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Publicado a: 27/06/2015

Zona T, finest: saúdem os filhos da terra

Publicado a: 27/06/2015

[FOTOS] Bruno Martins

 

Um palco montado imediatamente ao lado de uma saída de metropolitano pode ser uma excelente opção para local de concertos. Se calhar podiam estar ainda mais a saudar ProfJam, filho da terra, mas mesmo em dia de greve de metro, Telheiras e arredores compareceram em peso a este set caseiro do rapper da ASTROrecords. Em fim de tarde de Verão, numa Sexta-feira que prometia uma noite quente em Lisboa, o Jardim António de Sousa Franco acolheu amigos e fãs do rapper.

Telheiras não é um típico subúrbio de Lisboa – nem nada que se pareça: por aqui, ao fim da tarde, não é difícil encontrar esplanadas de famosas geladarias cheias de meninas de cabelo castanho claro, bronzeadas – “franciscas” e “isabéis” – em conversas sorridentes com meninos de sapato vela e calção às riscas marinheiras chamados “manéis” e “bernardos”. “Zona T, finest!”


prof_jam_zona_t_finest_2015_bruno_martinsProfJam


Mas foi aqui, na fronteira entre Carnide e Telheiras, que ProfJam e Mike El Nite cresceram e fizeram fluir o seu hip hop, que nada fica a dever ao som que vai sendo feito noutros bairros. Então é com um sorriso que vemos o reconhecimento da Junta de Freguesia aos seus rappers e, sobretudo, a um estilo: um palco virado para uma zona de relva que se vai enchendo de gente pausada, ao estilo de sunset de bairro, paredes-meias a uma horta urbana e a dar música a atletas de fim de tarde que vão trabalhando a resistência de pernas e glúteos em máquinas elípticas. Mike El Nite é o mestre-de-cerimónias da tarde/noite de Lisboa: nos pratos e com um microfone, saúda a plateia – onde há cabimento para todos: “franciscas” e “manueis”, também, claro que sim – e vai chamando ao palco os artistas da noite que se prolonga por quase duas horas.

Havia vários motivos de interesse na noite: um, a estreia de Slow J – rapper de Setúbal que, nesta Sexta-feira de final de Junho, a convite da boa gente da ASTROrecords, foi apresentar o brilhante EP The Free Food Tape, mas também fazer a sua estreia em palcos – já lá vamos; e também o concerto de ProfJam, que chamou mais uma série de amigos para dividir faixas e rimas – Vilão (ou o “chefe vilarinho” da ASTROrecords, como carinhosamente lhe chamam os amigos); Phoenixx MG, Papillon (dos GROGNation) e Magboy RSK.


slow_j_zona_t_finest_2015_bruno_martinsSlow J


Mas a primeira nota para Slow J: era difícil ter melhor estreia em palco. Para quem nunca tinha estado nestas andanças – e que provavelmente terá ensaiado muito em frente ao espelho lá de casa para apresentar tamanho flow – J apresentou uma confiança muito grande. Numa entrevista que poderás ver aqui no Rimas e Batidas, que fizemos logo a seguir a esta primeira actuação [fiquem atentos!], João Batista Coelho fala de experiências antigas na música, mais no universo do punk e do metal. Mas este The Free Food Tape, escrito, produzido e gravado pelo próprio, mostra-nos que esta é a praia do músico e, ao vivo, Slow J confirma-o: de sorriso fácil e olhos alegres, desfila todos os temas do EP de forma imaculada, com um flow irrepreensível e com mão completa sobre a plateia que já se perfila em bom número na frente de palco, mostrando ter as letras das canções bem sabidas. Ao fim de meia hora de concerto, com direito a apresentação de uma faixa ainda não editada, Slow J deixa o palco sob forte ovação, beijinhos, abraços e carinhos de parabéns dos amigos que o vão receber.


profjam_zona_t_finest_2015_2_bruno_martinsProfJam


Agora com a festa já a correr, eis que vem o senhor da noite: ProfJam, filho da terra, vestido de preto, dá início ao set com um flow ao estilo de boxeur, veloz e potente em cada um dos temas da sua mixtape The Bigger Banger Theory. E está cada vez mais gente a aparecer no largo do Jardim de Telheiras – a sério que as portas gradeadas do metropolitano continuam fechadas?

Os temas do seu mais recente trabalho mostram a variedade estilística de ProfJam, que tanto puxa de um beat mais electrónico, de referência contemporânea norte-americana, como depois já está num outro mais clássico, a piscar o olho à primeira década do hip hop português. Não dispensa os amigos no palco, uma verdadeira crew, que puxa pelos seus, que roda os microfones de mão em mão – os tripés de micro ficam encostados lá no canto: isto é mesmo à moda da passagem de testemunho.


magboy_rsk_zona_t_finest_2015_bruno_martinsMagboy RSK


Magboy RSK é o primeiro a subir para ajudar em “Cépticos”; Phoenixx MG, o senhor que se segue, para “Drogas & Bottles”. Aparecem ainda Vilão, para “Parte Loiça”, Papillon na belíssima “Money”, e Mike El Nite, que deixa os pratos e o computador por um momento para vir cá à frente estimular o mosh de Telheiras com “Mambo Nº1”. A celebração merecida e bem festejada de ProfJam não acaba sem um freestyle à capella e termina com os amigos em palco a dar o suporte a um tema que fazia mais do que sentido nesta noite: “Bairro 3”, um tema mais antigo que ProfJam fez com Spitfyah & Mistah Bright dedicado à zona que hoje os acolhe: “a junção de Benfica, Carnide e Lumiar”. Isto também é espírito de bairrismo.

A noite fecha cedo, mas não fica por aqui: a tropa segue agora para o Santiago Alquimista, onde os Mobb Deep, referências para muitos destes que hoje estiveram em Telheiras iam começar a actuar. E as portas do metro, que teimavam em não abrir…

mike_el_nite_zona_t_finest_2015_bruno_martinsMike El Nite x ProfJam

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