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Um sonho alentejano: contado ninguém acredita

[TEXTO] Núria R. Pinto [FOTO] Paulo Dos Passos / Antena 3

Passaram três dias desde que voltei de um passeio pelo Alto Alentejo e continuo com aquela sensação de ter algo atravessado na garganta. Uma espécie de urgência que não passa, em dizer a toda a gente algo tão simples como “vocês não estão mesmo a perceber o que aconteceu”.

Portugal tem mais de 250 festivais de música por ano. É à escolha do freguês, para o bem e para o mal. Se em 2018 o freguês quer rap vai encontrá-lo, inevitavelmente, em qualquer festival de grande ou média dimensão. E isso dá-me alguma preguiça porque, muito sinceramente, não quero gastar o meu subsídio de alimentação do mês num fim-de-semana, para ver dois artistas que quero muito,num cartaz de dez. “Ó Núria, não sejas velha, descobres sempre cenas fixes”. Está certo. Mas vão vocês; eu ouço no Spotify.

Melhor, tenho uma ideia: vamos todos para o Alentejo que lá há campo com fartura, fugimos o mais possível das praias de mar ou do asfalto ao sol e trocamo-los pelas praias fluviais e uns sobreiros a fazer sombra. Desligamos os telemóveis (acreditem que ao quarto dia já não custa assim tanto e depois podem publicar as stories todas quando voltarem) e levamos pessoal para nos dar música.

Não é preciso muito. Imaginei algo do tipo: Sacik Brow, Kristóman, Alcool Club, Gijoe, Piruka, Mishlawi, GROGNation, Phoenix RDC, Cálculo, Nel’Assassin, Slow J, Kappa Jotta, TNT, DJ Kwan, Mundo Segundo, Sam The Kid, Dillaz, Eva Rap Diva, Holly Hood e Stereossauro. Nada de muito especial.

Pagamos 1€ pela cerveja e se estiverem numa de querer algo mais classy, aquele copinho de tinto alentejano também não vos vai assaltar a carteira. Protector solar e repelente são obrigatórios mas também não é isso que nos impede de ser felizes.

“Ah, mas isso é só hip hop!”

É. Ou melhor, não é. Na verdade é só rap e DJing. Hip hop seria se levássemos também um writer e uns b-boys para a coisa ficar completa e, sinceramente, sinto-me melhor se não pedir muito porque vai que a ideia não passa do papel.

Temos mais que nomes tanto para rebentar com os “putos” todos como para fazer os graúdos da plateia engolir o poder e a qualidade da nova escola. Temos MCs sem falinhas mansas e outros a ganhar aquela gente toda no freestyle, só assim à “Lady Boss”. Temos aqueles que rebentam com qualquer definição onde queiramos amarrar o género e claro, os veteranos, reis e imperadores só para confirmar que toda a gente cresceu (e ainda cresce) a ouvi-los e que não era possível, nem que se matassem todos, chegar até aqui sem eles.

“Mas aquilo que estás aí a imaginar é SÓ o primeiro festival de hip hop tuga!”

Sim. E em melhor ainda porque não há filas e conseguem estar à vontade num espaço com 2000 pessoas por dia, embora não vos consiga prometer que se safem no mosh…

Mas no final do dia garanto-vos que não iriam encontrar vivalma indiferente ao que um festival destes representaria: mais do que a distância percorrida desde bairros ou grandes cidades até à profundidade alentejana é a distância temporal que rappers, DJs e produtores iriam perceber ter percorrido até chegar a este marco histórico.

Tanta ideia boa e quase me esquecia: tudo isto aconteceu, de 2 a 5 de Agosto, em Comenda, Gavião. A casa do hip hop tuga é uma moradia alentejana.

 


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