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Publicado a: 29/03/2018

TEMPEST: “A intenção foi sempre criar algo o mais único que conseguisse”

Publicado a: 29/03/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Direitos Reservados

Para o mais comum dos mortais, palavras como “frustração” e “insatisfação” são parte do vocabulário recorrente. Quando falamos de criação artística, o cenário tende a piorar: relembre-se Dr. Dre, por exemplo, e o mítico Detox, álbum que nunca chegou a ser lançado. Reza a história que tentou limá-lo tanto que acabou por se esquecer do impulso inicial, perdendo todos os estímulos que o acompanhariam até ao final do processo.

A introdução leva-nos até Unfulfilled, o EP de estreia de TEMPEST. O produtor do Porto traduziu essa sensação de impotência em seis canções que vão buscar algo ao techno, house, hip hop, footwork ou jazz. MF DOOM, Deltron 3000, Gorillaz, Daft Punk e James Blake são as referências assumidas, mas existe outro nome que saltita na nossa mente enquanto ouvimos o projecto: Nosaj Thing.

A música do EP lançado pela editora XXIII poderia (e deveria) servir de cartão-de-visita para o universo sónico de Nuno Matos. Porém, não quisemos perder a oportunidade de saber mais sobre o promissor produtor de 24 anos e estivemos à conversa com ele sobre o conceito de Unfulfilled, o material que utiliza para produzir ou o início do seu percurso.

 



[O DESENVOLVIMENTO DO EP] 

“O projecto é algo que já estava na minha cabeça há algum tempo. Comecei a desenvolvê-lo há cerca de dois anos e comecei a trabalhar no EP mais especificamente há um ano. Foi um processo um bocado mais demorado do que estava à espera inicialmente, mas que devido a procurar seguir uma linha mais ‘natural’, em termos de criação e pensamento, foi de certa forma justificado.”

 

[O CONCEITO] 

“O conceito inicial era tentar fugir ao máximo ao género. Queria criar algo que não fosse possível encaixar num género ou num só género. Ao mesmo tempo fazer um trabalho muito concreto e com linhas bem definidas e que não fugissem à essência electrónica que queria dar ao EP. Aproveitar de certa forma elementos que encontras nas várias vertentes da cena electrónica, desde o dubstep e footwork ao techno e ao house e misturá-los com as influências que retirei de experiências mais recentes que estavam ligadas a coisas mais clássicas, ao jazz, ao hip hop e tudo que daí advém. Por isso é que há uma faixa como a ‘Misfit Hills’ a evoluir para uma como a ‘ABDTBL’ (A Beautiful Day To Be Lonely). A intenção nunca foi gerar um cartão-de-visita embora tenha presente que o EP o é, e vai ser. A intenção foi sempre criar algo o mais único que conseguisse sem fugir ao que queria que ele fosse. Se o trabalho for visto como isso, então sim, é um cartão-de-visita.”

 

[O TÍTULO E O ESTADO DE ESPÍRITO] 

“É algo que carrego comigo e que também é um estado de espírito que as faixas carregam. Acho que é algo inerente à condição humana. A busca por um preenchimento que no fundo não queres encontrar. E como sei que é algo que vai estar presente em qualquer coisa que faça, fez sentido que o início do percurso começasse por aí, pela identificação de algo que estará sempre presente.”

 

[O INÍCIO DO PERCURSO COMO PRODUTOR MUSICAL]

“Creio que foi quando fui exposto à cena da produção musical. Quando percebi que conseguiria fazer algo que queria mas também como queria. Se não fosse assim provavelmente não tinha feito este EP. Acho que toda a gente tem uma forma de expressar aquilo que sente, sendo através de vias mais ou menos comuns, a minha simplesmente seguiu este caminho por ser aquele com que mais me identificava. Quanto à sonoridade, espero com o tempo conseguir criar aquilo que mais me motiva em tudo isto — uma sonoridade muito própria e característica. E principalmente fazer algo que ainda não tenha sido feito.”

 

[O MATERIAL UTILIZADO PARA CRIAR MÚSICA]

“Queria ter alguns elementos gravados com instrumentos ‘reais’ e para isso usei Korg microKorg, um Volca Sample, uma guitarra eléctrica e um baixo eléctrico. Depois juntei a isto também uma variedade de VSTs.”

 

[AS REFERÊNCIAS E O MICROFONE]

“Alguns dos samples vocais que usei no EP foram gravados por mim. Mas, para já, é algo que não tenho em mente, sem ser no contexto em que os usei no EP. No entanto, a ideia é no próximo trabalho já ter vozes de alguns convidados. Também já tenho alguns projectos a correr nesse sentido numa vertente mais próxima do rap, que muito provavelmente ainda serão publicados este ano.”

 

[O CONVITE PARA ENTRAR NA XXIII]

“Foi um processo bem natural que já tem um ano. Primeiro contacto: combinámos uma cena para lhes mostrar o que tinha e surgiu o convite. Não há ‘história’ por trás. Mas felizmente, durante o ano que passou tive a oportunidade de desenvolver relações bastante próximas com o Tiago e a Kika (XXIII) e acabaram também por me influenciar imenso no processo.”

 


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