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Publicado a: 28/05/2017

XXIII c/ FS Green: dores de crescimento numa noite exótica

Publicado a: 28/05/2017

[TEXTO] Samuel Pinho [FOTOS] Samuel Martins

Para os mais desatentos ao que de melhor se cria (e produz) a Norte do país, a XXIII define-se como uma crew comprometida com os future beats e sonoridades derivadas. Quer através de festas impróprias para cardíacos, lançamentos exclusivos ou as ocasionais sweetdrops (mixes realizada por DJs/produtores convidados, sempre acompanhada de artwork original, publicada no próprio SoundCloud), o projecto fundado por Tiago Ribeiro Torres e Kika Pereira da Cunha tem desbravado terreno baldio rumo a um futuro que se quer mais receptivo a tudo o que pauta por diferente, vanguardista.

E foi com algo fora do habitualmente visto que o certame começou: a organização já tinha notificado que os efeitos visuais estariam a cargo do MECHA – estúdio de conteúdos audiovisuais – e os visados não desiludiram. Com um ecrã que cobria toda a largura do fundo da sala 2 do Hard Club, as avalanches de cor e ritmo foram constantes; o live act de animação e fluxo reproduzido na tela gigante foi exímio, não falhando sequer na arte de bem acompanhar a música que se fazia ouvir.

 


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E no que a soundbytes concerne, foi Baltazar quem abriu as hostilidades. A viagem transatlântica foi anunciada prontamente, num set que cruzou dancehall e tarraxo, kizomba com laivos de electrónica e ao tropical bass. Claro que a apreciação – para além da componente estritamente técnica – cabe a cada um dos ouvintes. Porém, e na minha modesta opinião, Baltazar deu uma chapada de luva branca a todos os clubbers do Porto: como nos demos ao luxo de não conhecer um DJ deste gabarito, com um leque de influências tão vasto, capaz de nos envergonhar por lotarmos noites com DJs de Queima. Nota positiva para um banho de imersão musical sem barreiras de género: a versatilidade foi a imagem de marca do miúdo que parece isso mesmo, apesar de já girar discos desde 2010.

Seguiu-se Cash From Hash e com ele chegou o future bass. Se a música propagada por Baltazar fora catarse mental e um hino ao baile mais leve, a de CFH apontava directamente às ancas e ao footwork mais esquizofrénico, num convite tácito a que os presentes acederam de boa vontade. Pedro Bento teve a destreza de manter quente uma cama que teimava em arrefecer e isso não é coisa pouca.

A principal atracão da noite entrou na sala ladeado pelos elementos da XXIII, numa demonstração de unidade que não passou despercebida a quem ia calcando o piso que estaria prestes a ganhar nova vida. FS Green tratou de fazer precisamente o que lhe competia e levou ao rubro uma escala escassa. Aliou sonoridades mais hip-hop based – de Skepta à inevitável “Bumaye” – a um vasto conhecimento da nova música brasileira – ouviu-se “Partiu” de MC Kekel e “Novinha” de MC Don Juan – e cumpriu o seu papel. Ficou o amargo por parte de quem o sabe familiarizado com grandes palcos e grandes públicos, pese embora o facto do DJ e produtor holandês ter tido uma postura irrepreensível e uma entrega pouco comum a intervenientes musicais donos de um estatuto como o seu.

 


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Donos de uma identidade gráfica invejável e de um modus operandi exemplar, a XXIII sempre nos habituou a festas lotadas. Daquelas em que chegamos a casa com a t-shirt a pingar e as pernas feitas em papa: tudo isso por meia dúzia de tostões. A procura por outros palcos como acto de ousadia ficou devidamente registado por quem de direito, nomeadamente pelos seguidores mais fiéis.

Em última análise, referir que a label pode ter tentado dar um passo maior que o permitido pelas próprias pernas. Porém, importa mencionar que o passo foi dado e a direcção aponte: esse mérito é deles e ninguém o tira. De uns anos a esta parte, veremos produtores estrangeiros a encher salas portuguesas. Pode ser que a criança com pouco mais de 2 anos possa reinar como merece.

 


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