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Publicado a: 26/06/2017

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[TEXTO] Diogo Santos

Ao oitavo registo – apenas o segundo no formato longa-duração – Vince Staples evolui meticulosamente e de peito feito. É hip hop para a pista e para o club. É o futuro da música negra?

Desde o EP Prima Donna, editado em Agosto de 2016, que se sabia estar para breve o regresso aos álbuns por parte de Vince Staples. Big Fish Theory, anunciado pelo próprio como sendo o futuro da música – “o meu Afro-futurismo” – , entra de rompante com “Crabs in a Bucket”, faixa que vai à boleia do grime e que tem a participação vocal de Justin Vernon aka Bon Iver e de Kilo Kish. De seguida, em “Big Fish” (segundo single, apresentado em Maio passado), apoia-se em Juicy J num dos temas mais autobiográficos do álbum e que, se calhar, até teria espaço naquela espécie de nota de suicídio que era Prima Donna escutado de trás para a frente.

 



Em “Alyssa Interlude” já é por demais evidente a evolução rítmica de Vince Staples – “Como é que soam os robôs?”, terá sido este, de acordo com a entrevista à LA Weekly, o ponto de partida para Big Fish Theory. Aqui, usa samples de Amy Winehouse e The Temptations num tema que encaixaria que nem uma luva num qualquer EP de Burial. Ray J, uma das maiores influências para Vince Staples, entra ao serviço em “Love Can Be”. É também neste tema que Damon Albarn se chega à frente – não espanta, já que Staples é uma das novas coqueluches do universo Gorillaz e até vai participar na digressão de verão destes desenhos animados.

Quase a chegar a meio e eis que Staples, qual contador de histórias, decide abrir o coração em “745”: “This thing called love is real hard for me”. A pausa surge em novo interlúdio, no caso “Ramona Park is Yankee Stadium”. Sim, outra referência a Summertime ’06, o primeiro álbum do rapper californiano. É com a porta toda escancarada que surge “Yeah Right”, malha cheia de potência que junta dois dos maiores símbolos da West Coast dos dias de hoje: Kendrick Lamar e Vince Staples, o próprio. Em “Homage” – está tudo, Rick Ross? – Big Fish Theory continua a alta velocidade pelas artimanhas da vida de Staples, o rapper Vs Staples, rapaz de 23, quase 24 anos.

 



Num disco em que nunca se escondem as influências do techno e do house dos anos 90, o último terço também não se esquiva a sonoridades com funk e groove por todo o lado. “SAMO”, com a participação de A$AP Rocky, surge aqui quase como separador para um das sequências mais curiosas do longa-duração. Primeiro, “Party People”: tema com a mão de Zack Sekoff, rapagão de 21 anos que é já um dos mais influentes da LA beat scene. Bom, e justiça seja feita a Sekoff, uma vez que está na produção de outras quatro faixas deste Big Fish Theory; e “BagBak” (o primeiro single, mostrado ao mundo em Fevereiro deste ano), talvez a faixa liricamente mais inspirada deste álbum.

O disco termina e passa ligeiramente a marca dos 36 minutos com “Rain Come Down”, terceiro single de Big Fish Theory, faixa que desliga o desfibrilador com o refrão todo orelhudo e docemente interpretado por Ty Dolla Sign. O mito do sempre difícil segundo disco há muito que morreu. E qualquer reticência que existisse em cima de Vince Staples já se havia dissipado na forma de EP, com Prima Donna. Big Fish Theory será, quanto muito, o ponto de exclamação de um dos jovens rappers que menos medo tem de explorar os medos e as inseguranças…

Será esta a melodia do futuro? Ou o futuro já não é o que era?

 


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