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Publicado a: 07/10/2015

Steve Moore: em discurso directo sobre Cub e Shape Shift dos Zombi

Publicado a: 07/10/2015

[ENTREVISTA] Rui Miguel Abreu [FOTOS] Shawn Brackbill / Direitos Reservados

 

Steve Moore é o porta voz dos Zombi, projecto que mantém com A.E. Paterra e que acaba de lançar Space Shift na Relapse, quinto álbum de uma aplaudida e pioneira carreira que se posicionou no terreno imaginário existente entre a música que os Goblin e John Carpenter criaram para cinema de ambos os lados do Atlântico entre meados dos anos 70 e meados dos anos 80. Apesar de ser uma etiqueta de metal, a Relapse provou entender de onde vinha este duo de Pittsburgh que se inspirou no lado menos celebrado de uma certa cultura cinematográfica que nos anos 90 só estava ao alcance de quem ousasse procurar nas mais remotas prateleiras dos vídeoclubes, antes da explosão digital dos DVDs e da internet terem escancarado as portas do passado. Com baixo, bateria e o que soa a uma montanha de sintetizadores, os Zombi construíram uma sólida discografia que se há uns anos atraía a curiosidade de quem navegava nas águas do cosmic disco, hoje concentra atenções dos inúmeros soldados do gigantesco exército que pegou em sintetizadores e criou uma activa e entusiasmante cena musical subterrânea. Ao mesmo tempo que lança o novo trabalho dos Zombi, Steve Moore, que tem conhecido uma agitada carreira nos últimos anos com edições para muitas etiquetas de referência (da Death Waltz à Ghost Box, passando pela Spectrum Spools), apresenta igualmente na Relapse a sua banda sonora para o filme Cub, produção belga de 2014 que marca a estreia do realizador Jonas Govaerts e que angariou significativos aplausos da crítica especializada. Ao Rimas e Batidas, Steve Moore falou sobre os Zombi, sobre o seu trabalho em Cub e, claro, sobre alguns dos seus sintetizadores favoritos.

 


Escape Velocity foi lançado em 2011 e no mundo da música electrónica quatro anos é muito tempo. O que aconteceu neste espaço de tempo que possa ter influenciado a vossa abordagem à feitura do novo álbum?

Nós fizemos uma pausa não oficial. Eu e o Tony (A.E. Paterra) vivíamos a umas centenas de quilómetros de distância e não nos víamos com muita frequência – o último par de discos foi escrito por email. Andávamos ambos a trabalhar muito e estávamos envolvidos noutros projectos musicais ao mesmo tempo. Zombi tornou-se, para nós, uma espécie de projecto electrónico paralelo, ao invés de ser a nossa banda a tempo inteiro. Em Dezembro de 2013, tivemos a incrível oportunidade de ir umas semanas em digressão com os Goblin e a reacção do público foi extraordinária. Isso convenceu-nos a voltarmos a trabalhar juntos, a criarmos música nova, tal como fazíamos nos primeiros tempos – um duo básico de bateria e baixo com sintetizadores a preencher as lacunas.

Em termos de produção, introduziram novas ferramentas na criação do LP Shape Shift?

Uma quantidade considerável de novos sintetizadores. Bem, velhos sintetizadores mas que foram por nós comprados recentemente: Yamaha CS-30, Roland System 100M. Muitos string synths diferentes – ARP SE-IV (Solina), Logan String Ensemble II, Multivox MX-202, Siel Orchestra 2. Além disso, também eu passei do Fender Jazz Bass para um Rickenbacker 4003 e dediquei mais tempo a experimentar com diferentes tonalidades no baixo.

 



Quando vocês se iniciaram na música, no início deste século, há muito que não se falava de Goblin. John Carpenter ainda estava ocupado com a sua carreira cinematográfica e decerto nem sonhava com uma carreira no mundo da música, ninguém editava bandas sonoras de filmes de terror. Vocês sentem-se responsáveis por terem ajudado a alterar este cenário?

Não, nós não aceitamos créditos por nada disso. Em 2001, os Goblin escreveram a banda sonora do Non Ho Sonno do Dario Argento, que é um score fantástico e continua a soar a Goblin clássico. No mesmo ano nós começámos a actuar como Zombi. A única diferença é que na altura se tinha que ser um fã obstinado de filmes de terror para se saber estas coisas. Isto era antes do Facebook, do MySpace e de todas as outras redes sociais. Logo, a menos que consultasses regularmente os clubes de vídeo ou frequentasses cinemas independentes, facilmente deixarias de estar a par das novidades. Eu acredito que este interesse renovado pela música dos filmes de terror está ligado ao surgimento das redes sociais. A proliferação de blogues de música e da partilha de conteúdos pode ter prejudicado muitos artistas nos anos 2000s, mas ao mesmo tempo permitiu que bandas como os Goblin e compositores de bandas sonoras como Fabio Frizzi conseguissem alcançar uma nova audiência. E abriu portas para que actualmente seja possível fazer tours regulares e esgotar grandes concertos em todo o mundo.

