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Publicado a: 19/04/2015

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Os mais ligados a videojogos talvez conheçam o nome de Soichi Terada ou, pelo menos, a música que assinou para a série Ape Escape da Sony, lançada em 1999. Antes disso, Soichi Terada fazia house e breakbeat na sua editora Far East Recording.

São desse arquivo as 12 faixas na colectânea da holandesa Rush Hour, editora/loja de discos que assim continua a resgatar do esquecimento música extraordinária do passado. Não que os anos 1990 estejam assim tão longe mas, claramente, e como a mesma Rush Hour mostrou antes em reedições como Dream 2 Science ou Burrell Brothers, por exemplo, têm os seus mistérios, mesmo para quem esteve lá.

A Far East Recording, embora relativamente obscura, tem bastante crédito no circuito de diggers mas os seus discos não são propriamente fáceis de encontrar, muito menos em vinil, o que reforça o interesse desta edição dupla. O que agarra aqui é a forma como as influências de deep house e garage americanas passam pelo filtro nipónico e são devolvidas com brilho extra. O Japão foi um território muito fértil na electrónica dos anos 90 – do hip hop dopado de DJ Krush ao acid jazz elegante de United Future Organization à pop retro futurista dos Pizzicato Five – e daí a grande diversidade de estilos e referências, mas uma impressão digital japonesa de meticulosidade, nunca apagada.

Isso também acontece aqui, quer na música assinada por Soichi Terada, quer nas duas faixas creditadas a Shinichiro Yokota, outro fundador da editora. Sobre a matriz deep house original, Terada constrói a sua versão, luminosa e divertida, incrivelmente cuidada e sofisticada do ponto-de-vista da produção. O flow rítmico é suave e envolvente – mesmo quando o tom é brincalhão -, aponta à pista, mas não se impõe e dá espaço para melodias que se colam a nós. Da repetição do sample de Alexander O’Neal e Cherelle sobre beats saltitantes em “Saturday Love Sunday”, à antecipação dos jogos de computador de “Hohai Beats” ou “Good Morning” , destacando obviamente a recuperação de “Sunshower” , uma produção de 1999 de Terada com a cantora Nami Shimada, que Larry Levan tornou clássico do Paradise Garage, todo o disco é bem-disposto, com twists de jazz, soul e disco, entre a deep house e o breakbeat.

Pensem Masters at Work e Mr Fingers com o melhor do que nos anos 1990 se chamava lounge/chill out e hoje leva o rótulo baleárico. Dá vontade de ouvir para fazer de conta que tudo é perfeito e estamos numa praia tropical com pôr do sol glorioso (mesmo que pixelizado).

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