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Publicado a: 07/08/2017

This is (not) a man’s world

Publicado a: 07/08/2017

[TEXTO] Francisca Cunha [FOTO] Pedro Mkk

“This is a man’s world

This is a man’s world

But it wouldn’t be nothing

Nothing without a woman or a girl” 

– James Brown, “It’s a Man’s World”, 1966

Uma das grandes tarefas dos criativos na actualidade é manter as suas crenças, especialmente quando estas são restritas por parâmetros e regras construídas pela sociedade e pelos media ao longo dos anos. No entanto, estas normas estão prontas para serem deitadas a baixo ou contornadas, criando todo um novo mundo com novas ideias para serem exploradas. Estas ideias consistem em apurar conceitos de feminismo e womanhood.

Observando para além dos ideais de beleza impostos pela sociedade, as normas de género e os clichés relacionados com a identidade pessoal, há cada vez mais record labels e crews a gerar visibilidade e unicidade em torno das questões das mulheres e da sua postura no mundo da música. Sendo um tema muitas vezes excluído por falta de conhecimento do que realmente se passa neste backstage, várias iniciativas são criadas para dar empowerment à cena feminina no âmbito da música electrónica. Exemplos como Sade, Björk ou Tokimonsta, entre outras, são a prova de que o sucesso não tem que olhar a géneros. No entanto, se colocarmos os representantes masculinos e femininos do mundo da música numa balança, o lado Y ganha.

 



Por incrível que pareça, a mulher, por ainda ter uma conotação tão sensível e frágil, é posta de lado logo à partida, menosprezada e objectificada. Uma artista feminina tem de lutar pela sua credibilidade e pelo seu reconhecimento e construir todo um currículo de factores que a farão ser reconhecida como tal. Na indústria da música, tal como na maioria das profissões, a mulher tem uma dificuldade imensa em ganhar o sucesso devido e/ou o respeito que merece sem ser sujeita a estereótipos de género. Olhemos para os line-ups de festivais como prova, por exemplo. A discrepância de nomes femininos e masculinos ainda é notável no século XXI. É um facto que ainda há muitas mulheres a subirem nas suas carreiras artísticas pelo seu aspecto físico e muitas usam isso como bengala para se levantarem.

Embora o tema da “mulher na música” já tenha percorrido um longo caminho para chegar ao panorama presente , ainda há muitos pontos que geram a diferença entre géneros na música. Há uma necessidade de aceitação num mundo em que a competição é escassa o que resulta numa grande insegurança em avançar. Há uma sisterhood em falha entre artistas femininas quando a união resultaria em força e não em competições forçadas e desdém. Fora sexismos, a verdade é que a mulher cresce sem qualquer estimulo para assumir posições de liderança, de se destacar, de chamar a atenção. Numa sociedade ainda sexista como a que vivemos, educamos meninas a terem a sua preocupação focada no vestido, na boneca ou na sua aparência, e tal não estimula o profissionalismo desde o início num possível interesse numa carreira musical. O factor da igualdade no pagamento de um artista feminino e masculino começa exactamente na diferença de auto-estima e confiança no próprio género. É um facto geral que são poucas as profissões em que o pagamento seja totalmente igualitário entre homens e mulheres e a música não foge à generalidade. É ainda um factor de luta de igualdade no pagamento entre artistas de diferentes sexos. Actualmente o quadro muda de figura e cada vez mais se vê mulheres a assumirem posições que outrora eram maioritariamente masculinas. Já se ouve mais vozes femininas no rap e mulheres DJs. Há labels fundamentalmente femininas a lutarem por uma igualdade neste meio e a a crescerem com o intuito de promoverem as artistas. Há uma voz que se começa a sentir cada vez mais forte.

 



É sim um mundo de homens, mas também de mulheres. É um mundo de gostos contra gostos mas não de géneros contra géneros. Se fecharmos os olhos não conseguimos aplicar um género masculino ou feminino a uma produção musical. A avaliação de um produto não tem que passar pela análise de sexos e sim pela sua qualidade. O facto é que nenhum artista quer trabalhar com alguém com base no seu ADN mas sim com alguém com quem este se identifique artisticamente sem preconceitos de raça, género, orientação sexual e/ou religião.

Saberemos que finalmente atingimos a igualdade quando não tivermos de apelar a ela. A palavra a Min (PT/ESP, Monster Jinx), Nídia (PT/FR, Príncipe Discos), Unos (BE, Darker than Wax) e Mina (UK, Enchufada).

 



Como é que os outros te vêem como uma mulher DJ/produtora?

[Min] É uma pergunta algo difícil de responder. Também gostava de saber como me vêem. E como me vêem como DJ, não como mulher DJ. Não deveríamos ser julgadas dentro do nosso género e acho que ainda acontece um pouco.

No geral, tenho reacções positivas aos meus sets e programas. De algumas pessoas, a reacção é de surpresa porque não esperam que saiba passar música e misturar (não que misturar seja a epítome do bom DJing, na minha opinião). Mas não me posso queixar, não acho que tenha sofrido na pele muita desigualdade. Aparte de alguns episódios de mansplaining e talvez não ser tão considerada para alguns eventos como poderia, tudo tem corrido bem.

De uma forma generalizada, há cada vez mais DJs mulheres e produtoras cheias de talento mas essa crescente ainda não se reflecte a 100% nos alinhamentos de festas, festivais, listas e playlists. Mas aos poucos, o cenário caminha para um maior equilíbrio.

[Nídia] Não sei bem dizer, mas penso que me vêem como uma mulher que tem advantages (vantagens) no mercado da música só por ser mulher DJ/produtora. Eles (homens) dizem que é mais fácil por ser mulher.

 



Qual é o teu ponto de vista em relação ao sucesso de uma carreira Mulher vs Homem?

[Unos] O sucesso pode ser tantas coisas para alem do género de cada um. Estereotipando, o homem cresce com uma base educacional sustentada na carreira e no sucesso profissional enquanto que a mulher tem uma educação mais orientada para a família. Em primeiro lugar, conheço bastantes homens que vêm as suas vidas tão realizadas e completas tendo uma família feliz, como conheço muitas mulheres que têm como principal ambição serem as melhores na sua carreira. Em segundo lugar, uma coisa não impede a outra. Pelo contrário, penso que ter uma família feliz pode ser o grande impulso para se ter sucesso profissionalmente e desenvolvimento pessoal, e ser bom na própria profissão pode ajudar no bem-estar físico e emocional de uma família. Tudo depende da pessoa em questão e dos seus valores pessoais.

Uma vida equilibrada é, para mim, o equivalente a sucesso. O crescimento pessoal a nível emocional e profissional, trabalhando as nossas aspirações, passando tempo de qualidade com aqueles que gostamos e nos preocupamos e, não esquecendo claro, o amor próprio.

 



Quais são as tuas influências para existires como mulher no mundo da música?

[Mina] Creio que são os meus amigos e raparigas pelas quais eu me faço rodear como a Tash LC, DJ Chin e a Svani. Mas também houve muitos homens que me encorajaram e me deram muita confiança e apoio, como por exemplo o Lorenzo BITW e Ahadadream. Ah! E também a Emily Dust e Jamz Supernova.

 


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