 



Vocês fizeram uma digressão com os Globin há algum tempo. Certamente têm muitas histórias do backstage, experiências partilhadas. Consegue revelar algo que possa ter aprendido acerca desses mestres italianos do terror?

Foi realmente um sonho tornado realidade actuar com os Globin. Eles são músicos fantásticos e pessoas incríveis, muito dadas. Mas o que acontece na tour fica na tour. Tudo o que eu posso adiantar é que se alguma vez tiveres oportunidade de jantar com a banda, não os leves ao Denny’s (uma cadeia de restaurantes americanos)…

Em relação à VCO: como é feita a gestão da editora, o que pensam considerar para os novos lançamentos?

A VCO é actualmente um projecto adormecido. Dedicámos muito tempo à editora enquanto os Zombi estavam inactivos. O conceito da VCO era lançar música criada pelos nossos amigos – a determinada altura acabámos por diversificar e aceitámos algumas demos, mas nos primeiros dois anos de existência a editora era essencialmente composta por lançamentos de pessoas que eu conhecia de Nova Iorque ou músicos que descobri online e com os quais entrei em contacto através das redes sociais.

Ao mesmo tempo que os Zombi lançaram o LP Shape Shift, o Steve também disponibilizou a banda sonora de Cub através da Relapse Records. É uma banda sonora bem sinistra para um filme verdadeiramente assustador. Essa carga densamente negra é inspirada apenas pelo filme ou reflecte a sua própria natureza?

O Cub é um filme com intensamente negro e isso serviu certamente de inspiração para criar a música. Mas todos nós temos um lado negro e penso que o que faz um cineasta ou um compositor de sucesso é ter a capacidade de canalizar essa escuridão para criar algo que ecoe na audiência. Tenho tentado afastar-me desse lado pesado com a minha música a solo, aspirando por uma maior diversidade de sentimentos ou mesmo por um estímulo terapêutico. Nesse sentido produzir bandas sonoras para filmes de terror tem algo de terapêutico para mim, por ter a capacidade de exorcizar esses sentimentos. Embora possa ser desgastante, viver dia e noite no universo destes filmes, porque depois há que deitar os filhos na cama à noite.


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Se os projectos certos chegarem, certamente que considerarei trabalhar com Hollywood.
– Steve Moore


Consegue imaginar-se no futuro a trabalhar como compositor para produções de Hollywood?

Se os projectos certos chegarem, certamente que considerarei trabalhar com Hollywood, embora pense que ainda tenho uma longa estrada a percorrer antes de chegar a esse nível.

Há algum teclado que o tenha acompanhado mais tempo do que outros?

O meu Korg Polysix. Foi um dos primeiros  sintetizadores que comprei e tenho-o usado em practicamente todas as gravações que fiz. Não consigo viver sem ele.

Consegue nomear, para além desse, dois ou três sintetizadores que estejam entre os seus favoritos?

Sou um apaixonado por synths de strings antigos, tenho vários exemplares raros. Tenho um Freeman que é muito interessante mas pouco prático. Creio que o Elka Rhapsody 610 e o Crumar Orchestrator são outros dos meus favoritos.

Pode também nomear duas ou três bandas sonoras que tenham a capacidade de ser uma constante inspiração para si?

Halloween III: Season of the Witch, de John Carpenter; o The Terminator, de Brad Fiedel e Zombi 2, de Fabio Frizzi.

Carpenter participa no novo álbum de Jean-Michel Jarre. Também gostaria de trabalhar com ele ou é melhor apreciar os heróis à distância?

Seria um sonho tornado realidade trabalhar tanto com o JC como com o JMC, eles são duas das minhas maiores inspirações. Antes de ter conhecido e de ter actuado com os Goblin talvez pensasse que os heróis se apreciam melhor à distância, mas há tanto que se pode aprender com eles quando se conhece a pessoa por detrás do músico. Eu seria feliz se simplesmente pudesse beber um copo com o JC ou o JMJ.

 



Explorou outros registos com projectos como Miracle, por exemplo. O que planeia fazer no futuro próximo além de Zombi?

Miracle tem vindo lenta mas seguramente a trabalhar em novo material e já há algum tempo que ando para aqui a ameaçar fazer mais coisas como Lovelock. Mas por agora tenho estado demasiado ocupado com bandas sonoras para conseguir trabalhar noutra coisa qualquer. Vou dar uns quantos concertos em Los Angeles no final deste mês e depois vou entrar em tour pelos Estados Unidos com os Zombi, em Novembro. Depois disso adoraria trabalhar num novo projecto a solo. Ou talvez procrastinar e dedicar-me a ver muita televisão.

Já que andarão em tour, pensam vir actuar à Europa?

Temos esperança de conseguir fazer uma curta tour europeia, no próximo ano.

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