Texto de

Publicado a: 28/05/2016

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[TEXTO] Rui Miguel Abreu

Heaven & Hell ***
Albedo 0.39 ****
Spiral *****
Beauburg *****
Direct***
Jon & Vangelis – Page of Life ***

O material de Vangelis que a Esoteric reeditou há um par de anos corresponde a edições que originalmente ostentavam a marca da RCA e Arista e abarca um período algo dilatado, sobretudo tendo em conta o output prolífico deste compositor, que se estende entre 1975 e 1991. Este lote de reedições, parte de um continuado esforço da Esoteric de recatalogar a obra de Vangelis (já reeditaram também álbuns dos Aphrodite’s Child, por exemplo), foi supervisionado pelo próprio autor e surge em versões remasterizadas, com novo artwork e, nalguns casos, com algum material extra.


 


 

Quando lançou Heaven & Hell em 1975, Vangelis já era um veterano, com forte notoriedade na Grécia, onde formou os Aphrodite’s Child, e na Europa, graças sobretudo ao seu trabalho no domínio das bandas sonoras (Sex Power, L’Apocalypse des Animaux ou Ignacio são alguns exemplos). Predominantemente instrumental, a música de Vangelis sempre se adequou a suportar imagens e Heaven & Hell haveria mesmo de fornecer o terceiro movimento de «Symphony to the Powers B» para tema principal da popularíssima série de televisão Cosmos que transformou Carl Sagan numa super-estrela. Por esta altura, Vangelis estava já estabelecido em Londres, tendo estreado o seu Nemo Studio com as gravações de Heaven & Hell. E, talvez inspirado pelo impacto da associação da sua música à criação televisiva de Sagan, a segunda criação nos estúdios Nemo era mais eletrónica explorando a temática espacial. «Pulstar», tema de abertura de Albedo 0.39, é o mais emblemático tema deste álbum em que Vangelis tocou todos os instrumentos.


 

https://www.youtube.com/watch?v=8UwGl0Yk_jU


 
Em meados da década de 70 discutia-se o «choque do futuro» tal como preconizado pelo filósofo Alvin Toffler, com os computadores e as telecomunicações a transformarem o mundo todos os dias. O que justificava a popularidade desta música eletrónica que fazia de gente como Vangelis, Jean Michel Jarre ou Tangerine Dream verdadeiros fenómenos de vendas. Spiral (1977) prosseguiu nessa tónica mais abstrata e eletrónica, com Vangelis a envolver-se completamente com as possibilidades oferecidas pela tecnologia, adotando aí aquele que se revelaria um instrumento chave na sua discografia, o sintetizador Yamaha CS-80 (que muitos outros músicos usaram abundantemente, de Brian Eno e Peter Gabriel aos Kraftwerk e Daft Punk). Esta edição de Spiral inclui material extra, a peça «To The Unknown Man (Part II)».


 

https://www.youtube.com/watch?v=okwi_ZQYlLs

https://www.youtube.com/watch?v=thkrzqPk-fM


 
Beauburg (1978) é provavelmente o mais avançado e refinado destes discos: totalmente eletrónico, é nitidamente mais experimental e mostra que Vangelis estaria mais interessado em explorar as suas ferramentas do que em fazer hinos para o grande ecrã. O facto de ser uma tradução musical do espírito do Centro Pompidou em Paris ajuda a explicar o seu carácter mais angular. Por oposição, Direct (1988) é, como o título aliás indica, muito mais direto, facto que também se explica por haver uma década inteira a separar os dois trabalhos. Por esta altura, Vangelis já tinha mudado a sua base de trabalho para a Grécia e adoptado uma nova ética de criação que passava por uma espécie de composição espontânea, mais directa, e daí o título. Há poucos «overdubs» neste material que acaba por ser mais contido, com menos peças longas.



 
Este lote conclui-se com Page of Life, a quarta colaboração de Vangelis com Jon Anderson dos Yes, grupo para que o músico grego chegou a ser considerado após saída de Rick Wakeman ainda nos anos 70. Sublinhando as raízes «prog» de ambos, o álbum é um festival de destreza vocal e instrumental. Mas em 1991, música eletrónica era uma expressão já com um significado muito diferente daquele que Vangelis ajudou a popularizar nos anos 70.

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Texto originalmente publicado na revista Blitz, em 2013.

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