestar as devidas homenagens um pouco por todo o mundo: Bass Brothers, Seqtah, Dead End, Noisia, Sr. DuBong, Yellow-Stripe, HNGIN 행인 ou Reandah Mag dedicaram-lhe temas, mixes ou artigos em jeito de tributo ao herói dos graves. VACTUM, produtor holandês que tem Baltazar como um dos seus heróis, aceitou o nosso convite para estrear neste dia especial um tema, “Smug”, de homenagem.

O Rimas e Batidas lançou o desafio a seis artistas que colaboraram e/ou admiraram de perto a sua obra para escolherem as suas faixas favoritas do malogrado beatmaker e reflectirem sobre os ensinamentos que retiraram do seu meticuloso processo criativo.


[DJ Ride] “d:beat”

“A marca que o Razat deixou na música é enorme e ainda hoje vemos a sua influência em muitos releases pelo mundo fora. Há poucos meses, um produtor com o qual mantenho contacto da Coreia do Sul, HNGIN 행인, enviou-me uma mixtape de tributo ao nosso amigo.

O ‘d:beat’, para além de ser aquele tema que nunca saiu da pasta do Serato, foi para mim um turning point no percurso dele. De repente tinhas os Noisia, Alix Perez, Bassnectar, entre outros, a tocar este release e a dar-lhe props. Lembro-me da primeira vez que os Noisia passaram os temas do Razat, aquilo que [isso] significou para ele, eu nunca tinha visto o nosso amigo tão feliz, depois de anos a remar contra a maré, mas sem nunca perder a esperança que o seu som alternativo o iria levar ao reconhecimento internacional que ele tanto merecia.

Podia também mencionar os temas que fizemos juntos, ele ajudou-nos a produzir algumas rotinas de Beatbombers que levámos aos campeonatos do mundo, e o nosso álbum também. Todos os dias me lembro dele e das nossas conversas, do seu carácter resiliente, da sua energia que contagiava toda a gente e penso nos temas incríveis que ele estaria a produzir se ainda estivesse por cá.

Babujal 4 ever”


[Dead End] “Overdrive”

“A ‘Overdrive’ é, sem dúvida, a minha faixa favorita dele, é um club banger minimal e viciante, em que todos os elementos encaixam e estão medidos na perfeição. Apesar dos drums serem mesmo break ya neck e ter um ritmo contagiante, consegue alternar rapidamente e levar-te numa viagem alucinogénica por caminhos mais experimentais com um cunho muito pessoal. É uma faixa marcante que faz parte de um EP mítico no que à música eletrónica e mais propriamente ao halftime diz respeito. Costumo passá-la em praticamente todos os meus sets.

O Razat é um pioneiro, um autêntico génio musical e um mestre no sound design. Foi das pessoas que mais me inspirou na música a procurar fazer mais, melhor e a evoluir. Deu-me muito apoio, guiou-me, acreditava em mim e ajudou-me a lançar internacionalmente. Encontro-me várias vezes a revisitar o trabalho dele à procura de inspiração, a aprender técnicas e a recordar aquele que para mim é um dos melhores produtores que Portugal já viu e que é visto como uma referência a nível mundial na beat scene e no drum and bass. Deixa muitas saudades mas é bom saber que o seu legado é eterno.

All Hail King Razat!”


[Holly] “Stomp”

“É impossível escolher o meu som favorito na discografía de Baltazar aka Razat. Quando gostamos verdadeiramente de alguém, toda a sua arte é especial para nós e é assim que me sinto em relação à música do Baltas. Tudo o que ele criou é especial para mim porque partiu da bonita pessoa que ele é, e da qual tenho tantas saudades. Às vezes penso que ele ainda está cá, a fazer beats no sótão dele em Lisboa e que em breve volta para as Caldas, mas são nestes momentos em que tenho que falar dele que me confronto com a realidade e percebo que o meu brother já não está fisicamente entre nós. Contudo, momentos como estes fazem-me pensar também no privilégio que tive em criar várias obras musicais com ele, entre os três volumes da nossa série de EPs Libertry e vários singles que lançámos em conjunto. Mas mais importante do que a música que criamos, foram as lições de vida que o Baltas me transmitiu e me fizeram moldar a minha personalidade em busca de ser um melhor ser. A energia do Baltas irá viver para sempre no meu mundo assim como os ensinamentos que me ele me passou estarão sempre dentro de mim.

