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Publicado a: 24/11/2015

Um caso de humildade e perseverança. Foi real hip-hop no Clube Ferroviário

Publicado a: 24/11/2015

[TEXTO] Luís Afonso [FOTOGRAFIAS] Margarida Macedo

 

Estranheza, por norma uma noite de hip hop faz-se anunciar ao longe. Com o barulho de vozes e risos à volta de garrafas por terminar e nuvens de fumo adocicado. No último sábado, para o norte-americano Tableek, Praso e Beware Jack, afigurava-se uma noite aparentemente comum nas imediações do Ferroviário. Será por causa da noite fria? Avançamos pela escadaria deserta, para quebrar as dúvidas, e constatamos o piso principal magramente pintalgado. Eram 23h, DJ Figa está atrás da mesa de mistura.

No terraço, o bar exterior nem teve motivação para abrir. Ao longe o rio sussurra uma maré de vês contínuos, desenhados pela ventania, vão circulando laconicamente, como a afirmação de Beware Jack, de volta ao andar de baixo. “Não sei se sou eu ou o Praso primeiro – eu queria é que isto enchesse mais um bocado…”. Não encheu, mas os presentes foram capazes de, com os seus corpos e vozes, aquecer um ambiente sobre o qual começávamos a temer.

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Em resposta à dúvida de cima: nenhum foi primeiro – tivemos antes uma versão deluxe das duas actuações, com Praso e Beware Jack juntos em palco. Não passavam muitos minutos da meia-noite. “Eu tenho calma/ Mas não me levem a alma (…)”, rima o MC da família Álcool Club, do som que dá nome ao álbum Alma&Perfil, depois Beware explica “O Que Faz Falta”, do disco O Mundo É Meu.

Tableek, indivíduo de afabilidade rara, contou-nos, numa conversa que brevemente verá na integra a luz do dia, aqui neste vosso espaço, a razão de ter ficado sozinho em Portugal, depois de o seu staff regressar aos Estados Unidos, que está relacionada com a sua vida pessoal e é a causa do clássico rapper de Brooklyn referir que Portugal “é um dos meus lares”. Conversámos, igualmente, sobre os seus primórdios nas rimas com a crew Maspyke, da predileção por andar constantemente em tour, o que culmina em sendo o modus operandi para quem vive como músico independente. Via pela qual sairá o seu próximo álbum, outro dos objetos da nossa conversa, gravado num país europeu com produção exclusiva de um produtor desse país, sobre o qual o rapper afirma constituir “um degrau a cima” relativamente ao seu primeiro registo, “oficial, digamos”, Hunting Bald Eagles… And Other Ghetto Tales, editado em 2014. Isto, acompanhado em profundidade pelos sons jazzy de Praso e Beware Jack como “Qualquer Coisa E Um Pouco De Jazz” ou “À Boleia” e o scratch de DJ Sahid (Mafia do Caril).

Tableek

A noite já era adolescente, duas da manha, quando o rapper norte-americano tomou o palco, depois de ter entrado também MLK durante a atuação anterior, o Mau Aluno da margem sul que, segundo Beware, “foi o melhor rapper de 2015 – eu vejo a cena por anos”. Acompanhado por DJ Figa, Tableek faz uma contundente apresentação do disco Hunting Bald Eagles… And Other Ghetto Tales que se encontrava também em cassete na pequena mesinha de venda onde o rapper passou parte da noite, e onde também deitávamos olho à discografia de Maspyke, que nos era oferecida através de cartões com códigos para download.

 


 

 


Loops com uma cadência hoje fora de moda e flow, estilo dos primórdios, a essência do que Tableek apresentou em Sta.Apolónia, sob a vigilância grotesca dos contentores de mercadorias e do rio a espreitar pelo canto do olho nas janelas. Com malhas como “Game Over”, a iniciar, “Monie$”, “Rulez” ou “Coco Wins”. Numa actuação curta, que culminou com o MC de NY a perguntar se havia congéneres na plateia e a providenciar o beatbox aos candidatos, que não lograram em variedade: rap crioulo, o rapaz de camisa cor-de-laranja que também fez beatbox para Tableek improvisar, drunk style – o rapaz fazia lembrar o Johnny Gumble a rimar, e até um dos trabalhadores do bar do Ferroviário lá foi. Uma ode ao rap underground, num club português, ainda com o corte e costura de DJ Figa que fez os corpos oscilarem madrugada adentro ao som da batida que nos une.

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