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Publicado a: 07/12/2015

Talib Kweli no Ministerium: a consciencialização como prioridade

Publicado a: 07/12/2015

[TEXTO] Manuel Rodrigues

É normal que os acontecimentos trágicos de Paris ainda nos abalem a memória quando nos dirigimos a espaços fechados para assistir a concertos. O efeito de proximidade não deixa de ser fundamental neste tipo de situações, bem como o ambiente de lazer em que a tragédia teve lugar. É também por isso normal que os próprios músicos, que passam a vida a viajar, visitando diferentes países e culturas, não se sintam completamente imunes ao que aconteceu, pois é a ocasião que faz o ladrão de vidas. E foram mais de uma centena as que o infortúnio ceifou.

O longo discurso de Talib Kweli, sábado, no espaço Ministerium, sensivelmente a meio do concerto, teve origem na questão racial que actualmente abala os Estados Unidos da América (não terá sido sempre assim?), utilizando como mote o slogan “black lives matter” e relembrando que antes dos artistas da actualidade terem focado os seus discursos nesta temática já os seus Black Star o tinham abordado, mas rapidamente desaguou no fantasma sem cara que no presente não dá descanso à Europa: o terrorismo, sublinhando que este não tem feição, religião ou raça e que se estende do Oriente ao Ocidente, sem qualquer tipo de discriminação. Talib Kweli e a consciencialização como prioridade.

A noite não podia ter sido mais apoteótica, com o anfitrião a percorrer os seus 20 anos de carreira, celebrados no presente ano, com temas em nome próprio, onde não faltou um mergulho no clássico “Get By”, banda sonora de uma geração, passagens pelo legado dos Black Star, com o imponente “Definition” a ser entoado em uníssono, e ainda homenagens aos falecidos Sean Price e J Dilla. Houve ainda tempo para uma visita a “Lonely People”, cover do tema “Eleanor Rigby” dos Beatles, que Kweli fez questão de dedicar aos solteiros, momentos depois de ter interpretado “Never Been In Love”. Uma questão de justiça, pois claro.

Da sua história mais recente, o artista trouxe o estrondoso single “Every Ghetto”, retirado do álbum Indie 500 que fez em conjunto com 9th Wonder, que, como seria de esperar, levou o público ao êxtase, não poupando esforços na hora de balançar o braço e acompanhar com coros o sample que sublinha com mestria o instrumental onde se deitam as vozes de Kweli e Rapsody (não será este um dos melhores temas hip hop do ano que corre?). Passado e presente em harmonia numa noite que, em toda sua plenitude, foi coerente a nível cronológico: se o warm-up trouxe clássicos como “N.Y. State of Mind”, “Gravel Pit” e “Shimmy Shimmy Ya” à pista de dança, os momentos que se seguiram ao concerto foram de celebração ao som de “Alright” de Kendrick Lamar. Um festão.


 

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