No âmbito deste artigo, o som que gostava de partilhar convosco (e mais uma vez, não é o meu favorito porque não é possível para mim tomar tal decisão com uma discografia tão rica como é a do Razat) é o ‘Stomp’, que fizemos em conjunto e lançamos com o nosso EP Libertry Vol.2. Esta escolha não tem nada a ver com a parte de produção do som em si mas sim com os momentos que este som me faz recordar nas minhas memórias. Lembro-me de termos feito upload do projecto no SoundCloud e uns dias depois tinha um comentário do Thys/Noisia no ‘Stomp’ a dizer que o ia passar na Noisia Radio. Lembro-me de ligar ao Baltas e à Pamela e contar o que se estava a passar e a felicidade do Baltas foi tão bonita que é impossível explicar por aqui. Quem conheceu o Razat sabe o quão importante foi o trabalho dos Noisia para a vida dele, e a gratidão e amor que o Baltas teve por esta ação do Thys foi inigualável. Este momento fez me perceber o quão o Baltas amava a sua arte e o quão puro e incrível ele é. Este episódio também ensinou-me quanto à importância de não perder o amor destes momentos que a música nos dá e da felicidade que a nossa arte nos traz quando atingimos metas que nos são tão pessoais e íntimas.

Como já transmiti neste texto, a arte e a amizade do meu amigo Baltazar irão viver comigo para sempre e espero que não nos esqueçamos da nossa missão em manter a sua energia viva e continuar a partilhar a sua arte com quem ainda não a conhece. A arte tem este poder especial de nos fazer viver para sempre, e sempre que ouço as músicas do Razat sinto que ele ainda está aqui comigo. Mas mais do que a inspiração que a sua arte me trouxe, o mais importante foi a maneira livre de viver a vida que o Baltas me ensinou a ter.

Amo-te, brother, e tenho saudades tuas todos os dias. Obrigado por me teres feito uma melhor pessoa e espero que nos estejas a proteger aí do teu céu.

Babujal 4 life!!!

Do teu puto Holly”


[Subp Yao] “d:beat”

“A minha faixa favorita deve ser a ‘d:beat’. Esse tema é um banger e parece que foi feito sem ele se ter esforçado muito. Aquela percussão de dois tons soa tão bem, todo o movimento do baixo, drums muito bons, o ambiente fixe. É uma produção de topo.

Não me vem à cabeça uma técnica dele em específico. Acho é que a forma como ele estava na música era bastante inspiradora. Sempre que eu lhe dava o toque ele estava a fazer música. Sei que o Kanye West tinha um sinal na parede do estúdio dele que dizia, ‘o que é que os Mobb Deep fariam?’. ‘O que é que o Razat faria?’ é algo que eu pergunto a mim mesmo quando encravo a fazer um tema e isso ajuda-me muito. Regressar aos projectos que trabalhámos no Ableton também é algo que me traz sempre inspiração para fazer algo novo.

Love.”


[Stereossauro] “Cum Hard”

“Uma das minhas preferidas e que uso em quase todos os DJ sets é a ‘d:beat’, malhão com grande groove. Uma grande surpresa pra mim foi o disco de reggae em que ele assume o nome de Cedric Miller. Mas a música que vou escolher é a ‘Cum Hard’: beatzorro e e tem aquele drop mesmo à ‘Babujal’… Quem viu o Razat a pôr som sabe bem o que era levar porradinha do P.A.. Mas porradinha da boa. Inevitavelmente vinham os drops cheio de kicks, energia sempre no nível 11 (de 0 a 10 lol) BABUJAL MÁXIMO!!!! Ele fez muita música e tinha muita música ainda pra nos dar… estas mais hardcore são as que eram mesmo 100% Razat em estado mais puro.”


[L-ALI] “d:worry”

“Este baixo é a definição de ‘babujal’. Ele esticou-se nesse projecto… O ‘kit d’unhas’ que ele tinha era insano. Tive sorte em poder ter trabalhado com este senhor que me deu tanto. Eternamente grato pela música que deixou e inspirou, e pelas oportunidades que me deu.

Saudades.”

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