pub

Publicado a: 21/11/2016

Valas: “Se fores bom, acabas sempre por ter visibilidade fora da tua cidade”

Publicado a: 21/11/2016

 

[ENTREVISTA] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Hélder White [VÍDEO] PEDRO SILVA

Valas, que anteriormente assinava por Johnny Valas, é um homem feliz e a aproveitar o bom momento na sua carreira, depois da assinatura com a Universal Music e o lançamento de “As Coisas”, que já conta com cerca de 600 mil visualizações. As mudanças são evidentes – ouça-se Raízes De Pedra editado este ano – e existe uma nova forma, bem patente no seu discurso, de olhar para a música, encontrando-se agora totalmente focado em lançar mais canções e o álbum de estreia pela editora.

O Rimas e Batidas foi até à loja Carbono para uma conversa com o rapper sobre a nova vida depois da assinatura do contrato, a cena hip hop em Évora e do Nobel da Literatura.

 


Comecemos pelas novidades mais recentes: como é que acontece a ligação com a Universal?

A ligação começou através da Internet. Começámos a falar, eles já tinham ouvido algumas coisas minhas em relação a Nébula e alguns projectos passados. Começámos a falar que tínhamos interesse em trabalhar juntos e reunimos duas ou três vezes até assumir essa conexão.

“As Coisas” é uma canção sobre mudanças. A assinatura com uma editora maior acarreta outras responsabilidades, certamente. O que é que vês a mudar?  

O profissionalismo, os métodos do trabalho, a organização e a seriedade acho que são os pontos principais e que fazem a diferença de ‘tar numa editora deste tamanho e não numa independente.

 


valas-1


O single faz parte de um longa-duração?

Sim, para o ano irá sair um álbum e até lá vou lançando alguns singles.

Tens vindo a trabalhar com Lhast desde o início – até têm o projecto Nébula em conjunto. O que é que ele tem que os outros produtores não têm?

Eu não quero entrar pelo campo do talento dele. Acho que é extraordinária a capacidade criativa e de produção dele. Temos um relacionamento muito bom um com o outro. Sempre que nos encontrámos em estúdio resultou bem. Ambos, trabalhando em conjunto, conseguimos chegar a um bom resultado. E acho que foi sempre isso que fez diferença nos nossos trabalhos. Conseguimos enquadrar-nos bastante um com o outro.

 


valas-3


Raízes de Pedra é o tributo a Évora. É também uma despedida de um estilo mais introspectivo e negro, por assim dizer?

Totalmente. O Raízes de Pedra é um álbum com muitas faixas já antigas e a minha intenção era deixar aquela musicalidade feita. E com o objectivo também do tal tributo ao Alentejo que já falei com vocês. Em termos de sonoridade, eu percebo essa mudança. Dedicar o álbum à minha terra deixar aquele passado, aquele trabalho feito, mas não quero dar continuidade. Quero novas coisas, novas experiências.

O público hip hop costuma ser duro com os artistas que deixam a independência para assinarem por uma editora grande, apesar de ultimamente as coisas estarem ligeiramente diferentes. Tens recebido feedback negativo?

A maioria é bom feedback. Acontece que há muita gente que não faz ideia o que é trabalhar com uma major e pensa que é um bicho-de-sete-cabeças, mas não é. Tens muitas pessoas que trabalham contigo, tens muito mais apoios e claro que tens que seguir uma certa linha de pensamento e objectiva diferente do que quando estás a planear algo a solo ou independente. Tens que seguir algumas dicas que te possam dar, filtrar algumas palavras, algumas coisas que por norma não irias fazer. Em termos gerais, só mudam as grandes condições de trabalho que tens. Acho que é o principal.

 


valas-4


Acho que faz sentido, apesar de serem de mundos diferentes, falar do prémio Nobel da Literatura ao Bob Dylan. Para alguém que também já editou livros, achas que os escritores de canções devam ser considerados para este tipo de prémios?

Acho que faz e eu pelo menos tenho essa ideia que um prémio de literatura deverá ser entregue a um escritor que teve influências nos jovens, na sociedade, etc… Se o Bob Dylan teve a mesma influência através das suas letras, acho que tem todo o direito de receber esse prémio. Sou fã dele, mais da letra do que propriamente da música e percebo perfeitamente o reconhecimento e a entrega do prémio este ano.

Se tivesses que escolher um rapper para ganhar o prémio Nobel da Literatura?

Andre 3000, muito provavelmente, e Kendrick (Lamar), que é cliché, mas tem que entrar.

Voltando às origens, quando é decidiste que era isto que querias fazer rap como profissão?  

A mim sempre me deu um prazer do caraças desde que comecei a fazer com os meus 14, 15 anos. Sempre me deu prazer fazer rap, escrever e cantar. Só tomei mais seriedade e decidi que iria fazê-lo mais tarde quando o feedback tornou-se maior. Comecei a ser ouvido fora da minha zona de conforto, do meu território, da minha cidade e, se calhar, fez com que desse uma motivação extra para evoluir e aprender.

 


valas-2


Quem foram as tuas principais influências em termos de rap?

Em termos de hip hop, Sam The Kid, VRZ, Fuse e Halloween foram, provavelmente, os rappers que mais me marcaram. Boss AC… Chullage também ouvi bastante apesar de não o meter no leque de influências directas.

Existe uma constante chamada de atenção para a questão dos media ignorarem os artistas fora de Lisboa. Para quem não não conhece o rap de Évora, o que é que se anda a passar lá em termos de hip hop?

Não se passa grande coisa (risos). Já há muito mais miúdos a fazer rap do que havia antigamente. Isso é bom. É sinal que há mais actividade. Acho que é a grande diferença do Alentejo para as outras zonas é que apesar de ser um território muito grande tem muito pouca gente, poucos jovens. Comparado com Lisboa.Se tu fores rapper em Almada, tens muito mais gente a ouvir na tua rua do que eu tenho na cidade inteira. O território é maior, mas tens menos pessoas. Menos convívio, menos oportunidades.

Achas que o teu exemplo vai ajudar a abrir as portas aos MCs de Évora?

Espero que sim. Hoje em dia com a Internet tens a visibilidade. Se fores bom, acabas sempre por ter visibilidade fora da tua cidade. Mas espero que seja um exemplo para os miúdos que gostam de fazer rap e que gostam de escrever. Que nunca percam a vontade e que há um futuro.

E agora? Qual é o futuro que se desenha para o Valas?

Um single, vem mais um single. Não te vou dizer com quem estou a trabalhar porque não sei o que vem a seguir. Tenho um trabalho com o Slow J – que supostamente era para Nébula -, tenho outro single produzido pelo J-Cool. Estou a trabalhar em algumas coisas, mas não sei qual será a próxima. Isto tudo sempre a envolver sempre o objectivo de se tornar um álbum.

 


pub

Últimos da categoria: Entrevistas

RBTV

Últimos artigos